sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A CATEQUESE NO BRASIL: ORGANIZAÇÃO E INDENTIDADE

A catequese no Brasil vai assumindo diversas formas, linguagens e métodos, à medida que a realidade a interroga. A Igreja no Brasil chega ao século XX com duas atitudes principais diante dessa realidade: a de condenação e a de acolhida críticas das mudanças. Essas posturas ainda podemos ver nos cristãos de hoje diante do mundo que rapidamente se modifica, trazendo sempre desafios à evangelização. Podemos começar nos perguntando: que situações teriam ocorrido no Brasil, entre os anos de 1.800 e 1900, que influenciaram a forma de a Igreja se organizar? (Conversa em Grupo).

Separação entre Igreja e Estado

A virada do século, para os brasileiros, foi um período de intensas mudanças: econômicas, políticas, sociais e culturais. O fato que mais demonstra isso foi a proclamação da República, que mudou a forma de organização do estado brasileiro. Entre essas mudanças, estava a instauração do Estado laico, ou seja, uma forma de governo fundada no princípio de que o poder religioso não deveria influenciar na esfera pública, pois a decisão de seguir uma religião é de cunho privado. Houve muitas críticas por parte dos católicos, visto que, entre outras questões, a igreja já não  poderia intervir, com a mesma força de antes, nas decisões político- sociais. Mesmo os católicos se dividiram diante dessa situação: alguns defenderam a monarquia (no estilo que vinha sendo exercida até então, em relação direta com a Igreja Católica) e outros, a república, que acenava com maior liberdade política e da própria Igreja.
Assim, sem dependência do governo, como afirma frei Bernardo Cansi, a Igreja buscou organizar, com maior autonomia, a catequese, as dioceses e a ação pastoral. Vieram da Europa para o Brasil diversas congregações religiosas, como os maristas e os lassalistas, que muito contribuíram (e ainda o fazem) para a educação religiosa em colégios. De outro lado, não querendo perder os recursos para suas obras, muitos membros da hierarquia da Igreja uniram-se à burguesia em troca de financiamento de construções e ações sociais (colégios, hospitais, asilos, igrejas etc.). Aquela aproximação anterior com os mais pobres, principalmente índios, negros, camponeses e operários, não foi a grande preocupação da Igreja nesse momento histórico.

Educadores da fé

No início da República, entre as vozes da Igreja no Brasil, uma que se fez ouvir com fervor foi a do padre redentorista Júlio Maria. O sacerdote tinha como lema “catolicizar” o Brasil” e, para isso, via a importância do púlpito e também da imprensa. Acreditava que era preciso unir o povo e a Igreja, sem privilégios do governo. Valorizava a democracia e propunha uma evangelização junto as classes populares, dando grande destaque às questões sociais. O caminho proposto por padre Júlio Maria, para a catequese, era o de assumir a cultura e a religiosidade populares. No entanto, esse apelo não foi seguido e a catequese, assim como praticamente toda a ação pastoral, não teve um rosto brasileiro.
Também se destaca nessa época o monsenhor  Álvaro Negromonte, pernambucano que trabalhou em Belo Horizonte, onde criou o Boletim Catequético. A convite de Dom Helder Câmara, foi para o rio de Janeiro, onde assumiu o Departamento de Ensino Religioso daquela arquidiocese e lecionou, no Seminário São José, a disciplina “pedagogia catequética”, tema de um de seus livros. Seus manuais de ensino religioso, muito aceitos e utilizados no país, fundamentavam-se na Sagrada Escritura, principalmente nos evangelhos e na liturgia. O eixo central do seu método era a reflexão da doutrina, da moral e liturgia católicas. Seu campo de atuação era a escola, o que levou a catequese a assumir a linguagem, os métodos e a pedagogia dessa instintuição de ensino. Frei Bernardo Cansi a denomina “catequese escolarizada”. Hoje, a visão construída é que ensino religioso e catequese se complementam, embora sejam ações diferentes.

Catequese apologética

Nessa época, a Igreja no Brasil assumiu um catolicismo romantizado, de inspiração tridentina,  em que se valorizava mais os aspectos doutrinário e moralista, centrado no clero e nos sacramentos, e a organização se centrava na paróquia conforme explica  Henrique Cristiano José Matos.
Algo novo surgiu com Pio X, eleito papa em 1893, que, preocupado com a “ignorância religiosa”, escreveu a encíclica Acerbo Nimis em 1905, a primeira sobre catequese. Pio X também escreveu o Catecismo da Doutrina Cristã, que logo foi assumido pela Igreja no Brasil. Numa reunião em Aparecida (SP), em 1904, os bispos brasileiros estudaram esse catecismo e, em 1915, mostram-se favoráveis à aquisição e uso do Catecismo do Concílio de Trento para a catequese com adultos. Apontam como conteúdo fundamental: o Símbolo dos Apóstolos (Credo), os sacramentos e os sacramentais, os dez mandamentos e os mandamentos da Igreja, a oração, a graça e os conselhos evangélicos, as virtudes, o pecado e os novíssimos (céu, inferno, purgatório...).  Salientam também a importância de falar  do papa, do “primado e do magistério infalível”.
Nossos bispos, em 1939 no Rio de Janeiro, voltam a se encontrar para refletir sobre a catequese. Foi o primeiro Concílio  Plenário Brasileiro. Nesse encontro, os bispos, no entanto, concluem que a ignorância religiosa é a causa dos grandes males da Igreja e da sociedade. Não fazem uma leitura da realidade social, econômica e política, mas reduzem a visão do mal ao “não saber” do povo. Veem como inimigos o espiritismo e o protestantismo e definem como solução para defesa da fé cristã (apologética) o forte teor doutrinário da catequese.

Para conversar:
1)-Como percebemos a influência dessas idéias e metodologias catequéticas em nossa formação e nos dias atuais?
2)-O que essas propostas tem de riqueza e que limites apresentam?

Para rezar:
Rezemos por todos os leigos e leigas, religiosos e religiosas e sacerdotes que muito fizeram pela nossa catequese. Que aprendamos com eles a valorizar a educação da fé, e a promover, sempre mais, a reflexão profunda e madura de nossa ação catequética.

Cantemos: “Vinde , Espírito de Deus, e enchei os corações dos fiéis com vossos dons...” (ou outro conhecido da comunidade).

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