quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Segundo Reis

1
1-18
Elias não é profeta de corte, a serviço da autoridade, mas porta-voz de Javé. Por isso não obedece às ordens do rei, pois seu único Senhor é Javé. Baal-Zebub significa "senhor das moscas"; é um nome depreciativo que deu origem à forma de Belzebu. Elias não teme essa divindade, que é considerada "chefe dos demônios" no Novo Testamento (cf. Mc 3,20-30). ,
2
1-18
O fim de Elias é misterioso: ele não morre; arrebatado por Deus. Com ele começa em Israel a profecia clássica, e seu arrebatamento mostra que o espírito profético não morre. Assim como Elizeu recebe o espírito de Elias, sempre haverá no meio do povo de Deus, em todos os tempos, pessoas que obedecem unicamente a Deus e enfrentam sem medo os ídolos e seus perseguidores, sejam eles sacerdotes, reis ou gente poderosa. Se deixarem de existir, reinará o silêncio desorientador, o silêncio do próprio Deus.
19-22
A primeira ação de Eliseu é parecida com a do seu mestre Elias: trazer vida para o povo. A água que matava a vida na raiz, agora se transforma em água potável, que refaz as forças.
23-25
Essa historinha, provavelmente inventada, quer incultar nas crianças que o profeta deve ser respeitado no meio do povo.
3
1-27
O profeta de Javé é respeitado além das fronteiras. ele age não só trazendo vida no cotidiano do povo, mas também tomando posição nas grandes decisões que tocam as relações internacionais.
4
1-7
Tal como essa viúva, muitíssimos pobres, para sobreviver têm que se submeter a dívidas e à exploração no trabalho. A ação profética ensina os pobres a se organizar para se libertarem de tais situações. A libertação, porém, não é dom paternalista: ela se realiza a partir do que os pobres têm e do seu esforço em conjunto.
8-37
A mulher era rica, mas fazia questão de viver no meio do povo simples, sem pretensão nenhuma de participar da alta sociedade. Além do mais sua atenção para Eliseu, que defendia os pobres, e o fato de não se ligar aos poderosos, mostram que ela não estava comprometida com o sistema opressor. por isso, Deus faz a vida renascer para ela. O profeta, mais uma vez, é o portador da vida;.
38-41
Mais do que um milagre, o texto mostra a habilidade de Elizeu em eliminar os efeitos nocivos de uma planta. Trata-se aqui da coloquíntida, fruta amarga de violento efeito purgativo.
42-44
Eliseu recebe um presente e o distribui a comunidade. Desse modo, ensina que, havendo partilha, todos podem ficar satisfeitos, e ainda ter de sobra. Cf. Mc 6,30-44 e nota.
5
1-27
O único Deus que pode curar é Javé, e ele está ligado a um povo, a uma terra e a um projeto. A terra de Israel é sagrada, porque é a terra que Javé deu a seu povo, para realizar aí o projeto de vida. O Profeta realiza sinais que mostram a presença de Deus no meio do seu povo, o qual sofre as consequências de um sistema que causa mais opressão do que libertação. Uma das moças, escrava no estrangeiro, é capaz de ver esse Deus ultrapassando as fronteiras para curar e dar vida, enquanto o próprio rei de Israel desconhece o fato. Ao ser curado, o estrangeiro aprende que a vida é dom de Deus, e não objeto de troca. Por isso, reconhece que o único Deus é Javé. Giezi, que vive ao lado do profeta, não compreende essa gratuidade e procura tirar proveito para enriquecer-se, ganhando com isso a própria ruína.
6
1-7
O texto deixa claro que os profetas levam vida de pobre, sem maiores recursos (casa pequena, machado emprestado). E é através dessa pobreza que Javé se manifesta, trazendo a vida.
8-23
O texto mostra que o profeta está profundamente inscrito na vida política do seu povo, inclusive em questões de espionagem internacional. Além disso, ele sabe criar estratégias e tomar decisões diplomáticas, para evitar conflitos maiores.
6,24-7,20
Na situação desesperadora, a angústia leva as pessoas a atitudes selvagens, como essa mãe que devora o próprio filho. Nesse momento, o profeta reabre o caminho da esperança, mostrando caminhos de vida. E a libertação vem justamente daqueles que nada mais têm a perder. É a partir dos marginalizados, isto é, daqueles que nada mais podem esperar do "status quo", que se organiza o movimento para encontrar alguma saída. Surge então a novidade de Deus. A solução encontrada, porém, não será a libertação que Deus quer, se a vida não for repartida com todo o povo.
8
1-6
A história da sunamita foi narrada em 4,8-37. O episódio mostra como as histórias dos profetas eram transmitidas, e como influenciavam nas decisões da justiça.
7-15
Mostrando que o rei de Aram vai morrer, mas não dessa doença, Elizeu faz ver que o profeta é capaz de discernir as intrigas de quem anda em busca do poder.
16-24
É o tempo de decadência em Judá. O fato se torna claro pela independência que os reinos vassalos vão conquistando. A esposa de Jorão é Atalia, e sua história é apresentada em 2Rs 11.
25-29
A política de aliança entre os dois reinos continua. O texto funciona como introdução aos capítulos seguintes.
9
1-13
Dependendo das circunstâncias, a ação profética influi e até interfere na política de forma direta e decisiva. É o que se verifica, principalmente em situações onde o povo é oprimido por um governo injusto, que se mantém por muito tempo no poder. Nesse momento, e em nome de Deus, o profeta provoca uma corrente contrária, chegando até mesmo a apontar um novo líder. Cf. 1Rs 19,16.
14-37
Elias tinha previsto o fim trágico da família de Acab. Escolhido pelo círculo profético e apoiado pelo povo, Jeú começa a fazer justiça, matando os eis Jorão e Ocozias, bem como Jezabel, que tinha influência na política dos dois reinos. Desse modo, Jeú se apresenta como instrumento de vingança de um povo que foi longamente oprimido por uma família tirânica.
10
1-36
O banho de sangue continua. Jeú procura exterminar todos os que estão ligados à família de acab e ao culto de Baal. Javé quer acabar com todo tipo de idolatria e opressão. Cabe aos homens a difícil tarefa de escolher os meios para realizar as vontade divina.
11
1-20
Atalia era filha de Jezabel e tinha reinado, com Jorão, sobre Judá. Ela pretendia acabar com todos os descendentes de Davi. A astúcia de outra mulher, a oposição de sacerdotes, da guarda do Templo e do palácio e a revolta do povo, frustraram os planos dela. O documento da aliança (v. 12). (v. 12) é o contrato que traz os deveres e direitos do rei e do povo.
12
1-22
Joás faz de tudo para restaurar o Templo, que era importante para preservar a dinastia de Davi. Entretanto, exposto às lutas internas e ataques externos, Joás acaba sendo vítima de uma conspiração. O cofre no Templo, colocado por Joás, era para evitar desvio de verbas. Esse uso acontece em nossas igrejas ainda hoje.
13
1-9
Retoma-se o esquema da história apresentado pelo autor deuteronomista (cf. nota em Jz 2,6-3,6). O novo libertador é provavelmente Jeroboão II (veja 14,23-29).
10-13
A expressão do v. 11, que aparece em todos os reis de Israel, provavelmente indica a separação entre este e o Reino de Judá.
14-25
A morte de Eliseu não marca o fim do profetismo. Pelo contrário, Elias e Eliseu iniciaram o movimento profético, que influenciará por séculos a vida política, social e religiosa de Israel. O ato simbólico realizado por Joás (vv. 16-19) se realiza concretamente logo a seguir (v. 25).
14
1-22
Amasias teve reinado glorioso, porém a sua ambição o levou a uma guerra desastrosa contra Israel. Terminou a vida tragicamente, vitimado por uma conspiração. O v. 6 mostra um grande progresso na legislação: estabelecendo que a punição não deve atingir parentes, evita a vingança desmedida e a má fama que alguém carrega pela culpa de algum parente (cf. nota em Dt 24,16).
23-29
Durante o governo de Jeroboão II, Israel conhece grande desenvolvimento econômico, acompanhado pela aceleração das desigualdades sociais, denunciadas pelo profeta Amós. Nesse mesmo tempo os levitas realizam a catequese que irá formar o núcleo central do Deuteronômio (Dt 12-28).
15
1-7
Na Bíblia, este rei é chamado também de Azarias. Reino até o ano 740a.C., quando o profeta Isaías começou a exercer sua atividade.
8-12
A partir do rei Zacarias começa em Israel uma série de golpes de estado que provocarão a anarquia política no país. É durante esse período que Oséias exerce sua atividade profética.
13-16
O costume de rasgar o ventre das mulheres grávidas era a condenação até mesmo pelo direito internacional (cf. Am 1,13).
17-22
Pul  é Teglat-Falasar III, rei da Assíria, que estende o seu poder cada vez mais. Por enquanto ele se satisfaz com o tributo, mas o Rei do Norte não escapará mais do domínio assírio.
23-26
Facéias era protegido da Assíria, mas Facéia se aproveita da preocupação da Assíria com outras regiões para matar o rei e usurpar o poder. É provável que o oficial Facéia pertencesse a um partido antiassírio.
27-31
Facéia se uniu ao rei de Aram numa tentativa de conter o avanço assírio, que já estava tomando os territórios pertencentes aos dois reinos.
32-38
Joatão foi convidado a participar da coalizão contra a Assíria, mas preferiu manter posição neutra, o que lhe valeu a hostilidade dos reis Rason e Facéia.
16
1-20
Acaz também se recusou a participar d coalizão contra a Assíria, formada pelos reinos de Israel e Aram, que tentam invadir o reino de Judá. Por isso, Acaz pede ajuda à Assíria, entregando-se como vassalo. Cf. Is 7,1-17 e nota.
17
1-6
Em 722a.C., o Reino do Norte é tomado pela Assíria e deixa definitivamente de existir.
7-23
O autor faz reflexões sobre a ruína de Israel, o Reino do Norte. O grande erro foi abandonar o projeto de Javé, o Deus libertador, para servir aos ídolos e viver como as outras nações. Desse modo, Israel perdeu a própria identidade, e a consequência foi perder também a sua terra. Outra grande lição da história: o povo dividido torna-se fraco e incapaz de resistir ao inimigo.
24-41
A mistura de israelitas do Norte com gente de outras nações formou o grupo dos samaritanos, que serão sempre mal vistos e rejeitados pelos israelitas do Sul. Ensinando uma nova forma de relacionamento humano e de adoração a Deus, Jesus quebrará essa "maldição" que os judaítas cair sobre os samaritanos (cf. Lc 10,25-37; Jo 4 e notas).
18
1-8
Ezequias é elogiado porque, no seu tempo, foi feita uma tentativa de reforma político-religiosa, que procurava reunir todo o povo em torno de um só Deus e de um só rei.
9-12
Cf. nota em 17,1-6.
13-16
A reforma iniciada por Ezequiel foi interrompida por uma violenta invasão dos assírios, que conquistaram muitas cidades e recomeçaram a cobrar tributo de Judá.
18,17-19,37
Cf. notas em Is 36-37.
20
1-11
Cf. nota em Is 39,1-8.
12-21
Cf. nota em Is 39,1-8.
21
1-18
O longo reinado de Manassés significou, para o povo, opressão externa da Assíria e interna por parte da corte de Jerusalém. Foi uma volta ao paganismo, principalmente. através do culto aos astros. Quem mais sofreu, durante esse período, foi a população camponesa, explorada pelos ricos da cidade. a voz dos profetas impedida de comunicar a vontade de Javé. A tradição que o profeta Isaías foi morto durante o reinado de Manassés. Quando um poder tirânico de Manassés. Quando um poder tirânico se instala, ele procura cortar pela raiz toda crítica, para assim alienar o povo, fazendo que ele aceite passivamente a ideologia opressora.
19-26
A conspiração de oficiais, talvez pertencentes ao partido antiassírio, deu margem para que surgisse uma nova força política em Judá: o partido camponês. Colocaram o menino Josias no trono, dando continuidade à dinastia de Davi, porém estabelecendo um regime voltado para os moldes javistas de sociedade. Foi provavelmente esse partido camponês que assumiu a regência durante a minoridade de Josias.
O Livro da lei é certamente o núcleo legislativo do Deuteronômio (Dt 12-26). Esse livro, nascido em meio às tribos do Norte, certamente já fora utilizado de Ezequias, que foi bruscamente interrompida com a invasão de Senaquerib (701 a.C.). Perdido ou esquecido no Templo, o livro é redescoberto e servirá de estímulo radical para a reforma de Josias.
22
1-10
O tempo de Josias é marcado por um clima de reforma político-religiosa. Aproveitando-se da instabilidade assíria, Josias retoma os ideais de Ezequias, procurando refazer o antigo império de Israel, com todas as tribos reunidas sob um único chefe.
O Livro da lei é certamente o núcleo legislativo do Deuteronômio (Dt 12-26). Esse livro, nascido em meio às tribos do Norte, certamente já fora utilizado de Ezequias, que foi bruscamente interrompida com a invasão de Senaquerib (701 a.C.). Perdido ou esquecido no Templo, o livro é redescoberto e servirá de estímulo radical para a reforma de Josias.
11-20
Josias certamente imagina utilizar o livro como razão a mais para a centralização político-religiosa. Contudo, era necessário verificar a autenticidade do livro. A profetisa Hulda não só responde afirmadamente, como também mostra que as maldições contidas no livro se realizarão de modo inevitável.
23
1-3
O Deuteronômio, aqui chamado Livro da Aliança, é solenemente proclamando e acolhido. De catequese dos levitas ele se transforma agora em Lei de Estado.
4-14
Influenciado pelo Deuteronômio, Josias procura, começando pela tribo de Judá, refontizar  a identidade javista do povo, a fim de o libertar das influências religiosas e culturais de povos estrangeiros (cananeus, assírios, fenícios, egípcios, moabitas, amonitas). Não se trata de recusar o valor dos estrangeiros, mas de possibilitar o florescimento dos valores nativos, frequentemente abafados e até mesmo destruídos por influências estrangeiras.
15-20
A reforma atinge as tribos do Norte, outrora Reino de Israel, e é muito mais implacável, porque pretende destruir tudo o que poderia impedir a unificação do povo. O episódio do túmulo do profeta se refere a 1Rs 13.
21-23
Sobre a festa da Páscoa, cf. Dt 16,1-8. Desse modo, Josias recupera uma importante tradição do povo camponês, ligada à libertação e ao ideal de uma sociedade livre e fraterna.
24-30
Josias é o único rei que recebe elogio incondicional do autor bíblico, porque procurou eliminar a opressão e corrupção, e reunificar o povo em torno do projeto de Javé (cf. Jr 22,15-16).
31-35
Com a morte de Josias, a reforma política e religiosa é completamente interrompida: por breve espaço de tempo, o país fica sob o domínio do Egito. Como sempre, a maior vítima é o povo, que deve pagar tributos ao dominador.
23,36-24,7
Muda a política internacional: o império da Babilônia se apodera do Oriente Médio, e o reino de Judá se torna vassalo dos babilônicos. A tentativa de reforma prepara a fulminante ruína de Judá.Sobre o comportamento de Joaquim, cf. também Jr 22,13-19.
24
8-17
No reinado de Jeconias, acontece o primeiro exílio da comunidade de Judá (597 a.C.). Note-se quem era levado para o exílio: a classe governante, os militares, os donos dos meios de produção e os intelectuais. O povo pobre permanecia na terra para trabalhar e pagar tributos ao dominador. O exílio, portanto, era a maneira drástica de desarticular um povo, impedindo-o de se organizar novamente. 
24,18-25,7
Levando para sua falta de tato, Sedecias segue o conselho de seus oficiais e se opõe ao domínio dos babilônios. As Consequências são desastrosas e, na última hora, o rei e o exército abandonam Jerusalém, deixando a população entregue ao inimigo. O livro de Jeremias mostra como ele tentou, de todos os modos, refrear a política suicida de Sedecias. (cf. Jr 37-39).
25
8-21
É o segundo exílio (586 a.C.). Dessa vez, a deportação é maior e o saque é completo. Só fica no país o povo pobre, para servir de mão-de-obra barata ao dominador.
22-26
Um grupo de oficiais tenta ainda uma última cartada, matando o governador Godolias, nomeado por Nabucodonosor. Sobre o que Jeremias pensa dessa atitude, cf. Jr 40-42.
27-30
A história dos reis termina com leve fio de esperança: os privilégios concedidos a Jeconias prenunciam o ressurgimento do povo. Este último acontecimento se situa em 561 a.C.




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