quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Deuteronômio

1
1-5
Termina a etapa educativa do deserto e Israel se prepara para entrar na terra prometida. O livro todo é uma instrução inculcada, isto é, que deve ser continuamente repetida e relembrada, a fim de que Israel realize um novo projeto de vida, ao se fixar na terra.
6-18
A meta da libertação é a terra prometida. Não basta, porém, chegar aí. É preciso construir uma sociedade nova, onde se realize a justiça, que é fonte de liberdade e dignidade. Para isso deve ser criada uma estrutura que funcione de forma imparcial, para que as relações sejam justas.
19-33
Cf. nota em Nm 13,1-33. Moisés deixa claro que o projeto, em que o povo está envolvido, é o projeto de Deus: não há o que temer. Pela primeira vez na Bíblia, Javé é apresentado como pai, e Israel como seu filho: o povo de Deus é formado de irmãos, chamados a viver em fraternidade.
34-46
Quando o povo se acovarda, abandonando a luta que o projeto de Deus exige, esse projeto se esvazia e o processo histórico fica retardado. É inútil querer antecipar ou atrasar o projeto de Deus: desse modo, o povo não chega a lugar nenhum. Cf. também nota em Nm 14,1-45.
2
1-25
A terra dos amorreus (ou cananeus) é dada a Israel para que este construa aí uma nova sociedade. Por outro lado, israel deve respeitar os territórios de Edom, Moab e Amon, pois essas nações "parentes" já vivem uma forma alternativa de sociedade.
26-37
Cf. nota em Nm 21,21-35. Sobre o anátema, cf. Nm 21,1-3.
3
1-11
Og é uma personagem quase desconhecida. Provavelmente foi derrotado por amonitas, dos quais um grupo se uniu mais tarde aos israelitas. Pouco a pouco, os grupos vão se unindo na luta para formar um novo povo, com projeto alternativo de sociedade, cujo único Deus é Javé.
12-22
Cf. nota em Nm 32,1-42.
23-29
Moisés é solidário a uma geração que duvidou do projeto de Javé (cf. Nm 20,1-13). Apesar de ver a meta de chegada, o líder está profundamente comprometido com o povo e participa da sua incerteza. Somente uma geração nova conquistará um espaço novo.
4
1-8
O Deuteronômio é um conjunto de estatutos e normas que visam levar a uma prática de vida conforme a Aliança com Javé, dentro da terra prometida. Trata-se de uma nova constituição. Com ela, Israel viverá segundo a sabedoria e a justiça, isto é, segundo o projeto de Javé. Não há nenhum legalismo, pois entre Javé e seu povo existe uma relação de parceiros: Javé responde todas as vezes que é invocado. Javé é um Deus que não fica preso as leis,mas está sempre aberto para responder às novas  situações  do povo.
9-20
Israel deve lembrar-se permanentemente do acontecimento libertador, que fundou a sua existência como povo. No momento da Aliança, Israel não viu uma forma; apenas viu a voz, que lhe comunicava o Decálogo como Constituição básica de uma vida social justa e digna. Israel, portanto, é um povo único: não deve adorar deuses dos opressores cananeus (imagens de homem e mulher), dos egípcios (imagens de animais) ou dos mesopotâmicos (adoração dos astros). A originalidade de Israel é ter descoberto o único Deus vivo que age na história: ele leva o seu povo para a liberdade e a vida, dentro de uma relação social justa e fraterna. Esse Deus não pode ser aprisionado numa representação visual ou em sistemas de pensamento. Javé é maior do que qualquer teologia.
21-31
O destino do povo na terra dependerá da sua fidelidade à Aliança e ao projeto de Javé. Se o povo praticar a idolatria, servindo a falsos absolutos, perderá a terra e irá para o exílio: seu maior castigo será servi a deuses que não poderão libertá-lo. Se o povo se converter, Javé intervirá, dando-lhe consciência e vida.
32-40:
A grande maravilha é Javé, o único Deus vivo que age na história. Sua ação nasce da fidelidade à Aliança, liberta o povo, lhe revela seu caminho e lhe dá a terra. Não existe outro Deus que faça isso: todos os outros são falsos absolutos.
41-43
Cf. nota rm Nm 35,9-34.
44-49
Estes dados resumem o que já foi apresentado em Dt 1-3.
5
1-22
Cf. nota em Ex 20,1-21. Note-se que o texto do Deuteronômio frisa uma atualização contínua da Aliança (v. 2). O 3º mandamento (vv. 12-15) tem motivação social: Israel já experimentou a escravidão; por isso, o repouso do sábado torna-se uma comemoração semanal da libertação. Além do mais, esse mandamento impulsiona para uma relação social igualitária: "Desse modo, seu escravo e sua escrava poderão repousar como você". O 9º e o 10º mandamentos aparecem bem distintos, pois o Deuteronômio usa dois verbos diferentes (cobiçar e desejar) para distinguir entre a mulher e as coisas pertencentes ao próximo. Acrescentando o campo como objeto de desejo, o texto condena um sistema econômico no qual o camponês pobre, e talvez endividado, acaba perdendo seu meio de subsistência.
23-31
O livro do Deuteronômio ("estatutos e normas"), escrito basicamente no séc. VIII a.C., é idealizado como o texto de uma renovação da aliança, feita em Moab, antes de Israel entrar na terra de Canaã. O texto se apresenta com autoridade porque provém de Deus, através de Moisés. Desse modo, todas as leis do Deuteronômio são apresentadas com o mesmo valor do Decálogo.
5,32-6,3
As leis a seguir (Dt 12-26) são apresentadas como vontade de Javé; é ele quem dirige o povo. Este, levando-as à prática, poderá organizar uma sociedade justa e prolongar sua vida na terra que Deus lhe dá.
4-9
Estes versículos são o núcleo fundamental da teologia do Deuteronômio. Javé é o único Deus. Portanto, a vida do homem também deve ser única, expressando uma resposta de adoração ao único Deus. Talresposta é um amor total, que penetra e informa a consciência (coração), o ser (alma) e a ação (força). Esse amor total deve ser interiorizado, tornando-se a base da consciência (coração). Deve construir o objeto primeiro e contínuo de toda educação (inculcar nos filhos), em todas as situações (sentado, andando, deitado, de pé). O amor é que dirige a ação (mãos) e as intenções (faixa entre os olhos). Deve ser vivido na família (batentes da casa) e na sociedade (portas da cidade). Mais do que leis, o Deuteronômio procura mostrar como deve ser a vida; uma resposta de amor a Deus, que se expressa em todas as relações humanas.
10-19
O grande risco da prosperidade é o fato de que ela pode vir acompanhada de um espírito de auto-suficiência que leva a esquecer Javé, o único Deus que liberta da escravidão. Essa auto-suficiência que leva a esquecer Javé, o único Deus que liberta da escravidão. Essa auto-suficiência produz a idolatria, mãe de novas escravidões. Javé é o Deus que suscita liberdade e vida. Por isso, só a ele o povo deve reconhecer como Deus (temor), adorando-o com sua própria vida (servir) e tornando-o como garantia de relações humanas autênticas (jurar pelo nome de Javé). Tentar a Deus e ter a ousadia de pedir a ele provas e sinais contrários ao seu projeto de liberdade e vida para todos.
20-25
O texto nos mostra que a família é o lugar privilegiado da catequese, e que educação humana e educação na fé são inseparáveis. O centro dessa educação é transmitir uma consciência do Dom que liberta e dá a vida.O povo concretiza tal experiência numa legislação (testemunhos, estatutos e normas - Dt 12-26). Essa legislação visa a sustentar a prática da justiça, a fim de manter uma vida social na liberdade e na dignidade.
7
1-6
Israel é povo consagrado exclusivamente a Javé, porque escolheu viver dentro de uma aliança com ele. E isso significa construir uma sociedade que se funda na justiça e provoca ruptura com o modo de viver de outras nações. O povo de Deus é chamado a romper de modo definitivo com qualquer sistema de sociedade que não corresponda ao projeto de Deus. A grande originalidade desse povo consiste em consagrar a sua vida no esforço de concretizar historicamente esse projeto divino que quer liberdade e vida para todos. Sobre o anátema, cf. nota em Nm 21,1-3.
7-15
Enquanto os homens costumam escolher os ricos e os poderosos para assegurarem ainda mais os próprios interesses e privilégios, Deus escolhe os pobres e fracos. No seu amor, Deus se alia aos oprimidos, liderando-os na conquista da liberdade e da vida, e ensinando-os a viver na fraternidade e partilha.Ele só quer que o povo realize o seu projeto: construir uma sociedade conforme a justiça e o direito, praticando uma legislação (normas, cf. Dt 12-26) que assegure a bênção de vida, saúde e prosperidade para todos. Cf. 1Cor 1,17-31 e nota.
16-26
Para formar uma sociedade segundo o projeto de Deus, o povo deverá enfrentar uma luta árdua contra as nações que têm outros projetos. Mas não deverá temer nem desanimar; basta rever a história e lembrar-se da grande vitória sobre o Faraó. Além disso, deverá destruir os falsos absolutos na opressão e desigualdade (ídolos, ideologias, riquezas etc.) O novo projeto de sociedade não pode ser contaminado com nada daquilo que sustentava o sistema anterior.
8
1-5
Entre a libertação e a formação de uma nova sociedade (terra) há um longo período de educação (deserto). Esse período visa a testar, de todos os modos, se o povo será capaz ou não de permanecer fiel ao projeto que iniciou. O grande risco seria acomodar-se numa situação de prosperidade e abundância já conseguidos (pão), esquecendo-se de que é preciso continuar sempre conquistando a liberdade e a vida para todos (aquilo que sai da boca de Javé = Decálogo). Sobre o v. 3, cf. nota em Mt 41-11.
6-20
O temor de Javé (v. 6) é o conceito básico de todo o livro. Insistindo em não esquecer Javé (vv. 11.14.19) e lembrar-se de Javé (v. 18), o texto critica a auto-suficiência de quem se esquece que Javé é o Senhor da liberdade e da vida e de que é ele quem concede os dons da vida. Quem se esquece disso, acaba transformando a liberdade em poder que gera a opressão, e os bens da vida em posse que, pela exploração e acumulação, gera a riqueza. Temer a Javé é lembrar-se sempre de que o homem não é Deus e nem pode usurpar o  lugar de Deus. É estar sempre consciente e os dons da vida a todos, para uma relação livre na partilha e na fraternidade. Esquecê-lo é perverter a consciência (v. 14), tornando-se auto-suficiente e absoluto, isto é, fechado em si mesmo. Isso acaba gerando soberba e o orgulho, que transforma a relação social em ganância pelo poder e cobiça pela posse.
9
1-6
A conquista da terra é dom de Javé para seu povo, e não mérito de Israel. Javé, o Senhor da história, realiza a justiça, aliando-se aos injustiçados para derrotar aqueles que fabricam a injustiça. O texto condena qualquer auto-suficiência baseada no mérito: um povo vitorioso numa revolução não é necessariamente mais justos do que os derrotados; ele também deverá aprender o caminho da justiça, para construir uma sociedade nova.
7-29
Para construir uma nova sociedade, é importante cada povo rever a própria história, para descobrir os erros e corrigir o próprio caminho. O bezerro de ouro é uma tentativa de representar visivelmente a presença de Javé. Isso traz o perigo de transformar Javé num ídolo, sempre manipulável, violando o primeiro mandamento do Decálogo. Diante da infidelidade, Javé quer destruir o povo e escolher outro. A súplica de moisés, porém, lembra que Javé está comprometido com o povo, em forma de promessa feita aos antepassados. Quebrando as tábuas, Moisés mostra que o comportamento do povo foi uma violação da Aliança. O bezerro feito pó é uma prova de que se trata apenas de um ídolo material, sem poder algum, Cf. também Ex 32 e notas.
10
1-11
O decálogo dentro da casa da Aliança é o sinal de compromisso: Israel precisa viver a aliança com Deus, formando uma sociedade justa e digna. Os levitas foram os principais responsáveis pelas instruções que vieram a formar o livro do Deuteronômio.
12-22
Viver em Aliança com Javé implica reconhecer que Javé é Deus e o homem não é Deus (temor), e que relaciona-se exclusivamente com Javé exige uma nova relação com todas as criaturas (amor). Viver esse amor-temor significa reconhecer Javé como único Deus (servir) e obedecer a sua vontade (mandamentos do Código Deuteronômico - cf. Dt 12-26). Não se trata de obediência formal: é necessária uma radical transformação da consciência, a fim de realizar a justiça de Javé, ou seja, comprometer-se com os pobres e marginalizados (imparcialidade, não aceitação de suborno, justiça para com o órfão, a viúva e o imigrante). A grandeza da Aliança consiste em ser aliado do Senhor do universo e da história, que quis unir-se aos pobres e oprimidos, para construir a história da liberdade e da vida.
11
1-7
O Código Deuteronômico (estatutos, normas e mandamentos - cf. Dt 12-26) é um compêndio de educação para o povo. Retomando experiência vivida, o texto salienta que o verdadeiro processo educativo consiste em transmitir a experiência concreta, que leva a um comportamento prático. A primeira coisa a ser transmitida é a experiência do Deus libertador que derrota os poderosos para tirar o povo da escravidão. Essa experiência fundamental leva as novas gerações a interiorizar uma lei que indica o caminho da liberdade e da vida. Sobre Datã e Abiram, cf. nota em Nm 16.
8-17
A vida do povo na terra dependerá de sua atitude para com Deus: se for fiel à Aliança, terá vida e prosperidade; se for infiel, terá carestia e  morte. Na terra da desigualdade (Egito), o sustento era custoso e exigia muito trabalho. Na terra onde reina a justiça de Javé (Terra Prometida), o dom da vida é repartido igualitariamente, proporcionando abundância e prosperidade para todo o povo.
18-32
Sobre os vv. 18-21, cf. nota em 6,4-9. A conquista da vida na terra dependerão da atitude que o povo tiver diante do projeto de Deus. Tal atitude acarretará bênçãos ou maldições: a bênção para a fidelidade ao projeto de Javé expresso nas leis do Deuteronômio, que ajudam o povo a viver na justiça e na prosperidade; a maldição, se o povo servir a outros deuses, realizando projetos contrários ao projeto de Javé.
12
1
Os capítulos 12-26, inseridos no segundo discurso de Moisés, são um conjunto de leis formando o projeto para uma nova sociedade. Essas leis não têm caráter jurídico. Elas se apresentam como instruções ou indicações para uma relação social justa, pois visam a uma sociedade igualitária, onde todos possam ter acesso à liberdade e à vida. O fundamento dessas leis é o decálogo (5,1-22), cujo espírito (amor e temor a Javé) é detalhado em leis que procuram responder aos conflitos concretos. Tomando no seu conjunto, o Código busca uma coerência entre a celebração da Aliança e a vida prática a ser vivida de acordo com a vontade de Javé.
12,2-13,1
O povo de Deus adora unicamente a Javé, o Deus libertador, mantendo-se longe do culto aos deuses opressores, que geram desigualdade e escravidão. Note-se que o santuário, segundo o Deuteronômio, não é o lugar da presença de Javé, mas o lugar do seu nome: no Templo o povo se reúne para rever a sua vida e projetar a sua história, invocando o parceiro da Aliança. As festas e celebrações têm sempre caráter social, porque nelas o povo e encontra e reparte alegremente os dons recebidos de Javé. O Dt relembra sempre o levita, cuja pregação formou as tradições que se cristalizaram neste livro. Sobre o sangue, cf. nota em Lv 17,1-16.
13
2-19
O texto reflete uma lei teórica, por que não apresenta uma prática comum, mas um ideal; neste caso, trata-se de eliminar completamente qualquer infiltração de idolatria. Para um povo liberto da escravidão e comprometido com o projeto de uma sociedade alternativa, o maior erro seria alienar-se novamente, aderindo a falsos absolutos, que só produzem escravidão.
14
1-2
Javé é o Deus vivo, e um dos pontos mais altos da revelação é apresentá-lo como Pai. O povo deve repartir a vida, dom de Deus, em clima de fraternidade. O v. 1 não trata propriamente do culto aos mortos, mas do culto a Baal, deus da natureza, adorado pelos cananeus. A morte de Baal era celebrada no início do verão, quando a vegetação desaparecia. Sobre o v. 2 cf. nota em 7,1-6.
3-21
Cf. nota em Lv 11,1-47.
22-29
O Deuteronômio encara toda a produção da natureza como o dom de Javé, que abençoa o seu povo. Para manter viva essa consciência da gratuidade e evitar o espírito de posse, o povo oferecerá o dízimo. Não se diz que esse dízimo seja reservado ao santuário ou aos sacerdotes: tudo é consumido num grande sacrifício de comunhão, onde todos se alegram repartindo entre si os dons que receberam. Além disso, a cada três anos recolhe-se um dízimo especial para beneficiar os deserdados (v. 29): era a maneira de provocar uma tomada de consciência sobre a desigualdade social e sobre a necessidade de criar relações econômicas justas, para que todos tenham vida digna.
15
1-11
O ano da remissão visava a possibilitar um recomeço de vida ao povo empobrecido e endividado. No projeto de Deus, a sociedade justa é aquela onde poder e riqueza são repartidos de modo que não haja oprimidos e pobres, mas sim liberdade e vida para todos. No povo de Deus, todos são irmãos e, enquanto houver um só pobre, a sociedade toda é responsável e deverá prover às necessidades dele. Enquanto o projeto de Deus não se concretiza historicamente, os pobres aí estão, clamando a Deus e exigindo justiça contra uma estrutura social pecaminosa.
12-18
Muitas pessoas ficavam tão empobrecidas e endividadas que se viam forçadas a vender a si mesmas com os filhos e filhas, para trabalhar como escravos. A lei concede a esses a possibilidade de recomeçar uma vida livre. Para isso, relembra aos patrões a experiência histórica da escravidão do Egito: o povo de Deus deve continuar realizando o gesto libertador de Deus no êxodo. Mas não basta dar a liberdade; é preciso dar a possibilidade de a pessoa recomeçar a vida.Por isso, é preciso repartir, com o escravo liberto, tudo o que foi ganho, graças a exploração da força de trabalho. A lei têm profundo caráter humanitário, pois iguala a situação do homem e da mulher (hebreu-hebréia) e nivela a relação entre senhor e escravo (irmãos).
19-23
O primogênito contêm simbolicamente em si toda a prole do rebanho, lembrando que Javé é quem sustenta a vida. Por isso, o animal primogênito não deve ser explorado comercialmente, mas ser oferecido e consumido em espírito de gratidão pelo dom de Deus.
16
1-17
Sobre a festa, cf. notas em Ex 12,1-14.15-20.21-28. O Dt destaca que as festas são ocasiões de alegria e gratidão, reconhecendo em Javé o Deus que dá liberdade e a vida. Note-se também que são momentos de confraternização social, onde desaparecem as desigualdades: as festas de Javé devem ser o sinal de uma sociedade que reparte entre todos a liberdade e a vida.
18-20
O exercício da autoridade mais necessário ao povo é o da justiça. Sua função é defender a causa do fraco e do pobre. Para isso, não se pode viciar a interpretação da lei, criando diferença entre as classes das pessoas julgadas. O mais sério, porém, é perverter a função da magistratura por interesses econômicos.
16,21-17,7
As leis de 16,21-22 estariam bem no cap. 12. Os postes sagrados (figuração de divindades femininas) e as estelas (figuração de divindades masculinas) são instrumentos do culto cananeu, que Israel deve evitar a qualquer custo. O texto de 17,2-7 talvez fizesse parte do conjunto do cap. 13. Cf. notas em 13, 2-19, e 15,21.
8-13
O santuário também funcionava como tribunal de última instância, dirigido pelo sacerdote e por um juíz delegado da causa. A sentença obriga em caráter irrevogável, pois é dada através de rituais de sorte, onde o próprio Javé age como juiz.
14-20
É a única vez que o Deuteronômio menciona o rei, e o faz de maneira crítica, apontando o limite da autoridade política. A lei reflete o espírito democrático das tribos do Norte: Javé escolhe o rei através do povo, e ele deve ser um dos irmãos, isto é, alguém que represente os anseios populares. Ao mesmo tempo, colocam-se restrições, para evitar desvios no exercício do poder. Condena-se qualquer regime arbitrário: como todo o povo, também o rei está a serviço da lei, e até mesmo a duração do seu governo depende disso. Para evitar que o rei se torne absoluto ordena-se: 1) que ele não multiplique seu exército, servindo-se do poderio militar para oprimir e escravizar o povo; 2) que ele não multiplique as esposas, não pelo casamento em si, mas porque tais casamentos implicam aliança com outras nações, acarretando acordos que poderiam trair a causa do povo; 3) que o rei não acumule riquezas, pois sua função é servir o povo, e não explorá-lo.
18
1-8
Proveniente do êxodo, o grupo dos levitas trouxe para as tribos a fé em Javé, o Deus libertador, que fermentava uma nova sociedade. Esse grupo não recebeu território próprio, mas vivia espalhado entre as tribos (cf. nota em Js 21). Havia dois tipos de levitas: um era mais ligado ao santuário e servia ao culto; outro, itinerante, cuidava de adaptar o Decálogo às novas situações vividas pelo povo. Os levitas itinerantes se identificavam com o povo marginalizado (Dt 12,12.19; 14,27; 16,11 etc.), e foram os principais responsáveis pela catequese que deu origem ao livro do Deuteronômio. Mostrando que havia conflito entre os levitas do santuário e os itinerantes, a lei em questão prevê igualdade de direitos para ambos os grupos.
9-22
Todas as nações têm ideólogos que procuram preservar e dirigir a história e a sociedade de acordo com os interesses da classe dominante. Na antiguidade, essa função era exercida pelos adivinhos, astrólogos e magos, que as autoridades consultavam para tomar decisões importantes. O povo de Deus, porém, deve pertencer exclusivamente a Deus; por isso terá pessoas  como Moisés, que orientarão para construir uma história e sociedade de acordo com o projeto do Deus do êxodo. Esse é o critério básico para distinguir entre o profeta e os ideólogos de uma sociedade contrária ao projeto de Deus.
19
1-13
Cf. nota em Nm 35,9-34. Conforme os vv. 11-13 do nosso texto, a sociedade toda (anciãos) torna-se responsável pelo derramamento de sangue inocente.
14
A terra, dom que Javé distribui igualitariamente entre todos, é sinal da participação na Aliança. Esta lei procura preservar a justa distribuição da terra, impedindo que a acumulação de terras crie latifúndios. Grandes propriedades na mão de poucos é um roubo do dom de Javé, que é para todos.
15-21
Toda pessoa tem direito à boa fama e honradez. Por isso, todo acusado tem direito de se defender contra as arbitrariedades e interesses do acusador. Sobre a lei do talião (v. 21), cf. nota em Ex 21,18-27.
20
1-9
A liberdade e a vida são dons de Deus para todos, e cada um tem o direito inalienável de usufruir delas. Por isso, o povo oprimido e explorado tem todo o direito de se organizar e lutar para reaver que lhe foram roubados.
A lei mostra profundo respeito pela vida: as exceções completam o direito de cada pessoa gozar do trabalho que ainda não foi usufruído (vv. 5-6) e o direito à descendência (v. 7). Aqui, no contexto de uma luta apoiada por Deus (vv. 1-4), o modo (v.8) indica falta de fé e confiança.
10-18
As cidades-estado de Canaã deverão ser completamente exterminadas, para evitar contaminações edeológicas e políticas (sobre a lei do anátema, cf. nota em Nm 21,1-3). Quanto às cidades distantes, a tática é fazer alianças. Quando isso não for possível, a força da resistência deverá ser eliminada (extermínio dos homens).
19-20
A lei mostra uma preocupação ecológica: é questão de bom senso usar da melhor forma a natureza, mantendo para com ela aquele respeito que trará benefícios  para o próprio homem.
21
1-9
A vida é o maior dom de Deus, e a sociedade é responsável pela vida de todos e de cada um. O sangue derramado clama a Deus: se ele não for reparado de algum modo, a culpa recairá sobre a sociedade inteira. Todo homicídio transforma-se numa acusação contra a sociedade, pois esta gerou as condições que produzem a morte.
10-14
A mulher é um ser humano que deve ser respeito exatamente como qualquer homem. Ela tem direito de viver seus próprios sentimentos e não ser rebaixada na sua liberdade e dignidade. Homem nenhum tem o direito de tratar a mulher como simples objeto, ao sabor dos próprios interesses e caprichos.
15-17
Em família, as preferências dos pais não devem ser causa de injustiça em relação aos filhos.
18-21
Essa lei é uma espécie de comentário ao mandamento: "Honre seu pai e sua mãe" (Dt 5,16). Ele salienta a importância da educação familiar. Numa situação patriarcal, onde a família é o alicerce da sociedade, o filho incorrigível se transforma em ameaça social. Provavelmente trata-se de uma lei teórica, nunca aplicada.
22-23
A suspensão de um sentenciado numa árvore visava servir de exemplo. O Deuteronômio limita o tempo de exposição do sentenciado, porque o cadáver contamina a terra prometida, que é terra de vida. Paulo aplica o texto a Jesus crucificado (cf. nota em Gl 3,6-14).
22
1-4
Numa sociedade verdadeiramente fraterna, cada um se interessa pelas coisas do irmão, como se fossem suas. O v. 4 parece aludir ao respeito para com a vida animal.
5
A lei parece proibir qualquer perturbação da ordem da natureza. E parece aludir também a certas práticas do culto cananeu, onde havia prostituição sagrada.
6-7
O respeito à maternidade não se restringe ao mundo humano: deve-se respeitar também a maternidade dos animais.
8
O bem particular de uma pessoa não pode prejudicar o bem comum, e sim beneficiar a todos. Esta lei faz pensar nas condições de segurança na moradia, trabalho, transporte, ambientes de lazer etc.
9-12
Segundo o pensamento dos israelitas, Deus criou separação entre os seres (Gn 1). Misturar coisas diferentes seria introduzi-las na esfera de Deus, tornando-as "consagradas". O v. 12 alude provavelmente à veste típica do israelita, um dos sinais de sua nacionalidade.
13-21
A lei visa a proteger a fama da mulher, dando-lhe o direito da defesa. O clima é patriarcal e, por isso, não exige a mesma coisa do homem. Note-se que o fato não é considerado como ofensa pessoal, mas como desordem social.
22
A lei é um comentário de 5,18. O adultério é visto como desordem social.
23-27
Juridicamente, estar prometida em casamento era mesmo que estar casada, ainda que o casamento não estivesse consumado. O caso, portanto, é o mesmo do v. 22, com a atenuante dos vv. 25-27.
28-29
Tanto aqui como nos casos anteriores, não está em questão a moralidade  do ato sexual, mas um problema de justiça. Nos vv. 28-29, a jovem violentada seria recusada para outro casamento.
23
1
"Estender o pano do manto" sobre a mulher quer dizer casar-se com ela. "Retirar o pano do manto" é um atentado aos direitos do marido.
2-9
Durante as grandes festas a lei prevê um regulamento para a participação na assembléia cultual, onde não podiam participar os castrados, certamente pessoas que serviam nos santuários cananeus e  os bastardos,  isto é,  os filhos de casamentos  com estrangeiros. Os povos que podiam participar ou não dessas assembléias, provavelmente eram aqueles que estavam em relações amigáveis e hostis.
10-15
Javé está sempre aliado ao povo na luta contra os inimigos. Por isso, exigem-se algumas normas de higiene que adquirem caráter religioso.
16-17
O escravo estrangeiro podia refugiar-se em Israel. Um povo que foi libertado não submete outros à escravidão, mas permite que vivam livres no seu meio como irmãos.
18-19
A prostituição sagrada, praticada principalmente pelos cananeus, era um meio mágico de se unir com a divindade.
20-21
Num povo de irmãos, o empréstimo é partilha com o irmão necessitado, e não investimento para obter lucro. O estrangeiro aqui indica provavelmente uma pessoa ou grupo hostil, interessado em tirar proveito; nesse caso, as relações com ele serão diferentes.
22-24
A pessoa deve estar consciente do compromisso que assume espontaneamente com Deus.
25-26
Numa sociedade verdadeiramente fraterna e fundada na partilha, os bens necessários à vida não são propriedade de ninguém, quando está em jogo a sobrevivência. Isso, porém, não confere o direito de prejudicar o próximo.
24
1-4
Esta lei visa a restringir o abuso de casos de divórcio; para isso a necessidade de documentos e a proibição de novo casamento com a divorciada. O texto é resultado de uma mentalidade patriarcal: o homem é que toma todas as decisões, e quem fica contaminada é a mulher. Jesus anula completamente essa lei, libertando o matrimônio de uma visão legalista (cf. nota em Mc 10,1-12).
5
Cf. nota em 20,1-9. Aqui salienta-se o direito à formação do lar na intimidade e na alegria.
6
A penhora é uma forma de pressionar o pagamento de uma dívida. Não existe esse direito de tirar de uma família o necessário para a sua sobrevivência. O moinho caseiro era usado para fazer o pão de cada dia.
7
A vida humana não pode ser transformada em mercadoria. E a pessoa não pode ser usada como fonte de lucro, explorando sua força de trabalho ou o seus próprio ser.
8-9
Cf. notas em Lv 13-14. Sobre o episódio de Maria, cf. Nm 12,10-15.
10-13
O direito de cada um termina onde começa a necessidade do outro. No caso de penhores do credor não tem o direito de violar a intimidade do devedor, nem  de humilhá-lo: o devedor é que escolherá o que poderá dar como penhor. Sobre o manto do pobre, cf. nota em 24,6. Note-se bem: a bênção é dada pelo pobre; em outras palavras, só há justiça quando o pobre abençoa.
14-15
O salário é  uma forma de remuneração injusta porque, através da exploração da força de trabalho, o patrão tem sempre maiores lucros e o assalariado fica sempre mais empobrecido. Dentro desse conflito, a lei do Deuteronômio procura  conter a exploração do assalariado feita através da retenção do salário. Tal retenção significa o não pagamento do salário, ou também o pagamento de um salário que não possibilita ao trabalhador uma vida digna; e isto só se obtém quando ele participa de uma distribuição equitativa da renda (salário real). Mais uma vez o trabalhador pobre se torna juiz: é ele quem acusa o pecado.
16
Cada um é responsável por seus próprios atos. Esse princípio é uma inovação na legislação bíblica e será desenvolvido por Jr 31,29-30 e Ez 14,12-23; 18; 33,10-20.
17-18
O direito deve proteger e fazer justiça aos pobres e fracos, que não têm dinheiro nem poder para defender seus próprios direitos. A justiça para com os oprimidos é o sinal da aliança com o Deus libertador.
19-22
No ambiente agrário, o povo costumava deixar para trás alguma coisa como oferta para a divindade. O Deuteronômio transforma esse costume em gesto religioso-social: a oferta a Javé fica para os pobres.
25
1-3
Mesmo que se aplique uma punição justa, ninguém tem direito de humilhar o culpado, lesando-o fisicamente. A presença do juiz e o limite da punição são medidas para evitar arbitrariedades.
4
Costumava-se debulhar as espigas com a força de animais em peso sobre elas. Esta lei não se preocupa apenas com os animais, mas principalmente com os trabalhadores: eles têm o direito de aproveitar o produto do próprio trabalho.
5-10
Cf. nota em Gn 38,1-30. O Deuteronômio restringe esta obrigação somente ao irmão que mora junto.
11-12
Não se trata de defender o pudor, mas de respeitar a vida e a geração, que a mulher expõe ao perigo com esse gesto.
13-16
A lei mostra que a fraude no comércio é uma abominação para Javé, porque ele quer justiça nas relações econômicas. O comércio é uma das principais formas de explorar o pobre. Cf. notas em Am 8, 4-8 e Mq 6,9-16.
17-19
O texto se refere ao episódio de Ex 17,8-16. Segundo o Deuteronômio, os amalecitas violaram a moral do deserto. atacando pessoas cansadas e doentes. Aproveita-se dos fracos e indefesos é não temer a Deus. 
26
1-11
A  cada ano, as famílias realizam o seu ritual. Ao mesmo tempo reconhecem as promessa cumprida e, cheias de gratidão, fazem a oferta dos primeiros frutos da terra, recitando a grande profissão de fé. Trata-se de um “Credo histórico”,  isto é, uma fé que reconhece o Deus vivo presente e agindo na história do povo. O acontecimento fundante dessa história é o fato de que Javé se aliou a um grupo de escravos para o libertar e lhe dar uma terra, onde poderia organizar uma sociedade alternativa justa e fraterna. Portanto, a fé do povo de Deus é uma atitude eminentemente prática: é um compromisso com o Deus libertador que organiza o povo, tirando-o da escravidão e dando-lhe a vida. O final da celebração (VV. 10-11) é um grande banquete de confraternização, onde a partilha dos frutos da terra se faz num clima de festa: a maior alegria do povo é celebrar a fé no Deus libertador.
12-15
Sobre o dízimo trienal. cf. nota em 14,22-29. O verdadeiro culto que Javé quer é a justiça, que se torna concreta na partilha dos bens. Desse modo o culto se torna uma grande instrução, pois ensina o povo a formar uma sociedade onde todos tenham acesso aos bens da vida. O v. 14 supõe o culto a Baal, que morria depois da colheita e ressuscitava na primavera (luto, impureza e morte). Note-se que a oferta a Javé (o que estava consagrado) é recebida pelos deserdados; estes são o sacramento da presença do Deus libertador.
16-19
A verdadeira religião consiste em viver em aliança com o Deus do êxodo. A aliança é uma relação de compromisso mútuo. Javé se compromete a ser o Deus do povo, libertando e dando a vida, se o povo puser em prática a sua vontade. Por outro lado, o povo se compromete a ser reconhecido como povo próprio de Deus, se puser em prática a sua vontade. O centro da aliança, portanto, consiste em realizar a vontade de Javé: empenhar-se na luta pela libertação e vida de todos. Assim, o povo de Deus é reconhecido na história como povo sábio, em íntima comunhão com Deus (cf. 4,6-8).
27
1-10
As pedras gravadas com a lei deuteronômica (mandamentos e estatutos) serão o testemunho a  favor ou contra Israel. Elas comprovarão a fidelidade ou infidelidade do povo para com o Deus da aliança.
11-26
Temos aqui um texto antigo, que interrompe a seqüência do livro. Trata-se de uma lista de ações secretas, que dificilmente viriam a público para serem julgadas. Amaldiçoando a pessoa que comete, o texto obriga em consciência, com a aprovação popular (Amém = Assim seja).
28
1-14
As leis do Deuteronômio projetam e abrem perspectivas para a construção de uma sociedade alternativa, onde todos possam ter acesso à liberdade e à vida. Para que isso aconteça, é necessário o compromisso de pôr em prática toda essa legislação. Assim fazendo, o povo receberá as bênção, que significam vida, prosperidade, abundância, paz, e sobretudo o reconhecimento de que é um povo consagrado a Javé, o Deus vivo que gera liberdade e vida.
15-68
A infidelidade ao projeto de Javé, conforme é apresentado nas leis do Deuteronômio, acarretará para o povo as maldições. Estas significam perder a vida, a prosperidade, o fruto do trabalho, a saúde e finalmente a independência política.Os vv. 47-68 descrevem com pormenores uma situação de exílio. Talvez tenham sido escritos durante o exílio na Babilônia, depois da queda de Jerusalém em 586a.C.
28,69-29,7
O povo é convidado a rever a própria história a fim de compreender que Javé, o Deus libertador, está presente, e convida para uma aliança.
29
8-14
A aliança com Deus libertador engloba o povo todo, todas as categorias de pessoas, e permanece aberta às gerações futuras ("aquele que não está aqui conosco hoje"). Javé se torna o Deus de Israel, e Israel se torna o povo de Deus. A condição é por em prática toda a legislação do Deuteronômio ("pacto sob condição").
15-20
No momento da aliança, é relembrada a condição fundamental: abandonar os ídolos das nações, para servir unicamente a Javé, o Deus que gera liberdade e vida para todos. O maior desvio da aliança seria afirmar teoricamente o culto a Javé, e na vida prática servir a outros deuses.
21-27
A infidelidade à aliança trará infalivelmente a ruína de Israel. Cf. nota em 28,15-68.
28
As "coisas escondidas" são mistério de Deus e a maneira como ele dirige a história. A Bíblia não nos mostra o que Deus é em si, mas o que ele quer, ou seja: que a humanidade aprenda o caminho da justiça e construa uma relação social fraterna e igualitária. O Deuteronômio procura indicar o caminho para essa justiça. Nas não basta saber; é preciso praticar.
30
1-10
O texto é da época do exílio. A infidelidade causou as maldições anunciadas em 28,15-68. Tudo perdido? Não. Abre-se uma esperança: o povo deve meditar sobre a experiência histórica, converte-se novamente para Javé e obedecer-lhe radicalmente. Então o processo histórico mudará: o povo será novamente reunido, tomará posse na terra e terá um novo tempo de bênçãos
11-14
O Deuteronômio projeta o caminho de uma sociedade fraterna e igualitária: a justiça. O povo não pode desculpar-se perguntado: “O que devo fazer?”  O caminho já está ao seu alcance. Basta meditar nele, mudar a consciência e organizar a prática.
15-20
A vida e a morte, a felicidade e a desgraça dependem da opção histórica que o povo faz entre Javé, o Deus da liberdade e da vida, e os ídolos, que produzem escravidão e morte. O Deuteronômio primitivo termina com este apelo: "Escolha a vida... amando a Javé seu Deus... porque ele é a sua vida e o prolongamento de seus dias".
31
1-8
A designação de Josué como líder do povo já prepara a narração do livro de Josué. Note-se que as instruções dadas ao povo (v. 6) e a Josué (vv. 7-8) são as mesmas: o chefe não está acima de ninguém; sua função é ser mediador entre Deus e o povo.
9-13
A ,leitura periódica desse grande projeto de uma nova sociedade procura manter viva a consciência do ,projeto e sustentar a luta para realizá-lo. Note-se que o Deus teronômio todo é aprendizado do "temor de Javé" (v. 12, cf. nota em 8,6-20).
14-23.28-30
Estão juntos o lider do êxodo e o líder da instalação da terra prometida. O cântico de Moisés (cap. 32) é, na realidade, uma leitura da história na terra, mostrantdo a fidelidade de Javé e a infidelidade de  Israel.
24-27
A arca da aliança é o símbolo da presença de Javé. Colocado junto a arca, o Deuteronômio se tornará um testemunho contra o povo, se este não praticar a justiça aí ensinada (cf. 6,20).
32
1-4
Diante de toda a criação, começa o julgamento. A primeira parte apresenta quem é Javé: o único Deus digno de confiança ("Rocha"). Ele é a Justiça me o Direito, porque intervém na história para construir uma sociedade nova, a partir da libertação do pobre e do oprimido.
5-6
Israel é filho degenerado, porque abandonou Javé para seguir o caminho da injustiça. Através do êxodo e da aliança, Javé se tornou o pai e criador do povo, libertando-o da escravidão.
7-14
A história de Israel é uma longa série de benefícios que Javé fez por esse povo. De um grupo marginalizado entre as nações. Javé formou o seu povo próprio, libertando-o da escravidão ("terra deserta") e levando-o para a terra da vida ("terra fértil"). Israel deve sua história  a Javé, e não aos ídolos (v. 12).
15-18
Aos benefícios concedidos a Javé, Israel respondeu com infidelidade, abandonando a Javé para servir os falsos deuses. Quem abandona o Deus da justiça, doador de liberdade e vida, inevitavelmente começa a servir os deuses falsos da riqueza e do poder, que se alimentam de exploração e opressão.
19-25
Abandonado por Israel, Javé também o abandonará, e se servira de outro povo para puni-lo. Deixando o Deus da Justiça, Israel torna-se vítima das nações que servem os ídolos da injustiça ("povo falso").
26-33
Deus havia chamado uma nação estrangeira para julgar Israel. Mas a nação estrangeira não entendeu que devia ser apenas um instrumento de justiça de Javé, e acabou cometendo outra injustiça.
34-44
Deus intervém novamente para salvar o seu povo da opressão e, ao mesmo tempo, punir as nações. Estas, ao invés de se alimentarem a ser instrumentos de Deus, ao invés de se limitarem a ser instrumento de Deus, tornam-se opressoras. A injustiça paralisa o processo histórico num vaivém de contradições que impedem a realização da liberdade e da vida. E Deus intervém nesse processo para libertar e dar vida ao pobre we oprimido, abrindo a história para o futuro da justiça.
45-47
Cf. nota em 30,15-20.
48-52
Cf. nota em Nm 20,1-13.
33
O texto é um dos hinos mais antigos da Bíblia.  Na origem, era talvez um salmo dedicado às vitórias de Deus em benefício de Israel (vv. 2-5 e 26-29). O salmo foi dividido em partes, enfeixando uma série de ditos populares sobre cada tribo. O v. 5, provavelmente, é um testemunho histórico do que foi na realidade a aliança em Moab: um pacto militar entre as tribos, unidas na ideologia de Javé, Deus libertador, para invadir a área central de Canaã.
34
1-9
O mistério que cerca a morte e sepultura de Moisés parece ter finalidade bem clara: o povo não deve mitizar ou adorar a figura de seus líderes, mas assumir o processo de sua própria história.
10-12
O elogio a Moisés, o primeiro profeta de Israel, oferece o modelo de verdadeiro profeta e indica a atividade profética do povo de Deus. Essa atividade consiste em ler, na história presente e na sociedade, os apelos do Deus do êxodo. Ele quer libertar o povo e conduzi-lo na construção de uma história e sociedade novas, voltadas para a liberdade e a vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário