quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Gênesis

1,1-2,4a:
A narrativa da criação é um tratado científico, mas um poema que contempla o universo como a criatura de Deus.Foi escrito pelos sacerdotes do tempo do exílio da Babilônia (586-538 a.C.) e procura salientar vários pontos. Primeiro, que existe um único Deus vivo e criador. Segundo, que a natureza não é divina, nem está povoada de outras divindades. Terceiro, que o ponto mais alto da criação é a humanidade: homem e mulher, ambos criados à imagem e semelhança de Deus. E a humanidade é chamada a dominar e a transformar o universo, participando da obra da criação. Quarto, que o ritmo da vida é trabalho e descanso: assim como Deus descansou do trabalho criador, também o homem tem direito ao dia semanal de descanso pelo selo de Deus: "era bom... muito bom".
2
4b-25
A primeira narrativa da criação (1,1-2,4ª) apresenta as águas disformes como caos, desordem e ausência de vida. A segunda narrativa, elaborada no tempo do rei Salomão (séc. X a.C.), se originou entre nômades que viviam no deserto; para eles, terra seca é ausência de vida. Por isso imaginam, como início da criação, a chuva e a possobilidade de o homem encontrar água. A grande bênção inicial é, portanto, a água (VV. 4b-7). Os VV. 8-7 narram a história do Éden, um paraíso na terra, para onde confluem os maiores rios do mundo estão conhecido, e onde as árvores e frutos são abundantes. Deus criou a terra para que o homem usufrua dela e possua vida plena (árvore da vida). A condição única é o homem se subordinar a Deus: obedecer o seu projeto de vida e fraternidade, e não querer decidir por si mesmo o que é bem e o que é mal (comer o fruto da árvore do bem e do mal), a fim de não ser causa a espécie alguma de opressão e morte.  Os VV. 18-25 salientam duas coisas: primeiro, que o homem tem domínio sobre a criação “dando nome aos animais” e, por isso, participa do poder criativo de Deus; segundo, que “a mulher não foi tirada da cabeça do homem para mandar nele, nem foi tirada dos pés dele para ser sua escrava; mas foi tirada do lado, para ser sua companheira”.
3
1-24
O texto procura explicar a origem do mal.  O centro dessa questão é a pretensão de ser como Deus (v.5), usurpando o lugar de Deus verdadeiro para torna-se auto suficiente, isto é, um falso deus. A auto suficiência é a mãe de todos os males, que são apenas consequência dela. Deus é o Senhor absoluto, e seu projeto é vida e liberdade para todos, no clima de fraternidade e partilha. Quando o homem se torna auto suficiente, se rebela contra o projeto de Deus e faz o seu próprio projeto: liberdade e vida só para si mesmo. O homem sonha possuir liberdade e vida plenas; porém na sua auto-sufuciência, ele produz o contrário: escravidão e morte.  As relações de fraternidade se transforma em relações de poder e opressão; a relação de partilha transforma-se em exploração, e esta produz a riqueza de poucos e a pobreza de muito. Desse modo, as relações ficam distorcidas e quebradas, tanto  dos homens entre si como dos homens com a natureza. Nesse clima gerado pelo mal, que tende a multiplicar, o caminho já não leva para a vida, mas para a morte (VV. 22-24). Tudo perdido? Não. Diante do mal gerado pelo homem, Deus promete uma descendência que estará comprometida com o projeto de Deus, projeto  este que triunfará sobre todo o mal. O Novo Testamento vê nessa descendência o povo com o povo comprometido com Jesus Cristo, que é o supremo revelador do projeto de Deus.
4
1-16
O relacionamento entre os irmãos Caim e Abel é o oposto daquilo que Javé espera do relacionamento entre os homens: a fraternidade, em que cada um é protetor do seu próximo. A auto-suficiência introduz a rivalidade e a competição nesse relacionamento: a fraternidade é destruída e, em vez de proteger, o homem fere e mata, o seu próximo. A primeira vez que a palavra pecado aparece na Bíblia é num contexto social (v. 7).
17-26
O texto apresenta o desenvolvimento da civilização, com suas bases culturais e tecnológicas. Surge o homem político (da pólis = cidade; v.17), o homem artista (v. 21) e o homem artesão (v. 22).  A civilização, porém, nasce de Caim: auto-suficiência e violência se multiplicam cada vez mais, gerando uma sociedade fundada na hostilidade e na competição. Tudo perdido? Não. Surge também o homem religioso (v. 26), que busca reunir novamente aquilo que o homem auto-suficiente divide e separa. Em Mt 18,21-22. o Novo Testamento apresenta a antítese da violência.
5
1-32
Na perspectiva dos antigos, a história é uma sucessão de gerações, de modo que contar a história, é contar a história das famílias. Notemos que a geração humana transmite para cada novo ser humano a originalidade com que Deus criou Adão: à imagem e semelhança de Deus (vv. 1-3). Assim, a salvação se mostra já presente na história. Para o Antigo Testamento, ser feliz é viver bastante. Salientando a idade, o texto quer mostrar o seguinte: à medida que o mal cresce, o homem é o menos feliz, ou seja, vive menos (cf. 6,3): antes do dilúvio, vive-se 700 a 1.000 anos; depois do dilúvio, de 200 a 600 anos (cf. Gn 11, 10-26); a partir de Abraão, de 100 a 200 (cf. Sl 90,10).
6
1-8
A auto-suficiência chega ao máximo da pretensão: o homem começa a considerar-se um deus ou semi-deus, projetando uma super-humanidade independente do projeto original de Deus. Vendo sua criação desfigurada, Javé decide exterminá-la. Tudo perdido? Não. A história vai continuar através de Noé, o homem justo.
6,9-7,5
Inspirada nas inundações periódicas dos grandes rios, a narrativa do dilúvio é típica das antigas culturas médio-orientais. Os autores bíblicos a utilizaram por causa do seu significado simbólico: o dilúvio é uma volta aos caos primitivo (compare Gn 1,6-30 com 6,17 e 7,18-24). Contudo, qual é o dilúvio que acontece  na história? São os acontecimentos catastróficos gerados pela auto-suficiência, que chega a formas tão extremadas que produz o caos na natureza e no mundo humano. O texto é também uma apologia do justo: este sabe discernir a catástrofe e tomar uma atitude para sobreviver e preservar a vida. É através do justo que a história continua.
7
6-24
O texto é repetitivo porque mistura duas tradições, de épocas diferentes, sobre o dilúvio. A comparação com Gn 1,1-10 mostra que o dilúvio significa uma volta ao caos primitivo; quando a humanidade destrói em si a imagem de Deus, a conseqüência é a destruição de todo o mundo criado.
8,1-9,7
Através do justo, Deus começa uma nova criação (compara 9,1-7 com Gn 1,28-30). A nova criação começa com uma oferta a Javé, que não deixa o homem ser dominado pelo caos. Ele promete nunca mais destruir a sua criação: doravante, ele aceita a ambigüidade humana (v. 21), que também é responsável pela ambigüidade do mundo e da história. Experimenta-se a graça na estabilidade da ordem natural, não obstante o contínuo pecar do homem.
9
8-17
O arco-íris, que aparece depois da chuva, tornou-se o sinal da aliança de Deus com toda a criação. Através dessa aliança, Deus garante a vida para todos. Doravante, qualquer destruição que aparecer na história humana será devida aos homens, e não a Deus.
18-29
A narrativa mostra que o pecado continua no mundo. Sem é abençoado, porque dele se formará o povo de Israel. Cam é antepassado dos cananeus, adversários ferrenhos de Israel. A maldição de Cam foi abusivamente interpretada na história como maldição da raça negra.
10
1-32
A lista dos povos é uma espécie de geografia política da época. É colocada aqui para explicar como foi que o mundo se repovoou depois do dilúvio. Mostra ainda que o povo de Israel, que nascerá de Abraão, é um povo eminentemente histórico, inserido no meio das nações; não é um povo mítico, isto é, provindo do mundo dos deuses.
11
1-9
O texto apresenta outra explicação para a diversidade de povos e línguas: é um castigo contra a pretensão coletiva que, como a dos antepassados (Gn 3), é uma falta provocada pelo orgulho (v. 4). Babel lembra certamente Babilônia (Senaar), a civilização que se tornou o modelo das grandes potências. Babel se apresenta como símbolo da cidade deformada pela auto-suficiência, que produz uma estrutura injusta, exploradora e opressora. A reunião dos povos e línguas acontecerá no Pentecostes (At 2) e na consumação da história (Ap 21-22).
Na mesma linha de Gn 3-11, a ambigüidade humana produz uma relação social competitiva (Gn 4,1-16), uma cultura ambígua (Gn 4,17-26), um processo histórico caótico (Gn 6-8) e uma cidade idolátrica (Gn 11,1-9). Daqui para frente, começa uma nova história, voltada para uma relação social justa, para um processo histórico dirigido para a vida, e uma cidade fundada na justiça e na fraternidade.
10-32
Esta genealogia acompanha a de Gn 5, procurando apresentar Abraão como herdeiro legítimo das bênçãos e promessas de Deus, feitas na criação e após o dilúvio.A
12
1-9
A história de Abraão está diretamente ligada à história de toda a humanidade: com ele começa a surgir o embrião de um povo que terá a missão de trazer a bênção de Deus para todas as nações da terra. Esse povo será portador do projeto de Deus: toda nação que se orientar por esse projeto estará refazendo no homem a imagem e semelhança de Deus, desfigurada pelo pecado. O caminho começa pela fé: Abraão atende o chamado divino e aceita o risco sem restrições. Ele percorre rapidamente a futura terra prometida: isso mostra que o projeto do qual ele é portador é um projeto histórico, encarnado dentro da ambigüidade e conflitividade humana. O que Deus promete a Abrão? Simplesmente aquilo que qualquer nômade desejava: terra para os rebanhos e filhos para cuidar deles. Em outras palavras, o que Deus promete é exatamente aquilo a que o homem aspira para responder às necessidades vitais. E hoje, quais  são as supremas necessidades do homem? Por trás das necessidades estão as aspirações e, dentro destas, a promessa de Deus.
10-20
O texto é uma antevisão da escravidão no Egito e do êxodo. Sarai, com a mudez feminina dentro do mundo patriarcal, é símbolo do povo oprimido que clama por libertação.
13
1-18
Ló escolhe a região onde estão localizadas cidades-estado como Sodoma e Gomorra; assim ele entra no âmbito de uma estrutura que se sustenta graças a exploração e opressão do povo. Abrão, ao invés, fica aberto para uma história nova, fundada unicamente na promessa e no projeto de Javé. Não tomando a dianteira para escolher sua parte, mais uma vez Abrão entrega-se a Deus na fé, para que este lhe aponte o caminho.
14
1-16
 Javé prometera uma terra a Abrão. Na campanha contra os quatro reis, Abrão é forçado a percorrer a Palestina de norte a sul e de leste a oeste, conforme lhe ordenara Javé (13,7). Essa é a terra que Javé reserva para seu povo, e que será conquistado no templo de Davi. O texto, fazendo de Abrão um guerreiro, quer salientar que a terra prometida é dom de Deus, o qual não dispensa a participação do homem: o povo terá que lutar para conquistá-la. Deus concede o seu dom, mas o homem só o recebe quando se esforça para conquistá-la.
17-24
Compreendemos melhor o texto se vemos Abrão a figura de Davi: após conquistar todo o território, Davi fez aliança com a dinastia sacerdotal que governava Jerusalém (Salém). Ele tornou Jerusalém centro político e religioso do povo; mas quem continuou a fazer o serviço religioso foi a descendência dos sacerdotes sadocitas, a qual lembra o nome de Melquisedec (Sadoc = justo; Melquisedec = meu rei é justo). O acordo entre Abrão e o rei de Sodoma faz pensar num poder político que não está interessado em oprimir o povo ou juntar riquezas. Aceitando apenas a parte que cabe a seus companheiros, Abrão dá um exemplo de justiça: a cada um o que cada  um precisa.
15
1-21
Deus promete e o homem aspira: mas nada ainda acontece. Deus desafia novamente Abrão com a promessa, e este acredita e confia. A justiça do homem consiste numa entrega confiante ao Deus que garante cumprir o que promete, quando ainda não poder ser verificado (cf. Hb 11,1). Abrão pede um sinal; e como sinal, além da criação e da aliança com Noé, temos aqui a terceira e grande aliança. Ora, a aliança era um acordo em que ambos os contraentes se empenhavam entre si; era concluída com um rito, no qual os contraentes passavam entre animais divididos: quem violasse a aliança teria a mesma sorte que esses animais. Notemos que somente Javé (fogueira, tocha) passa entre os animais: a aliança com Abrão é um empenho  exclusivo de Deus pode realizar aquilo que prometeu.
O esquema do Êxodo é fortemente representado no texto: Deus faz Abrão sair de Ur para dar-lhe a terra (v. 7); da mesma forma, os descendentes de Abrão serão escravos no Egito e Deus os fará sair daí para  lhes dar a terra (vv. 13-20). Sair para: é o movomento de libertação que torna possível, tanto para o indivíduo, como  para o povo ao qual ele pertence, caminhar para a vida.
16
1-16
No Antigo Oriente, uma legislação permitia que a esposa estéril cedesse ao marido uma escrava para procriação; o filho nascido da escrava era reconhecido como legítimo. Recorrendo a esse artifício legal, Abrão está querendo facilitar a realização da promessa; mas não é isso que Deus quer. Ismael, filho da escrava, é abençoado, mas não é através dele que Javé realizará a promessa. Deus faz um grande projeto para o homem; contudo, muitas vezes, o homem acha impossível realizá-lo, e recorre a subterfúgios, traindo o desafio contido na promessa e que está dentro da aspiração humana.
17
1-27
 A mudança do nome indica um compromisso com Deus para realizar uma missão. A circuncisão é um rito que indica a pertença ao povo com o qual Deus faz aliança. Esse rito, como o batismo, supõe o compromisso de viver conforme Deus quer (v. 1). Notemos que tanto os livres como os escravos são circuncidados: o povo de Deus nasce aberto para todos, e diante de Deus são todos iguais. É um convite para que os homens também realizem essa igualdade entre si.
18
1-15
As pessoas devem estar abertas a situação corriqueiras, pois é através delas que Deus se manifesta para fazer o seu dom. O dom que Deus promete muitas vezes parece impossível e até mesmo sem cabimento para os homens; contudo, é através da impossibilidade dos homens que Deus torna possível a realização do seu projeto.
16-33
Do povo da aliança Deus espera a prática da justiça e do direito, que realizam o projeto de Deus. Esse projeto provoca a destruição da cidade injusta. A intercessão de Abraão mostra que o justo se compadece do povo da cidade. Mas o texto levanta perguntas: Quantos justos são necessários para que uma cidade não seja destruída pela injustiça? Até onde Deus está disposto a agir com misericórdia? O testo não responde. O Novo Testamento mostra que Deus, na sua misericórdia, está disposto a salvar não só uma cidade, mas a humanidade toda, e por causa de um só justo: Jesus Cristo.
19
1-29
Esta história procura explicar a destruição de duas cidades vizinhas ao mar Morto. Sobressai aqui a justiça de Deus, que ouve o clamor dos oprimidos (v. 13). Sodoma e Gomorra se tornarão o símbolo da corrupção e da injustiça (Is 1, 9-10; Jr 49,18; Mt 11,23 etc.). Ló é salvo porque observou a lei da hospitalidade, uma das mais importantes no mundo oriental.
30-38
O episódio explica a origem dos moabitas (Moab = saído do pai), povos vizinhos e inimigos de Israel, lembrados aqui como fruto das cidades condenadas. O gesto das filhas de Ló é motivado pelo desejo profundo de perpetuar a vida.
20
1-18
O episódio é uma repetição de 12,10-20 (cf. nota). O texto procura também justificar a atitude de Abraão.
21
1-7
O nascimento do filho da promessa é um desafio à natureza e à compreensão humana. Para Deus nada é impossível (cf. Gn 18,14).
8-21
Enquanto a mãe Agar se coloca à distância para não ouvir os gritos do filho prestes a morrer, Deus ouve esse grito e se apresenta para salvar. Trata-se do filho de uma escrava: Deus está aberto para ouvir os clamores de todos os povos e encaminhá-los para a vida.
22-34
O texto quer explicar o significado do nome Bersabéia ("poço do juramento" ou "poço das sete ovelhas"). E, provavelmente, é uma justificativa posterior da posse território pelos israelitas.
22
1-19
Deus tira todas as seguranças de Abraão, para lhe fazer uma promessa e entregar-lhe seu dom (cf. Gn 12, 1-9 e nota). Muitos obstáculos parecem tornar impossível a realização desse dom e promessa (velhice, esterilidade). Quando a promessa começa a cumprir-se com o nascimento de Isaac, Abraão  poderia acomodar-se e perder de vista o grande projeto, para o qual Deus o chamara. Por isso, Deus lhe pede um novo ato de fé que confirme sua obediência. Deus não,permite nova segurança para o homem se acomodar; pelo contrário desafia o homem está sempre alerta, a fim de relacionar-se com Deus e criar uma nova história. Só assim o projeto de Deus não será confundido com as limitações dos projetos humanos.
20-24
Esta lista genealógica começa a preparar a história de Isaac e Jacó, e introduz as histórias do casamento dos dois (cf. Gn 24; 28-29). Era costume dos antigos que os matrimônios fossem realizados entre jovens de clãs aparentados (cf. 24,3-4).
23
1-20
O texto ressalta que a promessa da terra começa a tornar-se realidade: ao comprar o terreno de Macpela, Abraão tem pelo menos um lugar para enterrar seus mortos. É o primeiro pedaço de chão dos antepassados de Israel na terra de Canaã.
24
1-67
Deus continua a providenciar a realização da promessa. Passo importante é o casamento de Isaac, do qual nascerão os futuros descendentes. Note-se que a esposa adequada é reconhecida pela generosidade.
25
1-6
Estes versículos formam um apêndice à história de Abraão. O autor bíblico quer mostrar que o patriarca, além de beneficiário da promessa, é também ponto de partida para a formação de outros povos.
7-11
A notícia da morte de Abraão encerra a história desse patriarca com novo toque de vida: morrer idoso é sinal de uma vida plena e de cumprimento da bênção de Deus. Jamais querida por Deus, a morte precoce é fruto da ação perversa dos homens.
12-18
Antes de iniciar a história dos filhos da promessa (Isaac e Jacó), o autor bíblico fala de Ismael, filho de Agar, que também formou um grande povo: os ismaelitas, dos quais descendem os árabes.
19-28
A luta dos filhos no ventre materno mostra a futura inimizade entre dois povos irmãos: os adomitas, descendentes de Esaú, e os israelitas, descendentes de Jacó.
26
1-11
O episódio é uma repetição de Gn 12,10-20 e 20,1-18.
12-35
A briga por causa dos poços é, na verdade, uma luta para ocupação da terra. A promessa feita a Abraão passa param Isaac e, em meio aos conflitos, pouco a pouco vai se tornando realidade.
27
1-40
Jacó antes se aproveitou da fome do irmão para lhe tirar o direito de primogenitura; agora, para roubar a bênção patriarcal, ele se une à esperteza da mãe e aproveita a cegueira do pai. O texto está preocupado em mostrar a supremacia de Israel, povo descendente de Jacó sobre Edom, povo descendente de Esaú.
27,41-28,9
Jacó e Rebeca fizeram uma trapaça, enganando Esaú e Isaac. Agora, pagam por isso: Jacó tem que fugir para uma terra distante e Rebeca nunca mais verá seu filho querido.
28
10-22
O episódio mostra a essência da religião. Religião é a relação misteriosa entre Deus e o homem: embora transcendente e infinitamente santo. Deus está sempre em relação viva com as suas criaturas (escada, anjos). Nessa relação, o homem é incapaz de tomar a iniciativa; o máximo a que pode chegar é entregar-se (sono) para que Deus se manifeste gratuitamente (sonho) e revele o projeto que ele vai realizar na vida do homem (promessa: vv. 13-15). Toda e qualquer vida humana que esteja aberta e disponível, torna-se um santuário (Betel = casa de Deus), onde Deus se manifesta, criando vida e história. Cf. Jo 4, 21-24.
29
1-30
Jacó agora pega as fraudes passadas, sofrendo as espertezas do tio.
29,31-30,24
Jacó teve doze filhos (Dina será substituída por Benjamim - cf. 35,18). Todos serão assumidos como antepassados das doze tribos que formarão o povo de Israel. O nome de cada filho está ligado à rivalidade entre as mães, vista aqui como um drama no qual o próprio Deus toma parte.
30,25-31,21
Labão explorou durante muito tempo o trabalho de Jacó. Agora propõe trabalho em troca de salário. Jacó recusa e, com muito tino, faz uma proposta aparentemente mais modesta, que tornará proprietário dos animais que tem cor anormal. Para entender-mos melhor a proposta de Jacó, Lembremo-nos de que o Oriente os carneiros são geralmente brancos e as cabras são pretas. Mas uma vez Labão engana Jacó (30,35-42). Jacó, porém, usa um expediente para multiplicar os animais de cor normal (30,37-42), compensando a contínua exploração exercida pelo tio (31,7). Após seis anos nessa luta (31,41), Jacó volta para a sua terra. O texto mostra que o povo explorado tem todo o direito de se defender e de se organizar contra o explorador, a fim de ter meios para viver com dignidade.
31,22-32,3
Labão não se conforma com o fato de Jacó ganhar independência econômica e poder assim escapar de suas mãos. Entretanto, diante da firmeza de Jacó, ele procura desculpas para o manter sob seu domínio (o roubo dos ídolos domésticos). Não conseguindo provar nada, por causa da esperteza de Raquel, agora só lhe resta uma solução para manter Jacó dependente: Uma aliança. Jacó, porém, age de igual e não como submisso: estabelece um marco que indica uma conquista e limite de fronteiras (v. 45: estrela). Através da visão de Labão (vv. 24,29), o autor bíblico mostra que Deus protege o povo  explorado, para que possa permanecer firme em suas reivindicações: entra assim numa igualdade de condições diante do explorador e exige os próprios direitos, ganhando independência econômica e política. A promessa de ter descendência e terra vai ser realizada através da proteção divina e da luta contínua do homem dentro dos conflitos.
32
4-22
Jacó sente-se culpado: depois de ser explorado por vinte anos, percebe melhor a trapaça que fizera contra o irmão. Tem medo e toma providências para que Esaú o receba bem.
23-33
Na tensão frente ao encontro com o irmão, Jacó fica sozinho, à noite. Desencadeia-se uma luta misteriosa com o desconhecido, que é o próprio Deus. Jacó luta a noite toda, Porque deseja a bênção que preserve sua pessoa e seus bens. Antes de abençoá-lo, o desconhecido lhe dá o nome de Israel, que será o nome do povo da promessa: a bênção não terá em vista pretensões pessoais, mas a formação de um povo. O desconhecido, porém, não revela o próprio nome:Jacó não poderá manipular a Deus, como fez com o pai e o irmão. De Jacó nascerá um povo: este vai ter como missão realizar o,projeto de Deus, e jamais poderá trapacear esse projeto sem sofrer sérias consequências.
No decorrer da vida, o homem acaba tendo um encontro decisivo com Deus. No centro desse encontro há uma luta tenaz, em que o homem acaba reduzido (ferido) nas suas pretensões egocêntricas; mas, ao mesmo tempo, descobre o destino (novo nome) que Deus lhe prepara na história.
33
1-20
O encontro com o irmão é constrangedor para Jacó: consciente de sua própria culpa, ele procura se desvencilhar o quanto antes do irmão, mas recebe uma lição de generosidade, hospitalidade e fraternidade. Na casa de Labão, Jacó precisou usar as mesmas armas do explorador para se libertar; na luta misteriosa com Deus, ele aprendeu o próprio limite e não se pode manipular a Deus; e no encontro com Esaú, recebe uma lição de fraternidade.
34
1-31
Nesta narrativa se ajuntam várias redações difíceis de separar. Provavelmente, o texto reflete o difícil assentamento de grupos patriarcais na terra de Canaã antes do êxodo e o agitado relacionamento entre clãs de pastores e os habitantes das cidades, tanto do ponto de vista das uniões matrimoniais como das relações políticas. Aqui já transparece aquilo que vai ser uma constante na época da instalação após o êxodo: um conflito sociocultural entre israelitas e cananeus.
35
1-15
O tom da narrativa é profundamente religioso: o próprio deslocamento de Jacó é descrito como se fosse um procissão ou romaria e termina com uma teofania, isto é, manifestação de Deus. Quer salientar um dos lugares de culto para Israel: o futuro santuário de Betel, que se tornou o centro religioso das tribos do Norte, quando estas se separaram do reino do Sul, após a morte de Salomão (cf. 1Rs 12,26-33). O texto salienta o que Deus adorado em Betel é o mesmo Deus dos pais, o Deus da promessa.
16-29
Este resumo encerra a história de Isaac, narrando a sua morte e sepultamento. Ao mesmo tempo, introduz a história dos filhos de Jacó, contando a lista dos doze filhos, antepassados das doze tribos de Israel.
36
1-43
O texto bíblico conserva a genealogia de Esaú, pormenorizando pessoas e locais. A intenção é salientar que o povo edomita é irmão de Israel, devendo por isso haver entre ambos uma relação de fraternidade.
37
1-11
A história de José se abre num clima dramático: preferido pelo pai e odiado pelos irmãos, descortina-se diante dele um futuro importante, apresentado em sonhos. O final da história apresentará José como instrumento de Deus para salvar a própria família.
12-36
Como no caso de Caim, inveja e ódio fazem que os irmãos projetem a morte de José. Sendo primogênito, Rúbem se sente responsável e procura salvar José. os fatos, porém, se precipitam e todos pensam que José morreu. Agora é a vez de Jacó pagar as tramas que havia feito contra seu irmãos Esaú e seu pai Isaac.
38
1-30
Embora estrangeiro como Rute, Tamar foi incorporada ao povo de Israel e, através de seu filho Farés, tornou-se antepassada do rei Davi (cf. Rt 4,12.18-22). Ela também fará parte da genealogia de Jesus (cf. Mt 1,3).
O texto mostra como funcionava a lei do levirato: quando o marido morria sem deixar filhos, seu irmão era obrigado por lei a se unir com a viúva, e o filho que nascesse seria considerado como filho do irmão morto. Essa lei visava a conservar a herança no âmbito da família (cf. Dt 25,5-10). Onã é condenado por violar essa lei.
39
1-23
José vai descendo aos limites do sub-humano: de pessoa livre, torna-se escravo, e de escravo torna-se prisioneiro. Contudo, de forma misteriosa e incompreensível para o homem, salienta-se quatro vezes que "Javé estava com José". Sem saber, qualquer pessoas pode estar sendo instrumento de Deus, e através dela, Deus espalha suas bênçãos para todos os que a cercam.
40
1-23
Para os antigos, o sonho era um modo com que Deus se manifestava ao homem e lhe revelava o futuro. O significado do sonho, porém, só podia ser interpretado por Deus. Mostrando que José é capaz de interpretar os sonhos, o texto salienta que ele sabe discernir a ação de Deus na história, isto é, sabe ler o que Deus está para realizar.
41
1-36
Começa a ascensão de José. Além do seu discernimento para interpretar a ação de Deus, ele demonstra também o tino administrativo que salvará da fome o país. José é sábio: tem capacidade de discernir a ação de Deus e agir de acordo, pois a providência de Deus não dispensa o homem de analisar as situações e tomar atitudes adequadas.
37-57
Por sua previdência e tino administrativo, José se torna vice-rei do Egito e, graças a ele, é contida a situação de fome do povo. Seus filhos Manassés e Efraim formarão duas tribos em Israel, que juntas formam a "Casa de José".
42
1-38
Os sonhos de José se concretizam: seus irmãos se prostram diante dele (cf. 37,5-11). José os trata com severidade para verificar o arrependimento deles, e os submete a uma série de provas. O que ele quer saber é se os irmãos modificaram, e se são capazes de agir com verdadeira fraternidade. Simeão foi escolhido por ser o segundo filho, pois José fica sabendo que Rúben, o mais velho, não era culpado. Como José, Benjamim era o filho de Raquel, a esposa amada de Jacó: será que os irmãos odeiam Benjamim como odiavam a José?
43
1-34
O teste de fraternidade a que José submete os irmãos começa a surtir efeito: Judá se responsabiliza por Benjamim. A boa acolhida de José causa espanto nos irmãos e prepara o ponto máximo do encontro.
44
1-34
Cf. nota em 42,1-38. Judá, que tinha sugerido vender José como escravo para que seu irmão Benjamim, preferido do pai, possa voltar para casa. Dessa forma, Judá redime a falta que cometera no passado contra a fraternidade.
45
1-28
Até agora o tratamento entre José e os irmãos era de um senhor para com os servos. Ao ver que os irmãos se transformaram, José se declara: "Eu sou José, irmão de vocês". E o clima se tornou fraterno. As palavras de José (vv. 3-8) mostram o ponto de vista da fé sobre os acontecimentos: Deus age através dos homens e das situações para realizar seu projeto de vida. Muitas vezes não compreendemos os acontecimentos e situações porque não somos capazes de descobrir o que Deus quer com eles. Caminhamos no escuro e precisamos acreditar que Deus vai realizando o seu projeto através da nossa própria incompreensão. Só no fim compreenderemos que Deus estava junto conosco durante todo o tempo, encaminhando nossa história para a liberdade e a vida.
46,1-47,12:
Em seu final, o livro do Gênesis começa a preparar o acontecimento do Êxodo. De fato, em Bersabéia, Deus anuncia a Jacó: "Eu descerei com você ao Egito e o farei voltar de lá" (v. 4). A região de Gessen fica no nordeste do Egito, e daí sairá futuramente o grupo que formará o núcleo central do povo da Aliança. Em 47,1-12 temos duas versões diferentes sobre a chegada da família de Jacó no Egito (vv. 1-6b e vv. 5b-12).
13-26
A narrativa da política agrária de José foi escrita na corte de Salomão, e tinha dupla finalidade: educar os funcionários da corte e justificar a política do rei. Salomão adotou o sistema político-econômico do Egito, instituindo os trabalhos forçados e o imposto em dinheiro e gêneros. O autor procura justificar o sistema adotado por Salomão, mostrando que o sistema foi criado por um hebreu.
47,27-48,22:
O texto é uma combinação de tradições para explicar várias coisas, projetando-as no passado para apresentá-las como disposições de Jacó: por que Manassés e Efraim, filhos de José, se tornaram antepassados de duas tribos? Por que essas tribos prosperaram? Por que a tribo de Efraim superou a tribo de Manassés?
49
1-33
Estas previsões atribuídas a Jacó refletem evidentemente um período posterior, quando o povo de Israel já estava organizado em tribos dentro da terra de Canaã. Portanto, espelham uma situação depois do êxodo. De um lado, mostram as dificuldades que as tribos tiveram as dificuldades que as tribos tiveram de enfrentar, quando instaladas em Canaã. Por exemplo: Issacar teve de lutar dentro do sistema de trabalhos forçados das cidades estado cananéias. Dã precisou enfrentar exércitos montados. Gad deparou com uma estratégia guerrilheira. Efraim e Manassés (José) lutaram contra exércitos de elite que usavam arcos. De outro lado, o texto mostra a sorte de cada tribo, buscando explicações passadas, nem  sempre muito claras: Rúben e Simeão desapareceram como tribo; Levi não possui nenhum território para si; Judá, aos poucos, foi ganhando importância, até que se tornou, com Davi, a tribo principal na época do reino; Zabulon foi trabalhar na marinha. Outras informações do texto são obscuras.
50
O último capítulo retoma o ambiente familiar que predominou na história de José, mas sem o mesmo tom dramático. Depois de narrar o funeral de Jacó, retoma o tema teológico que conduziu toda a história de José (cf. nota em 45,1-28): Deus age dentro dos acontecimentos, e só aqueles que enxergam isso poderão transformar a relação escravo-patrão em relações de fraternidade. Dentro desse discernimento e clima, Deus formará um povo numeroso (v. 20) que, escravizado, será por fim libertado para organizar uma sociedade onde haja liberdade e vida.

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