sábado, 10 de junho de 2017

Primeiro Livro das Crônicas

1-10
Os dois livros das Crônicas procuram fazer uma síntese de toda a história de Israel, a fim de justificar e fundamentar o estilo de vida na comunidade judaica, depois do exílio na Babilônia. A primeira parte é reconstituída a partir de listas genealógicas de Adão até Davi. Para o autor, a história é uma sucessão de gerações, que transmitem a tradição.
As listas genealógicas chegam até Davi  e os sacerdotes. Davi é o ponto de partida da esperança messiânica. E os sacerdotes são chefes do culto que, fundamentado nas tradições passadas, fornece uma identidade religiosa para à comunidade judaica.
11
1-9
Davi é introduzido diretamente como único rei de um povo já unido. Seu primeiro ato é conquistar Jerusalém, que será o centro político e religioso de Israel. O v. 9 mostra que Deus abençoa o grande ideal da comunidade pós-exílica: viver como povo unido ao redor, de um só rei e tendo Jerusalém como centro da própria vida.
10-47
Davi, desde o início, tem ao seu lado todo povo, o exército e os homens de valor. Portanto, tem à mão todas as condições para exercer um governo justo, que dê solidez à identidade nacional de Israel.
12
1-23
É o tempo em que Davi vive às escondidas, perseguido por Saul. Os contingentes que chegam de todas as partes para se aliarem a Davi mostram o descontentamento geral e a busca de um novo líder. Desse modo, o autor frisa que a liderança de Davi é desejada por todo o Israel.
24-41
A reunião de todos os homens armados em Hebron representa o povo aceitando Davi como rei. O clima de festa e alegria mostra que o acontecimento é simbólico: na mente do autor, o fato de Davi ser consagrado por todo o povo mostra que Javé o confirma como rei. Doravante, o messianismo davídico se torna uma espécie de sacramento da presença e governo de Javé.
13
1-14
O primeiro ato solene de Davi como rei é reunir todo o povo para decidir democraticamente sobre a maneira como conduzir a Arca para Jerusalém, a fim de transformar a cidade em capital religiosa do povo. Esse ato de Davi mostra que a política não é em si mesma, mas somente meio de levar o povo a construir a própria vida a partir do projeto de Deus. O iniciante com Oza é explicado em 1Cr 15,11-13: ainda não existe um sacerdócio organizado para administrar convenientemente o culto.
14
1-17
Chefe de uma família numerosa. reconhecido pelos reis vizinhos e vitorioso contra os inimigos, Davi chega ao ápice de sua glória. Consultando a Deus antes de tomar uma decisão, o rei mostra que o poder político deve estar a serviço do projeto de Javé, que produz liberdade e vida para todos.
15,1-16,3
A transferência da Arca para Jerusalém é feita em clima de grande festa. E a cidade torna-se santa, que a transforma em cidade de todo o povo. O sacrifício, a bênção e a refeição marcam a comunhão íntima entre Deus e seu povo. A cidade realiza de modo verdadeiramente humano quando o povo oferece generosamente o seu esforço (sacrifício) e quando a autoridade política se coloca de fato a serviço do bem comum (bênção), dando a todos a oportunidade de partilhar igualitariamente os bens e decisões que constroem uma sociedade justa (refeição). Reassumindo esses três aspectos (sacrifício, bênção e rejeição), a Eucaristia será o sacramento da "cidade" que reúne todo o povo.
16
4-36
Apresentando trechos dos salmos 105, 96 e 106, o texto mostra uma celebração do culto pós-exílio. O centro do culto é a proclamação do Deus vivo, que age na história, libertando o seu povo, entrando em aliança com ele, protegendo-o dos inimigos e encaminhando-o para a vida. Esse mesmo Deus é o rei do seu povo, que um dia governará todas as nações, reunindo todos os homens numa sociedade justa e fraterna.
37-43
Até que o Templo seja construído, o seu culto é celebrado em dois lugares: em Jerusalém se celebra o louvor junto à Tenda: em Gabaon se oferecem os sacrifícios. O reconhecimento contínuo do Deus vivo sustenta a caminhada de um povo para construir a cidade segundo o projeto dele.
17
1-15
Cf. nota em 2Sm 7,1-17. No contexto do pós-exílio, um descendente de Davi será o Messias, que virá no futuro para restabelecer toda a grandeza de Israel.
16-27
Cf. nota em 2Sm 7,18-29.
18
1-13
Ao ser escolhido, o rei se comprometia a libertar o povo de seus inimigos. Aqui, o resumo das conquistas de Davi mostra que ele cumpriu essa primeira parte do contrato com o povo (cf. também nota em 2Sm 2,1-5).
14-17
Cf. nota em 2Sm 8,15-18.
19,1-20,3
Cf. nota em 2Sm 10,1-19. Note-se que Davi não acompanha mais o exército (20,1). O autor de Crônicas omite a narração do pecado de Davi, e o castigo que se seguiu (cf. 2Sm 11,1-12,15). Sobre 20,1-3, cf. nota em 2Sm 12,26-31.
20
4-8
Estes episódios ficariam melhor depois de 1Cr 14,8-17, onde narram as lutas contra os filisteus, durante os primeiros anos do reinado de Davi.
21,1-22,1
Cf. nota em 2Sm 24,1-25. Salientando o preço pago por Davi, o autor mostra que o lugar do Templo tem valor imenso. Segundo esse livro, o único erro de Davi transforma-se em ocasião para ele fixar o lugar de culto ao Deus verdadeiro.
22
2-19
Para o autor, é importante frisar que Davi deixou tudo preparado para a construção do Templo em Jerusalém. Desse modo, ele não só é o fundador político da nação, mas também o seu organizador religioso. Portanto, o texto deixa claro que a política não deve ocupar o lugar de Deus., mas promover e preservar a presença de Deus e seu projeto, porque é disso, em última análise, que depende a construção de uma sociedade justa e fraterna. Não se trata de construir templos riquíssimos para Deus, mas de promover a liberdade e a vida do povo. Nisso está o centro do projeto de Deus.
23,1-29,30
Segundo o autor do livro, o último ato de Davi foi convocar uma grande assembléia dos chefes de Israel para proclamar Salomão como rei. Nesse contexto, o autor apresenta um regulamento do culto (23-26), seguido pelo regulamento civil (27). Depois, vêm as instruções sobre o Templo (28) e a solene entronização de Salomão (29). Com isso, o autor procura fundamentar e confirmar a instituição religiosa que dava forma à comunidade pós-exílica. Usando e trabalhando antigas tradições, ele procura fornecer uma organização sólida para um povo que não teve possibilidade de se organizar politicamente devido às dominações estrangeiras.
23
1-32
Antes do exílio na Babilônia, os levitas foram os grandes pregadores que alimentavam a fé no Deus do êxodo e lembravam as conseqüências dessa fé (cf. livro do Deuteronômio). No pós-exílio, eles são reabsorvidos no ambiente do culto como auxiliares dos sacerdotes para questões materiais ligadas ao Templo.
24
1-31
Na verdade, antes do exílio, desde o tempo de Salomão houve atritos ente levitas e sacerdotes (cf. 1Rs 2,26-27), atritos que continuaram depois do exílio. O autor procura sanar essa divisão, a fim de que a unidade religiosa se torne possível. No presente texto, levitas e sacerdotes têm a mesma importância.
25
1-31
No pós-exílio, os cantores têm papel importante no culto, e são divididos, como os sacerdotes, em vinte e quatro turnos. O canto sacro é considerado palavra de Deus, tanto que os cantores são chamados de profetas e videntes. É nesse tempo que o saltério adquire a sua importância como livro de cantos do Templo e como parte integrante da Palavra de Deus.
26
1-32
Centro da vida judaica no pós-exílio, o Templo adquiriu uma estrutura complexa. O bom funcionamento exigia controle (guardas) e orientação (a função dos porteiros era escolher e orientar os peregrinos; cf Sl 15).
27
1-34
Para o autor, Israel deve sua organização civil e militar a Davi. Isso, porém, é apenas uma tentativa de ressaltá-lo como rei ideal.  A organização administrativa e militar, em plano nacional, foi de fato obra de Salomão (cf. 1Rs 4,7-5,8 e notas).
28
1-21
Retoma-se aqui o relato interrompido em 23,2. Recordando a profecia de Natã (cf. nota em 17,1-15  e 2Sm 7,1-17), passa-se diretamente ao tema do Templo e aos projetos para executá-lo da comunidade, sendo então dirigido pelos sacerdotes e não pela dinastia de Davi, a qual não existe mais. Desse modo, o Templo se torna a grande herança projetada por /Deus e preparada por Davi.
29
1-9
Relatando o gesto generoso de Davi, seguido pelas outras autoridades e pelo povo, o autor convida a entregar para o bem comum tudo o que cada um tem de maior valor. No pós-exílio, o bem comum era simbolizado pelo Templo, única instituição que podia preservar, nessas circunstâncias, a tradição viva e manter a identidade do povo, reunindo em torno de Javé, cujo projeto é liberdade e vida para todos. De fato, Deus quer que todos se voltem para a concretização histórica desse projeto, que implica renúncia às posses, a fim de que todos tenham o necessário para uma vida digna.
10-22
Tudo pertence a Deus. O que o homem lhe poderia dar? Apenas reconhecimento, que se extravasa em ação de graças e oferta voluntária daquilo que recebeu de Deus. Com Deus o homem aprende a dar, e de Deus recebe o que dar.
23-30
O primeiro livro das Crônicas termina com breve resumo da vida de Davi. O autor deixa claro que o livro é uma versão da história e indica as fontes que usou, entre as quais os livros de Samuel e Reis.



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