1
1-11
O exílio na Babilônia terminou em 538 a.C. com o edito de Ciro (vv. 2-4). Os persas seguiam uma política de tolerância e respeito para com os costumes e a religião dos povos dominados, que continuavam politicamente dependentes e deviam pagar tributo.
Os vv. 4-6 relembram Ex. 3,21-22; 11,2-3; 12,35-36 (cf. notas). Esses versículos mostram que o "auxílio" prestado pelos estrangeiros funcionava como indenização pelo trabalho no exílio. A devolução dos objetos do Templo estimula a volta ao culto de Javé. Sasabassar é provavelmente filho do rei Jeconias (cf 2Rs 25,27-30 e nota).
A volta para a terra e a possibilidade de retornar ao projeto de Javé são passos importantes para continuar a luta pela vida e liberdade.
2
1-70
O texto é uma espécie de recenseamento dos grupos que voltaram do exílio numa caravana posterior à mencionada no capítulo 1. Os "doados" eram o grupo que fazia os trabalhos mais humildes no Templo (cf. Js 7,15-27 e nota).
Os vv. 59-63 mostram que a comunidade pós-exílica se constitui a partir do critério de raça. Sobre isso, porém, leiam-se os livros de Rute e Jonas.
3
1-13
Quem recebeu a missão de reconstruir o Templo e reorganizar o culto foi Sasabassar (5, 13-16; 6, 3-5). Mas o sumo sacerdote Josué e Zorobabel é que realizaram obra (5,2). Os repatriados sofrem hostilidade das populações vizinhas, que se estabeleceram em Judá e que agora temem perder seus direitos (cf. 4, 1-5). Mesmo com a situação precária do Templo e com a dificuldade frente aos outros moradores da região, o culto de Javé é retomado e os sacrifícios já começaram a serem oferecidos regularmente. Desse modo, os judeus, apoiados pela política persa, procuram garantir a recuperação do seu antigo território.
4
1-24
A reconstrução do Templo por judeus repatriados conflita com os interesses da população local, formada de judeus pobres, que continuam na Palestina durante a época do exílio (cf. 2Rs 25,12) e de samaritanos. Estes últimos eram resultado de uma mistura de israelitas com gente provinda de outros países (cf. 2Rs 17, 24-41).Por ocasião do exílio, os judeus pobres e os samaritanos ocuparam as propriedades dos judeus exilados que, ao voltar, constituem ameaça para essa população local. Esta, num primeiro tempo, se propões conciliatoriamente a colaborar na reconstrução do Templo, o que certa forma lhes asseguraria a situação. Os repatriados recusam, valendo-se da vantagem que o rei persa lhes concedia.
O texto é complexo. Entre o v. 4 e o v. 24, foram inseridas duas cartas que se adaptambem ao contexto. Mas, na realidade, elas se referem a acontecimentos posteriores (reconstrução da muralha em 445 a.C.). Os dosi grupos conflitantes recorrem ao poder imperial para assegurar cada um dos seus direitos.
5,1-6,18
Após anos de interrupção, a construção do Templo é retomada em 520 a.C., graças ao encorajamento dos profetas Ageu e Zacarias (cf. livros de Ageu e Zacarias). A nova tentativa dos samaritanos para impedir a obra acaba por surtir o efeito contrário: o Templo é reconstruído e oi grupo de repatriados celebra em 515 a.C. a festa da dedicação, religando-se assim à tradição do passado.
6
19-22
A celebração da Pásoa, segundo o Êxodo, marcava o nascimento do povo de Javé e a abertura do tempo da liberdade. Sua celebração, em 515 a.C., marca um novo início na história desse povo. Depois de 50 anos de exílio e vinte anos de dificuldades com a população local, os judeus repatriados agora têm assegurado um novo ponto de coesão: o Templo. Ao mesmo tempo, é colocado um critério para pertencer à comunidade, e isso provocará sérias consequências.
7
1-26
Esdras foi para Jerusalém depois que Neemias reconstruiu a muralha e reorganizou a comunidade judaica (cf. notas em Ne 1-2), provavelmente inspirada na ideologia social dos levitas, conservada na literatura deuteronômica (Dt, Js, Sm, Rs). A ação de Neemias parece não ter agradado aos persas, que temiam pela segurança na fronteira sudoeste, passagem importante para o Egito e a Grécia.
É nesse contexto que devemos avaliar a missão de Esdras. Ele é sacerdote, versado na Lei (Pentateuco). Graças à confiança do soberano persa, ele se torna delegado do rei para reorganizar a comunidade judaica dentro de um esquema religioso centrado apenas no culto. De fato a missão de Esdras era mais interessante a política persa, pois a comunidade judaica se tornaria independente do império (a Lei de Javé é a Lei do rei _ v. 26). Essa política assegurava não só a dependência de Judá, mas também a segurança no limite sudoeste do império.
7,27-8,36:
O texto se apresenta como relato do próprio Esdras. Note-se que a lista coloca em primeiro lugar os sacerdotes, depois os descendentes de Davi e, por fim, os leigos. O Cronista, porém, que é levita, remodelou o texto e acrescentou os versículos 15-20, fazendo os levitas tomarem parte nessa espécie de "êxodo" protegido por Javé (vv. 21-23.31). Desse modo, notamos que o Cronista tem a preocupação de equilibrar o poder sacerdotal, ligado aos dominadores, com a função dos levitas, que representavam os anseios do povo. (Cf. Introdução a Crônicas e a Esdras e Neemias).
9,1-10,17
Temos aqui o início do movimento que culminará com a estruturação da comunidade judaica e, portanto, do que se costuma chamar de judaísmo. Esdras usa o matrimônio como critério para separar definitivamente a comunidade dos repatriados da população local. Esta era formada de judeus que não estiverão no exílio e que se misturaram com elementos dos povos vizinhos (samaritanos, moabitas, edonitas e outros). Desse modo, o conflito latente desde a chegada dos repatriados (cf. 3,3;4,1ss) se manifestou de maneira permanente. Não faltaram vozes de protesto (10,150, mas a maioria dos repatriados concordou com Esdras.
A proibição de casamentos mistos apoiou-se numa nova interpretação de Ex 34, 15-16; Dt 7, 1-4. A medida tomada foi brutal e desumana. Provavelmente havia interesses econômicos em jogo, pois a classe ligada ao Templo se mantinha com recursos dos cofres reais da Pérsia (7,20-23) e gozava da isenção de impostos, tributos e pedágio (7,24). Além disso, Esdras podia dispor de um excedente (7,18) que seria revisto provavelmente para os que estivessem de acordo com as disposições legais.
A medida toamda por Esdras evitava que se desintegrasse a comunidade dos repatriados. No entanto, a tornava econômica e politicamente dependente do governo persa.
10, 18-44
A lista é limitada e, provavelmente, só pretende citar os nomes mais importantes. Podemos perceber que todos os grupos (sacerdotes, levitas, cantores, porteiros e leigos) contraíram matrimônios com mulheres estrangeiras. Isso denota que a tendência dos repatriados era de se misturar com a população local.Podemos dizer, portanto, que a atitude de Esdras demonstra uma intervenção direta da política persa na vida normal dos repatriados.
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