2, 1-3,15
A expressão criatura humana mostra que o homem é um quase
nada diante de Deus, é incaáz de lhe ver a transcendência e ouvir a sua voz. É
preciso que o espírito ou força de Deus o coloque de pé, pronto para realizar a
missão. Esta consiste em anunciar claramente a palavra que Deus transmite de
modo misterioso.
A missão profética exige coragem, pois a palavra de Deus,
que o profeta anuncia através de palavras humanas, poderá encontrar
resistência, sofrer críticas e ser desacreditada. Não importa. Uma vez
anunciada, cedo ou tarde a palavra será ocasião para a pessoa compreender a
realidade e, talvez, mudar de vida.
3
16-21
O profeta é porta-voz da justiça de Deus. Isso o torna por
obrigação, um conscientizador do povo. A justiça de Deus quer que todos tenham
chance de perceber o erro e se converter para a vida. Calando, o profeta se
torna conivente com a injustiça e sofre dela as mesmas conseqüências.
17
1-24
A fábula da águia (VV. 3-10) é uma espécie de adivinhação.
Se os ouvidos não conseguem decifrar, quem propõe a história explica o que ela
quer dizer. A explicação está nos VV. 12-21. O fato histórico deve ser
conferido em 2Rs 24, 10-17. O profeta mostra que um país pequeno não deve
recorrer às grandes potências. Não seria posição do realismo político: estará
sempre na eminência de ser mascarado por uma dessas potências. Ezequiel parece
ter a mesma visão de Jeremias: a submissão à Babilônia é irreversível, e
qualquer qualquer tentativa de se opor causará ruínas ainda mais profundas. Os
VV. 22-24 trazem uma visão de esperança: Javé, Senhor da história, é quem fará
o povo ressurgir.
18
1-32
Ezequiel fala ao grupo de exilados que está na Babilônia.
Por que foram exilados? A idéia de moral
grupal dizia que uma gestação acaba pagando por erros de gerações anteriores.
Nesse modo de pensar os exilados estariam fatalmente pagando pelo acúmulo de
erros dos antepassados. O profeta, porém, vai contra essa concepção, e
demonstra o seguinte:
_ Cada pessoa e cada geração é responsável por sua conduta,
tanto em nível individual como coletivo.
_ Cada pessoa e geração tem a possibilidade de se converter, mudando completamente a
orientação da própria vida.
Ezequiel não nega que uma geração possa sofrer conseqüências
de atos da geração anterior. Embora a culpa seja das gerações anteriores,
aquela que sofre as conseqüências deverá tomar posição e mudar o rumo dos acontecimentos.
33
1-9
Ao iniciar uma nova etapa de sua atividade, Ezequiel recorda
a missão do profeta. Cf. nota em 3, 16-21.
34
11-16
Liberto das autoridades que dele abusam, o povo pode
reconhecer que a verdadeira autoridade é o próprio Deus, que projeta liberdade
e vida para todos. Desse modo, nasce um novo discernimento político: o povo
aprende que só poderá construir uma sociedade justa e fraterna quando souber
escolher governantes que façam do projeto de Javé o alicerce do seu próprio
projeto.
17-22
Para construir uma sociedade justa e fraterna, não basta
eliminar governantes injustos e substituí-los por governantes justos. A justiça
deve penetrar todas as relações sociais, eliminando a exploração e opressão do
povo por uma classe privilegiada.
37
1-14
É um dos trechos mais conhecidos de Ezequiel. A palavra
profética, tal como a palavra criadora (Gn 1), convoca o espírito para libertar
e restaurar a vida do povo de Deus, que tinha sido dominado, destruído e
exilado. À primeira vista, tudo parece morto e sem esperança. Essa morte,
porém, só acontece de fato quando o povo se deixa alienar, conformando-se com
uma visão fatalista, que o torna passivo diante de sua própria história.
Contudo, tomando consciência de sua dignidade, o povo começa a se reunir e a se
organizar. Ergue-se, então, como grande exército e se põe a lutar para
construir nova sociedade e nova história.
47
1-12
A presença de Deus no Templo torna-se o centro da vida que
se espalha por toda a terra, a fim de transformá-la em paraíso. Quando o povo
se compromete com o projeto da vida, não só os bens naturais se multiplicam
para serem repartidos entre todos, mas também o povo se revitaliza, abrindo-se
para repartir sua própria vida em clima de fraternidade. João retoma esta
passagem para mostrar que a história tende para a realização plena da vida de
Deus, repartida entre todos os homens (cf. Ap 22,1-5 e nota).
Nenhum comentário:
Postar um comentário