O dicionário assim define profetismo: “Doutrina que tem por base as profecias”.
Profeta é palavra originária do grego que significa “aquele que proclama”. Proclamar tem sempre uma conotação religiosa, e profeta é entendido como porta-voz da divindade diante do povo. Contudo, o prefixo “pro”, em grego um advérbio de tempo, tem o significado de “antes”, “de antemão”. Sendo assim, compreende-se que profeta é aquele que prediz. Porém, se analisarmos os escritos mais antigos, o verbo profetizar nunca aparece no futuro. O significado desse verbo é “proclamar abertamente”, “declarar publicamente”, “proclamar em alta voz”.
O profetismo e sua evolução
Inicialmente, o profetismo não surge ligado ao poder, a uma instituição, ou a serviço de um sistema político. Surge independente, mais ao lado da poesia, da inspiração, do transe, da música, do sonho, da visão, da beleza, do popular, da arte, da intuição, da religião, da divindade, da oração e da mística. Estas palavras nos levam a perceber e captar a realidade e a forma de reagir diante do profetismo. Certo estudioso afirma que profetas ou profetisas são pessoas que têm os pés fincados na realidade, mas os olhos, os ouvidos e o coração em sintonia com seu povo e com Deus.
Em quase todos os povos antigos e também no povo da Bíblia havia esses grupos de artistas, cantores ou poetas, grupo populares misturados com a religião, chamados profetas ou videntes, que eram consultados para resolver problemas da vida do povo mediante consulta à divindade (cf ISm 10,10; 19,20-24). Hoje, sabemos que nosso povo também recorre a pessoas consideradas carismáticas, como as benzedeiras, beatos, mães e pais de santo, para resolver alguma situação ligada à vida.
Os governantes e reis do povo de Israel sempre recorriam a um profeta, pois acreditavam que ele daria legitimidade ao exercício do poder. O apoio de um profeta significava o apoio da divindade e a garantia de obediência por parte dos súditos.
Sabemos que houve profetas que deixaram escritos e outros que também falaram em nome de Deus, mas não deixaram seus oráculos registrados.
O movimento profético
Considerando o que a Bíblia chama de “profetas”, podemos afirmar que são pessoas que se articularam em várias épocas da história, num movimento único chamado movimento profético.
Olhando para a história de Israel, percebemos que, em época de crescimento urbano e de crise social, surgiram grupos que se denominavam “irmãos profetas” ou “filhos de profetas” (cf. ISm 19,20; 2Rs 2,3). Profetas e cidades nunca se deram bem, uma vez que o povo de Israel vivia em comunidades rurais. Devido ao crescimento das, surgiam problemas sociais e econômicos resultante do intenso comércio das terras e da ampliação de latifúndios. Os camponeses deixavam suas terras e iam para as terras dos santuários ou formavam grupos de assaltantes (cf. ISm 22,1-5). Os camponeses que ocupavam as terras dos santuários formavam as confrarias chamadas de “irmãos profetas” ou “filhos de profetas/discípulos de profetas”. Samuel (séc. XI a.C.) liderava essas confrarias (cf. ISm 9,11; 19,18-24). Muitas comunidades de profetas se formaram em torno de Samuel, de Elias (cf. 2Rs 2,1-7) e Elizeu (cf. 2Rs 4). Buscavam o contato com a divindade por meio o êxtase, de cantos e danças (cf. ISm 10,5; 19,18; 2Rs 3,15) e atuavam como curandeiros, transmitiam oráculos de Deus, eram conselheiros populares, milagreiros, mas também causadores de instabilidade política (cf. 2Rs 9,1-3). Viviam como agricultores e pastores, porém se reuniam para “sessões”, proféticas com seu mestre na escola dos profetas (cf. 2Rs 4, 38-41; 6, 1-7).
Marlene Maria Silva
Revista ECOANDO - Formação Interativa com Catequistas - Ano X - nº 37.
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