terça-feira, 30 de agosto de 2011

CATEQUISTAS: MULHERES E HOMENS A SERVIÇO DA DIGNIDADE

Reflexões sobre a Catequese e a Questão de Gênero


          Antes de sermos catequistas, operários, jogadores de futebol, professores, administradoras de empresas, enfermeiros, motoristas, etc., somos pessoas e, por isso mesmo, mulheres e homens.
          Enquanto criaturas de Deus, irmãs e irmãos do universo, nascemos fêmea e machos, mas a cultura, a educação e o dia-a-dia vão nos tornando o que somos chamados a ser plenamente: mulheres e homens. Isso já nos diz que ser mulher e ser homem não é uma simples questão biológica de órgãos sexuais, mas um conjunto de comportamentos, atitudes, qualidades, que nos identificam. Não é somente uma questão externa, mas de dentro pra fora.
           A(o) catequista, chamada(o) a educar crianças, jovens e adultos para que vivam uma fé maduram e plena precisa lidar muito bem com a sexualidade, com o seu “ser mulher” e “ser homem”, para colaborar positivamente na formação de pessoas equilibradas, que venham a romper com um mundo preconceituoso e doentio no que se refere ao relacionamento interpessoal.
          Vivemos numa sociedade historicamente marcada pelo preconceito de sexo ou gênero, tendo como vítima pessoalmente a mulher. Embora poucos afirmem que a mulher seja inferior ao homem, na prática, esse preconceito é mais comum do que possamos imaginar. Não é raro em pleno século XXI, ouvimos expressões machistas e discriminadoras da mulher ou atitudes que confirmem essa posição: homens que ganham mais pelo mesmo serviço, mulheres sendo impedidas ou maltratadas em profissões antes reservadas somente para homens, discriminação legal da mulher banalização do feminino nos meios de comunicação, etc.
          Mesmo dentro das nossas comunidades cristãs, que teoricamente ensinam a igualdade essencial de todas as pessoas, muitas vezes uma cultura machista se impõe, deixando as mulheres, que são a grande força da Igreja, em posição inferior nas decisões e atividades evangelizadoras. Sabemos que a Bíblia foi escrita por pessoas de uma cultura que privilegia extremamente o masculino. Embora Cristo tenha dado as mulheres um tratamento muito digno, sempre prevaleceu na história da Igreja a idéia da mulher como dependente e inferior ao homem. Tradicionalmente, o homem é considerado imagem de Deus – geralmente apresentado com características masculinas – e a mulher, igualmente criada à Sua imagem e semelhança, sempre teve dificuldade de ser vista e tratada com a mesma dignidade.
          Muitos atributos foram dados à mulher e ao homem, como se fossem características específicas de cada gênero, isoladamente. Da mulher que se diz emotiva, frágil, indecisa, passional, delicada, bela, pouco racional, feita para o lar e os filhos... Do homem se afirma ter um espírito teórico, abstrato, ser forte, independente, sincero, ativo, inteligente, etc. Na verdade, são rótulos que não correspondem à essência do “ser homem” ou “ser mulher”,mas acabaram sendo aceitos sem questionamentos, gerando a dominação do homem sobre a mulher. Mesmo com tanta luta e organização das mulheres para mudar esses conceitos, especialmente desde a década de 70 do século passado, ainda muitas dessas opiniões estão enraizadas na mente de nosso povo.
          Diante de tudo isso, cabe à (ao) catequista apresentar a verdade completa sobre a mulher e o homem, atendo-se ao seguinte:
           a)mulher e homem foram criados por Deus em igual valor e dignidade. Ambos, juntos, formaram a única e verdadeira imagem de Deus;
           b)a diferença entre “ser mulher” e “ser homem” vai além do sexo. São diferentes no modo de ver o mundo, de analisar as questões da vida, de reagir diante dos desafios. São diferentes também no corpo e nas qualidades interiores, mas ambos se completam em tudo;
           c)o fato de serem diferentes não significa que o mundo deva ser dividido em duas partes e as qualidades da pessoa também. O homem tem dentro de si a “mulher” e a mulher tem dentro de si o “homem”. A tarefa de cada pessoa é integrar dentro de si a feminilidade e a masculinidade. Só na combinação de ambas, ainda que se manifestem de modo diferente, aparece a pessoa em harmonia. Por exemplo, o homem também é intuitivo, emociona-se e chora, assim como a mulher tem competência para a administração e é independente;
           d) não se trata, naturalmente, de nivelar tudo, como se mulher e homem fossem iguais em tudo. Há de se ressaltar e valorizar as diferenças, que são enriquecedoras. Se houve um período em que a mulher batalhou pelo seu espaço e fez muitas conquistas, o homem também precisa achar o seu lugar verdadeiro. Somente no respeito é que teremos relacionamentos mais saudáveis e pessoas equilibradas;
           e) é de grande importância criar essa nova consciência nos catequizandos, valorizando suas diferenças de gênero e mostrando sua igual dignidade. Romper com os rótulos e preconceitos é um grande desafio para a catequese. A (o) catequista tem que ser o primeiro a se entender e se valorizar.

Revista ECOANDO Formação Interativa com Catequistas - Ano III - nº 10.

sábado, 13 de agosto de 2011

É NORMAL

                Olhando para a vida
          É fácil ouvir por aí que é normal: a corrupção na vida política do país e do mundo; a violência; a exploração da natureza; as drogas no meio da juventude; o alto custo da vida; mentir para conseguir vantagens; a prostituição; a gravidez na adolescência; a falta de responsabilidade; o sexo livre, desde que com segurança; a infidelidade nas relações entre homens e mulheres; o extremo entre a riqueza e a miséria; burlar as leis; "fazer as coisas por debaixo do pano"; subornar pessoas, desde que ninguém saiba; roubar dilheiro do povo; falar uma coisa e fazer outra; manter as aparências...
           Mas será verdade que tudo isso é normal? Hoje em dia, é preciso muito discernimento diante da realidade para não "comer gato por lebre", para não dizer que "pau é pedra", para não perder o bom senso, para não fazer da maldade um ideal de vida.
          E as pessoas de fé buscam na palavra de Deus os critérios para esse discernimento.
               A palavra de Deus ilumina a vida - Deuteronômio 30,15-19
          "Veja: hoje eu estou colocando diante de você a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. Se obedecer aos mandamentos de Javé seu Deus, que hoje lhe ordeno, amando a Javé seu Deus, andando em seus caminhos e observando os seus mandamentos, estatutos e normas, você viverá e se multiplicará. Javé Deus o abençoará na terra onde você está entranto para tomar posse dela. Todavia, se o seu coração se desviar e você não obedecer, se você se deixar seduzir e adorar e servir a outros deuses, eu hoje lhes declaro: é certo que vocês perecerão! Vocês não prolongarão seus dias sobre a terra, onde estão entrando, ao atravessar o rio Jordão, para dela tomar posse. Hoje eu torno o céu e a terra como testemunhas contra vocês: eu lhe propus a vida ou a morte, a bênção e a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus descendentes possam viver...".
               REFLETINDO
           Tudo o que somos é fruto, em parte, de nossas relações sociais e de nossa liberdade. É pela convivência que, desde pequenos, aprendemos a nos relacionar, a assumir determinados comportamentos, a entender o mundo, os outros e a nós mesmos e a fazer nossas escolhas.
           A sociedade, filha dessas relações, existe para garantir a vida daqueles que a constituem, de modo que a todos se propicie a oportunidade de crescer como pessoas, tendo como pano de fundo o bem comum.
           A vida exige a capacidade de entender que nenhum homem é uma ilha e que o desafio do encontro de liberdade é constante. A liberdade de um termina onde começa a do outro. As leis, os cosntumes sociais e ética tem a função de garantir, de acordo com as personalidades, aquilo que permite a realização de todos. Fora dessas considerações, torna-se difícil a vida comum e individual, porque ambas são realidades entrelaçadas.
          Quando falamos que algo ou alguém está ou é normal, estamos dizendo que algo ou alguém se encontra numa situação equilibrada, saudável, tranquila...
           Normalidade, para nós, lembra harmonia, paz, estabilidade, naturalidade, aquilo que está de acordo com as "normas", padrões, costumes, leis, comportamentos, da natureza ou de uma sociedade. Do ponto de vista da natureza, normal é aquilo que obedece às leis que regem as diversas etapas do mistério da vida e das coisas constituintes do mundom material. Do ponto de vista social, normal é aquilo que permite o desenvolvimento equilibrado de condições que possibilitam a vida das pessoas em sociedade.
          Quando se diz que uma situação se normalizou, significa que aquilo que estava desorganizado, em crise, em conflito, encontrou um ponto de harmonia, de equilíbrio.
          Quando se diz que " é preciso normalizar", significa que é necessário ajudar as coisas, situações ou pessoas a encontrar um caminho seguro, orientado.
          Quando dizemos que algo é normal, estamos aprovando determinada realidade, estabelecendo-a como orientação, norma, uma referência, um exemplo a seguir.
          Se as pessoas e, com elas, a sociedade começam a achar normais determinadas atitudes, situações e práticas que não promovem a dignidade do ser humano e dificultar a vida de todos, para onde caminharemos? É uma atitude inteligente propor como norma, como referência, como exemplo, realidades que não trazem a felicidade? É normal considerar o mal como se fosse um bem? é normal escolher a morte e não a vida?
          A palavra de Deus faz um convite constante para que as pessoas não considerem como normal o caminho de morte, mas encontrem e trilhem o caminho da vida.
          Catequizar é crescer e amadurecer na capacidade de discernir entre a vida e a morte e, sabiamente, escolher a vida, como discípulo missionário de Jesus Cristo.

Revista ECOANDO - Formação Interativa com Catequistas - Ano VI - nº 22.

sábado, 6 de agosto de 2011

LIBERTA-SE DO MEDO

          Em certa aldeia do Benin viviam três rapazes muito tristes. Parecia que tudo lhes dava errado na vida. Eram pobres: um possuia apenas um remo; o outro, uma flexa e um arco; e o terceiro, um turbante. Sonhavam com uma vida rica e com tudo de bom. Mas sentiam-se angustiados, pois se julgavam incapazes.
          Um dia, um sábio ancião decidiu ajudá-los a perceber que tinham muito valor. Lançou-lhes um desafio: atravessar um rio fundo usando apenas o que tinham.
          Ficaram apreensivos, cheios de medo. Porém, um deles encheu-se de coragem, procurou um tronco, lançou-o na água e começou a remar até chegar ao lado oposto. O segundo viu, do outro lado do rio, uma árvore muito alta. Pegou sua flexa e mirou a árvore, que caiu atravessada entre as duas margens. Correu por cima dela e atravessou o rio. O terceiro ganhou coragem, atou uma pedra na ponta do turbante, que era uma tira bem comprida, e deu-lhe um nó de correr. Atirou a ponta para a outra margem, prendendo-a no ramo de uma árvore. Amarrou a outra ponta do lado de cá e, agarrado ao turbante, conseguiu atravessar o rio.
         Os três se abraçaram felizes. Conseguiram superar o obstáculo! O sábio ancião sorriu e disse-les: " A vida é como um rio: quem arrisca e usa dos recursos e valores que possui, consegue sempre vencer!"
          (cf. Eq. Missão Jovem, Sabedoria dos povos - 100 Histórias, Contos e Fábulas. São Paulo: Mundo e Missão, 2008, p. 56.)
          REVISTA ECOANDO, Formaçãqo Interativa com Catequistas - Ano VII - nº 26.