Quando contemplamos atentamente a cena do juízo final pintada na Capela Sistina, vemos retratado o trecho de Evangelho de Mateus 25,31-46, em que se anuncia o retorno de Jesus Cristo para julgar a humanidade e separar os que viveram no amor cristão daqueles que o desprezaram. Os primeiros receberão em prêmio a vida eterna junto de Cristo e os outros serão condenados à morte eterna.
Nessa pintura de Michelangelo, um detalhe importante salta aos nossos olhos: Jesus Cristo, ressuscitado e glorioso, encontra-se no centro de todo o afresco. O autor quis evidenciar esta realidade: Jesus Cristo é o centro de toda criação e de toda a história humana. Em sua pessoa, todo o universo e a humanidade adquirem seu sentido pleno. Nele, Deus Pai reconciliou consigo todos os homens de todos os tempos. E, por isso mesmo, Jesus Cristo será o juiz que julgará a todos no final dos tempos.
Na Profissão de Fé afirmamos crer que Jesus, após sua vida, paixão, morte e ressurreição, “subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos”. Esta convicção, cultivada pela Igreja desde seus inícios, indica antes de tudo que este Jesus que se encontra na glória, junto do Pai, retomará, no final do mundo, e será o juiz.
Ao julgar tudo e todos, Jesus vai estabelecer plenamente o reino de Deus que ele mesmo anunciou. O seu evangelho é, portanto, o parâmetro que vai usar para julgar. Ao mesmo tempo, o evangelho é o parâmetro para a vida do cristão; ou seja, uma vida de santidade quer dizer uma vida de acordo com a palavra de Cristo.
A fé nesse evento final de toda a existência do mundo e das pessoas convida o cristão a fazer, a cada dia, séria opção por Jesus Cristo e por seus ensinamentos, pois somente uma vida por ele, com ele e nele terá êxito no momento do juízo final. A liberdade que cada um possui deve ser bem empregada, visto que as conseqüências das escolhas que cada um faz comprometerão o que seremos quando formos chamados a comparecer diante do tribunal de Jesus Cristo.
Além disso, a segunda vinda de Cristo para o juízo mostra que a nossa vida e o nosso mundo são passageiros. Aqui, nós somos peregrinos, pois somos cidadãos dos céus. Por isso, a vida neste mundo deve ser vivida em clima de expectativa e vigilância. Às vezes, nas situações de bem-estar e de prazer, somos tentados a esquecer que um final no espera e vivemos sem um rumo certo. Sobretudo, somos tentados a nos esquecer de viver o amor, cujo modelo é o próprio Jesus, ou seja, o amor capaz de se doar para a salvação das outras pessoas; o amor que se despoja de si mesmo e é capaz até mesmo de enfrentar sofrimento e a cruz para que os outros sejam salvos.
Por fim, acreditar na segunda vinda de Jesus para o juízo motiva o fiel a cultivar no coração a esperança de um mundo melhor, a confiança plena no poder onipotente de Deus e a perseverança que se renova a cada dia, mesmo em situações adversas.
Embora existam tantos problemas em nossa vida e neste mundo, Deus tudo pode e ele mesmo realizará o juízo de todos e de cada um. Embora muitos sejam os desafios para uma vida verdadeiramente cristã, ela é possível, pois Cristo caminha ao nosso lado. Embora tudo possa parecer sombrio e cheio de dificuldades, com perseverança podemos fazer a vontade de Deus e ter uma experiência cheia de sentido. O juízo final nos assegura que Deus vencerá totalmente o Maligno e as suas armas, que são o mal e a morte!
Ao olhar mais uma vez para a obra de Michelangelo, vemos ao lado de Cristo a virgem Maria. Ela acompanha o seu Filho, Jesus, e acompanha cada um de nós enquanto peregrinamos por este “vale de lágrimas”. Podemos contar com ela em todos os momentos, nos bons e nos difíceis! Ela, a “Mãe de misericórdia” e “esperança nossa”, será o auxílio para que vivamos bem neste mundo e nos preparemos a cada dia para o encontro final com o seu Filho.
Ela será nosso consolo e nos ajudará a compreender que o juízo final não será simplesmente momento para acertar as contas, mas será a plenitude da salvação, pois o Cristo juiz é o mesmo que estavam oprimidos pelo diabo” (At 10,38).
Pe. Leandro C. Raimundo
Revista ECOANDO – Formação Interativa com Catequistas – Ano IX – nº 36.
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