quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Segundo Samuel

1
1-27
Temos aqui uma versão sobre a morte de Saul (cf. 1Sm 31). O respeito de Davi por Saul e sua amizade com Jônatas fazem que as tribos do Norte o aceitem mais rapidamente como o rei (cf. 2Sm 5). A lamentação é provavelmente obra do próprio Davi e se apresenta como um dos mais antigos poemas da Bíblia.
2
1-7
Com a morte de Saul, Davi consegue a realeza sobre a tribo de Judá. Os vv. 5-7 mostram que ele procura, desde o início, ampliar o poder slém das fronteiras de sua própria tribo. 
8-32
Torna-se cada vez mais clara a oposição entre as tribos do Norte e a tribo de Judá. Com ela também a medição de forças entre Joab, partidária de Davi, e Abner, partidário da família de Saul. A intenção de Asael é, provavelmente, não perder de vista Abner, para que a tropa que vem atrás possa prendê-lo, desmoralizando o exército inimigo. O episódio mostra uma atitude de bom senso, pois os comodantes notam que se trata de uma luta entre irmãos. (vv. 26-27).
3
1-5
Aqui são nomeados somente os primogênitos de cada uma das esposas. Mais tarde, todos eles irão competir para suceder ao pai.
6-39
O episódio salienta mais uma vez a tática de Davi para conseguir o poder sobre todo o Israel: ele não quer usar a violência e o derramamento de sangue, mas o acordo pacífico. 
4
1-12
Isbaal tinha sido feito rei das tribos do Norte (cf. 2,9). Com sua morte, fica aberto para Davi o caminho para unificar todas as tribos e formar uma nação única. 
5
1-5
Davi colhe finalmente o fruto maduro de todos os seus esforços: a unificação das tribos sob sua chefia. E isso realizou-se conforme ele desejava: não atravéz da imposição, mas através do consentimento e pedido do povo. Termina aqui o Sistema das Tribos, e Israel começa a ser uma nação com regime monárquico. O pacto é uma espécie de contrato entre o rei e os representantes (anciãos) das tribos, regulando uma troca de deveres e direitos.Parte importante nessa transação é o compromisso mútuo: o povo se compadece a pagar o tributo; e o rei se compromete a defender o povo dos inimigos externos e a organizar a vida da sociedade de acordo com a justiça e o direito.
6-16
A escolha de Jerusalém como capital é um ato estratégico de Davi: tomando uma cidade que ainda não pertencia a Israel, ele evita possíveis ciúmes entre as várias tribos. O texto não fala propriamente de uma conquista. É provável que Davi tenha feito um pacto com a dinastia sacerdotal que governava a cidade: Davi seria o chefe político, e Sadoc, o chefe religioso (cf. 2Sm 8,17 e Gn 14).
17-25
Os filisteus se assustam com o crescente poder de Davi e tentam conservar os território as conquistados. Davi, porém, os encurrala cada vez mais à costa marítima. 
6
1-23
A arca era, por excelência, o sacramento da religião das tribos. Colocando-a em Jerusalém, Davi se serve da religião para consolidar politicamente o seu reinado. O episódio dos vv. 6-10, porém, mostra que a religião está acima da política e não pode ser manipulada por ela. Ao mesmo tempo o texto deixa claro que a sacralidade da arca não impede a expressão religiosa popular, em clima de alegria e festa. Deus não deixa se manipular,  por estruturas e instituições por melhores que sejam; mas está sempre perto da vida do povo. Participando da religiosidade popular, Davi está se comprometendo a conduzir o povo segundo o projeto de Deus.
7
1-17
Davi quer construir uma casa, isto é, um templo para Deus. Deus recusa, pois está presente no meio do povo que luta pela vida e liberdade. Em troca, é Deus quem vai construir uma casa, isto é, uma dinastia para Davi: o poder político estará sempre na mão de seus descendentes. O oráculo é sem dúvida um ato político que procura justificar e preservar o poder dinástico da família de Davi, principalmente o poder de Salomão. As tribos do Norte, porém, vão logo rebelar-se contra esse verdadeiro “ato institucional” (cf. 1Rs 12).

Esse texto fundou a concepção messiânica, elaborada tanto no Antigo como no Novo Testamento. Com o fracasso da realeza em Judá, o Messias (rei descendente de Davi) torna-se o rei ideal que libertará o povo e o fará viver conforme a justiça e o direito (cf. Is 11, 1-9 e nota). O Novo Testamento vê a pessoa de Jesus como a realização da promessa do Messias (Cristo = Ungido = Messias).
18-29
O texto é uma espécie de resposta ao oráculo de Natã (vv. 4-17). Talvez seja originariamente uma oração que os reis costumavam repetir em alguma celebração solene, relembrando o sentido da função política dentro de um povo que foi libertado por Javé.
8
1-14
O resumo das conquistas de Davi mostra que ele cumpriu a primeira parte do contrato: livrar o povo de seus inimigos.
15-18
O outro dever do rei era governar o povo, fazendo-o viver a justiça e o direito. O texto mostra que Davi cumpriu a segunda parte do contrato com o povo. Os vv. 16-18 comprovam a formação inicial de uma burocracia estatal, que se tornará bem mais complexa no tempo de Salomão. 
9
1-13
Davi não esquece a amizade que tinha por Jônatas e o compromisso que fizera com ele (1Sm 20, 15-16.42); por isso, leva o único filho sobrevivente do amigo para viver no palácio real.
10
1-19
Com a vitória sobre os amonitas arameus, o reino de Davi atinge sua extensão máxima. Ao mesmo tempo, esse aumento de poder provoca a decadência de Davi, quando ele começa a romper o contrato com o povo. 

11
1-27
A função da autoridade é servir ao povo, defendendo-o dos inimigos e fazendo-o viver segundo a justiça e o direito. Ora, Davi trai completamente a sua função de autoridade:não acompanha mais o exército (deixa de defender o povo), torce a justiça e viola o direito, usando o poder para satisfazer seus caprichos pessoais.
O texto deixa claro que o poder é sempre ambíguo e pode tornar-se algo extremamente perigoso. O poder em si não é próprio da humanidade, mas de Deus, e em mãos humanas só se justifica quando entendido como função de serviço, para que o povo tenha liberdade e vida. O poder torna-se totalmente mau, quando usado para satisfazer a interesses pessoais e de grupos privilegiados, à custa do povo.
12
1-15
a parábola contada por Natã força Davi a dar uma sentença contra si próprio. O erro de Davi foi usar o poder em proveito pessoal, e isso desencadeou ambições e competições dentro da sua própria família. Começa então a luta pela sucessão.
15-25
A morte do filho de Davi foi uma condenação do seu pecado. O nascimento de Salomão, desde já chamado "Querido de Javé", é sinal de que Deus não abandonou Davi.
26-31
Com a conquista de Rabá, termina a guerra contra os amonitas. Ao invés da consagração ao extermínio, os despojos são recolhidos e a população dominada é submetida a trabalhos forçados. Com isso começa justamente aquilo que o sistema das tribos queria evitar: o acúmulo de riquezas e a opressão.
13
1-39
Começa a competição pelo poder e a luta pela sucessão. Amnon é o primogênito e, naturalmente, o sucessor de Davi. Absalão certamente não pretendia vingar a honra da irmã, mas servir-se do caso para eliminar o mais forte concorrente ao trono.
14
1-33
Absalão é o terceiro filho de Davi e, como nada se diz de Queleab (2Sm 3,3), é o pretendente mais direto ao trono. Absalão, porém, está afastado de Davi. O estratagema de Joab visa a fazer com que Davi se reconcilie com Absalão, o que acontece em duas etapas: primeiro, Davi aceita o retorno do filho, mas não quer recebê-lo; mais tarde, Davi acolhe Absalão. A história da mulher de Técua é confusa, mas uma coisa é clara: Davi se compromete com juramento a não aplicar a sue filho a pena do "vingador do sangue" (v. 11; cf. nota em Nm 35, 9-24).
15
1-12
Absalão alicia demagogicamente o povo, aproveitando para atacar um ponto importante no contrato entre o rei e o povo. É que a administração da justiça provavelmente se arrastava nos meandros da burocracia. Com isso, Absalão consegue preparar um golpe de estado.
15,13-16,14
Temendo os acontecimentos, Davi foge de Jerusalém e foge para o deserto. Enquanto enfrenta a conspiração dentro de sua casa própria família, encontra fidelidade  e apoio fora, inclusive de estrangeiros filisteus. Ao mesmo tempo, prepara um serviço espionagem, para manter-se informado sobre as manobras de Absalão. Em meio à fuga, Davi se defronta com partidários e descendentes de Saul: um ajuda, e outro amaldiçoa. Na situação de conjunto, podem-se perceber as divisões dentro do reino.
16
15-23
Estabelecendo-se em Jerusalém e tomando as concubinas do pai, Absalão assume o comportamento de verdadeiro sucessor. a profecia de Natã vê nisso um castigo pelo pecado de Davi (cf. 2Sm 12,11-12).
17
1-23
Davi e aqueles que o acompanham são salvos de um massacre graças a Cusai, que consegue retardar o ataque, e devido à rede de informações montada por Davi e ao apoio e acolhida de boa parte do povo.
17,24-19,9
Em toda a vida, mesmo depois de rei, Davi não deixou que o poder e a ambição se sobrepusessem a sues sentimentos. Tal proceder, onde a afetividade vence a fria razão política, embora pareça paradoxal, talvez seja um dos motivos que o levou a buscar sempre a reconciliação e a justiça, e que o fez estimado de todo o povo.
19,9-20,22
A volta de Davi não é fácil: durante sua ausência, os grupos tomaram partido, ora a favor, ora contra ele. a intenção do rei é refazer pacificamente a unidade, mas a antiga rivalidade entre as tribos do Norte e a tribo de Judá se reacende e exige que Davi tome atitudes de força para evitar a divisão.
20
23-26
Comparar com 2Sm 8,15-18. A presente lista mostra que a crise foi superada, e o governo de Davi novamente se estabilizou. Nota-se a preponderância de cargos militares, ao lado de uma nova classe social,talvez de grupos dominados, destinada aos trabalhos forçados, isto é, exclusivamente a serviço do estado. Esse novo grupo vai aumentar ainda mais durante o reinado de Salomão.
21-24
Esta sperie de textos foi acrescentada posteriormente, interrompendo a história da sucessão de Davi, que continua em 1Rs 1.
21
1-14
A fonte é vista como castigo de Javé por causa do crime de Saul contra os gabaonitas, que violara o pacto feito em Js 9. É provável que a intensão principal de Davi seja livrar-se dos descendentes de Saul, possíveis rivais. Talvez o lugar mais próprio para este episódio seja antes do capítulo 9.
15-22
Estes episódios, de sabor um tanto folclórico, ficariam melhor depois de 5,17-25, onde se narram as lutas contra os filisteus durante os primeiros anos do reinado de Davi.
22
1-51
Com poucas diferenças, este cântico está reproduzido no Sl 18. Trata-se de uma celebração para agradecer a proteção de Javé e comemorar a vitória sobre os inimigos. Nesse contexto, aparece a primeira função da autoridade: libertar o povo de sues inimigos. Cf. também Sl 18 e nota.
23
1-7
O texto salienta a segunda função da autoridade: fazer que o povo possa viver segundo a justiça e o direito. As autoridades justas são uma bênção para o povo e produzem vida; as autoridades injustas são como espinheiros, e serão rejeitadas e destruídas pelo próprio povo.
8-39
Após a fuga diante de Saul, Davi se tornou o líder de um grupo de descontentes (cf. 1Sm 22,1-5). Mesmo depois de rei, ele manteve seu exército pessoal. aqui são lembrados os nomes de seus soldados principais, com alguns pormenores de caráter épico e popular.
24
1-25
O recenseamento demonstrava ambição: de um lado, permitia o cadastramento da população que contribuía com tributos (exploração econômica); por outro lado, o levantamento dos homens aptos para a guerra (dominação política). As duas coisas não são criticáveis em si; só se rornam más quando a autoridade as absolutiza e nelas coloca sua total confiança. Comparar o v. 1 com 1Cr 21,1: depois do exílio, a tentação é atribuída a Satã, e não a Javé.
A eira comprada por Davi é o local onde Salomão mais tarde vai construir o Templo. a intenção do autor é mostrar Davi como fundador do culto em Jerusalém.

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