A
catequese no Brasil vai assumindo diversas formas, linguagens e métodos, à
medida que a realidade a interroga. A Igreja no Brasil chega ao século XX com
duas atitudes principais diante dessa realidade: a de condenação e a de
acolhida críticas das mudanças. Essas posturas ainda podemos ver nos cristãos
de hoje diante do mundo que rapidamente se modifica, trazendo sempre desafios à
evangelização. Podemos começar nos perguntando: que situações teriam ocorrido
no Brasil, entre os anos de 1.800 e 1900, que influenciaram a forma de a Igreja
se organizar? (Conversa em Grupo).
Separação
entre Igreja e Estado
A
virada do século, para os brasileiros, foi um período de intensas mudanças:
econômicas, políticas, sociais e culturais. O fato que mais demonstra isso foi
a proclamação da República, que mudou a forma de organização do estado
brasileiro. Entre essas mudanças, estava a instauração do Estado laico, ou
seja, uma forma de governo fundada no princípio de que o poder religioso não
deveria influenciar na esfera pública, pois a decisão de seguir uma religião é
de cunho privado. Houve muitas críticas por parte dos católicos, visto que,
entre outras questões, a igreja já não poderia intervir, com a mesma força de antes,
nas decisões político- sociais. Mesmo os católicos se dividiram diante dessa
situação: alguns defenderam a monarquia (no estilo que vinha sendo exercida até
então, em relação direta com a Igreja Católica) e outros, a república, que
acenava com maior liberdade política e da própria Igreja.
Assim,
sem dependência do governo, como afirma frei Bernardo Cansi, a Igreja buscou
organizar, com maior autonomia, a catequese, as dioceses e a ação pastoral.
Vieram da Europa para o Brasil diversas congregações religiosas, como os maristas
e os lassalistas, que muito contribuíram (e ainda o fazem) para a educação
religiosa em colégios. De outro lado, não querendo perder os recursos para suas
obras, muitos membros da hierarquia da Igreja uniram-se à burguesia em troca de
financiamento de construções e ações sociais (colégios, hospitais, asilos,
igrejas etc.). Aquela aproximação anterior com os mais pobres, principalmente
índios, negros, camponeses e operários, não foi a grande preocupação da Igreja
nesse momento histórico.
Educadores
da fé
No
início da República, entre as vozes da Igreja no Brasil, uma que se fez ouvir
com fervor foi a do padre redentorista Júlio Maria. O sacerdote tinha como lema
“catolicizar” o Brasil” e, para isso, via a importância do púlpito e também da
imprensa. Acreditava que era preciso unir o povo e a Igreja, sem privilégios do
governo. Valorizava a democracia e propunha uma evangelização junto as classes
populares, dando grande destaque às questões sociais. O caminho proposto por
padre Júlio Maria, para a catequese, era o de assumir a cultura e a
religiosidade populares. No entanto, esse apelo não foi seguido e a catequese,
assim como praticamente toda a ação pastoral, não teve um rosto brasileiro.
Também
se destaca nessa época o monsenhor
Álvaro Negromonte, pernambucano que trabalhou em Belo Horizonte, onde
criou o Boletim Catequético. A convite de Dom Helder Câmara, foi para o rio de
Janeiro, onde assumiu o Departamento de Ensino Religioso daquela arquidiocese e
lecionou, no Seminário São José, a disciplina “pedagogia catequética”, tema de
um de seus livros. Seus manuais de ensino religioso, muito aceitos e utilizados
no país, fundamentavam-se na Sagrada Escritura, principalmente nos evangelhos e
na liturgia. O eixo central do seu método era a reflexão da doutrina, da moral
e liturgia católicas. Seu campo de atuação era a escola, o que levou a
catequese a assumir a linguagem, os métodos e a pedagogia dessa instintuição de
ensino. Frei Bernardo Cansi a denomina “catequese escolarizada”. Hoje, a visão
construída é que ensino religioso e catequese se complementam, embora sejam
ações diferentes.
Catequese
apologética
Nessa
época, a Igreja no Brasil assumiu um catolicismo romantizado, de inspiração
tridentina, em que se valorizava mais os
aspectos doutrinário e moralista, centrado no clero e nos sacramentos, e a
organização se centrava na paróquia conforme explica Henrique Cristiano José Matos.
Algo
novo surgiu com Pio X, eleito papa em 1893, que, preocupado com a “ignorância
religiosa”, escreveu a encíclica Acerbo Nimis em 1905, a primeira sobre catequese.
Pio X também escreveu o Catecismo da Doutrina Cristã, que logo foi assumido
pela Igreja no Brasil. Numa reunião em Aparecida (SP), em 1904, os bispos
brasileiros estudaram esse catecismo e, em 1915, mostram-se favoráveis à
aquisição e uso do Catecismo do Concílio de Trento para a catequese com adultos.
Apontam como conteúdo fundamental: o Símbolo dos Apóstolos (Credo), os
sacramentos e os sacramentais, os dez mandamentos e os mandamentos da Igreja, a
oração, a graça e os conselhos evangélicos, as virtudes, o pecado e os
novíssimos (céu, inferno, purgatório...).
Salientam também a importância de falar
do papa, do “primado e do magistério infalível”.
Nossos
bispos, em 1939 no Rio de Janeiro, voltam a se encontrar para refletir sobre a
catequese. Foi o primeiro Concílio Plenário
Brasileiro. Nesse encontro, os bispos, no entanto, concluem que a ignorância
religiosa é a causa dos grandes males da Igreja e da sociedade. Não fazem uma
leitura da realidade social, econômica e política, mas reduzem a visão do mal
ao “não saber” do povo. Veem como inimigos o espiritismo e o protestantismo e
definem como solução para defesa da fé cristã (apologética) o forte teor
doutrinário da catequese.
Para
conversar:
1)-Como
percebemos a influência dessas idéias e metodologias catequéticas em nossa
formação e nos dias atuais?
2)-O
que essas propostas tem de riqueza e que limites apresentam?
Para
rezar:
Rezemos
por todos os leigos e leigas, religiosos e religiosas e sacerdotes que muito
fizeram pela nossa catequese. Que aprendamos com eles a valorizar a educação da
fé, e a promover, sempre mais, a reflexão profunda e madura de nossa ação
catequética.
Cantemos:
“Vinde , Espírito de Deus, e enchei os corações dos fiéis com vossos dons...”
(ou outro conhecido da comunidade).