domingo, 24 de outubro de 2010

ORAÇÃO DOS QUE QUEREM CRER

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                          Senhor, olha bem para mim!/ Paira teu olhar sobre a minha vida. / Sei que tu me olhas, que tu me vês, que tu me amas! / Minha vida é toda ela banhada na fé que tu vives! / Creio na vida, Senhor Jesus, na vida que tu me dás, que tu me concedes, que tu me ofereces. / Creio que tua vitória sobre a morte, / sobre a morte dos desânimos, / sobre a morte das falsidades, / sobre a morte das desuniões, / sobre a morte do não-sentido da vida é o que / existe de mais verdadeiro. / Creio solenemente que saído do mundo / da morte tu vives solenemente. / Creio e jubilosamente te afirmo agora: / tu és o vivo que dás vida, / É, Senhor, mas hoje, teu amigo tomé me fez pensar. / Muitas vezes tenho vontade de colocar meus dedos nas tuas chagas, vontade de colocar / minha mão no teu lado aberto para ter certeza... É Senhor, ás vezes eu quero ter certeza... / A fé me parece um risco, parece que eu estou me embrenhando numa noite escura... / Os outros, os outros dizem que é mentira minha fé, os outros dizem que estou enganado e eu fico perplexo, confuso, perdido. / O que parece importante é certos momentos / é responder mal com mal, a desesperança / com maior desespero, falsidade com a falsidade. / Parece que não creio que tu és vivo / e que continuas a me dar forças para viver o teu sonho dourado de fazer do mundo / uma imensa casa de irmãos. / É por isso que nesta hora solene em que estou contigo eu grito com Tomé: Meu Senhor e Meu Deus. / Meu Senhor e meu Deus. / Eu quero loucamente, desesperadamente, intensamente gritar: Meu Senhor e meu Deus.

Livro do Catequista: EUCARISTIA Sacramento da Comunhão. CNBB - Regional NE 3.

domingo, 17 de outubro de 2010

A ESPIRITUALIDADE DO CONFLITO



          Na sala de catequese do centro pastoral, Vitória estava sozinha, guardando as suas coisas. Estava decidida a deixar não só a coordenação como também o trabalho de catequista, após 26 anos de dedicação à comunidade. Nesse tempo todo, havia passado por muitas dificuldades, mas nenhuma como aquela. O novo padre da paróquia chamou-a e simplesmente lhe disse que os seus serviços como coordenadora já não era necessários: ele havia escolhido uma pessoa para coordenar a catequese na paróquia. Era horrível sentir-se desacordada! O ocorrido contrariava tudo aquilo em que ela acreditava sobre a Igreja, sobre comunidade: "Por isso vem, entra na roda com a gente também, você é muito importante...".
          Entre lágrimas, Vitória remexia as lembrancinhas, fotografias, apostilas de formação, guardadas na caixa de papelão. Estaria ela ultrapassada? Não se encaixava mais nos moldes do novo trabalho pastoral, planejado pelo padre? Mas isso não poderia ser resolvido de outro modo? Vitória olhava as fotos do tempo em que começara a ser catequista, na época  das comunidades eclesiais de base, quando estava na paróquia o saudoso monsenhor Garcia. As calças de boca de sino, os rostos felizes, os encontros... Outra foto: um encontro de formação em 1983, sobre o novo documento Catequese Renovada - quanta mudança! Lembrancinhas do chá de bebê do seu primeiro filho: teve de se afastar da catequese por uns tempos - foi tão doído! Cartazes da Campanha da Fraternidade de 1992, fotos da passeata feita com os jovens da crisma, trabalhos de catequizandos do final dos anos 90, o santinho do falecimento da sua mãe, lembranças dos encontros e das celebrações do Projeto Rumo ao Novo Milênio...
          Em meio às recordações, Vitória encontrou uma oração, que ganhou das irmãs carmelitas no dia em que visitou o Carmelo com os catequizandos, por ocasião do mês vocacional. Era a oração de santa Teresa d'Ávila, que dizia:
                    Nada te pertube
                    Nada te espante
                    Tudo passa
                    Deus não muda
                    A paciência tudo alcança
                    Quem tem Deus em sua vida
                    Nada lhe falta
                    Só Deus basta
          "Quem tem Deus em sua vida..." Vitória desatou a chorar: "Como pude pensar em abandonar Deus? Como pude pensar em deixar a catequese? Esta caixa é sacramento da presença de Deus na minha vida. eu estou nas mãos dele. Ele vai fazer superar mais este momento de dúvida e de dor".
          Disposta a procurar o padre para uma conversa franca, Vitória deixou as suas coisas na sala de catequese e foi para a igreja rezar.

          No meio do caminho tinha uma pedra...

          Os Atos dos Apóstolos nos mostram que o grupo dos discípulos de Jesus era chamado, no começo, de " o Caminho" (9,2). Esse "Caminho" de discipulado esteve exposto, desde o início, ao conflito e à perseguição. A mensagem cristã - fermento de renovação não só para o Judaísmo, mas para todo o mundo no século I - era vista por muita gente como ameaça a uma série de estruturas, privilégios e legalismos existentes. Isso porque o Espírito Santo que move o cristão não combina com a sede de poder.
          Seguimento de Jesus e apego ao poder andaram sempre se esbarrando na história.
          O anúncio da vontade de Deus exige a denúncia do que está errado, o que envolve incomodar muita gente que já se instalou confortavelmete na injustiça e no pecado. Por isso, o sofrimento, o abandono e a perseguição são o cálice a ser bebido por todo profeta.
          Foi assim com os profetas de Israel, foi assim com Jesus, com os apóstolos, com os mártires de todos os tempos. Muitas vezes, as forças que sufocam o entusiasmo do cristão não vêm de fora da comunidade, mas de dentro, das disputas por grandeza e poder que tanta divisão e tristeza semeiam entre os seguidores de Cristo. As perseguições que se verificam no interior da própria comunidade são as mais dolorosas, poque geralmente acarretam ao discípulo isolamento e solidão.
          Todo momento de conflito deve ser oportunidade de reavaliação para ambos os lados envolvidos. O desejo de poder cega a autocrítica e estereliza o diálago. Se há desavenças, é preciso reconhecer com humildade os problemas que as causam. Ser humilde é deitar no chão (húmus) da própria vida e olhar-se como se é.
          O fim do conflito espera um gesto de sincera penitência: que ambos os lados rasguem o coração, conversem francamente, reconheçam seus erros e exageros, se aceitem mutuamente e estejam dispostos a começar uma vida nova. Deus nos ama assim; por que não deveríamos também amar e perdoar generosamente o nosso irmão?
          Entretanto, sabemos que há perseguições muito maiores a que os cristãos podem estar expostos, fora e dentro da Igreja.As vezes, um dos lados é bem mais forte e faz quetão de exibir suas garras. Todavia, ninguêm é mais forte que Deus:
                              "Quem nos separará
                              do amor de Cristo? Se
                              Deus é por nós, quem
                                 será contra nós?"
                                  (Rm 8,31.35)
          Deus é sempre mais: maior que os inimigos, maior que o pecado, maior que o medo, maior que o abandono, maior que todas as pedras no caminho dos cristãos.
          Ele, sim é o Rochedo no qual a casa da nossa vida deve estar construida e bem alicerçada.
          Momentos de dúvida e de angústia não são propícios para a tomada de decisões importantes. Somente quando, após muita oração, nos reencontramos sob o cuidado de Deus e vemos o caminho que ele abriu para nós - mesmo em meio ao"vale tenebroso" - é que podemos dar os passos na direção da mudança. E nenhum mal temeremos.

Revista ECOANDO formação Interativa com Catequistas - ano VII - nº 28.

domingo, 3 de outubro de 2010

EUCARISTIA: a mesa da Palavra

                     "Não nos ardia o coração quendo ele nos explicava as Escrituras?" (Lc 24,32)
          
              A PALAVRA CAI NO CORAÇÃO
              A palavra de Deus deve fazer conosco o mesmo que fez com os discípulos de emaús, ou seja, despertar o ardor em nosso coração, o desejo de transformação da nossa vida, da nossa comunidade e de toda a nossa sociedade. É o momento mais propício para que a palavra de Deus caia no nosso coração é justamente quando nos reunimos para celebrar o mistériopascal, ao redor da mesa da Palavra.
              Nós sabemos que a palavra de Deus foi escrita para ser lida em comunidade; não se trata de um livro de autoajuda, tampouco um livro que traz verdades científicas. A Palavra que partilhamos junto à mesa é inspirada pelo Espírito Santo; seu autor é o próprio Deus, que quis conversar com seu povo e para isso "escolheu homens de cuja capacidade e habilidade se serviu a fim de que, agindo neles e por intermédio deles, transmitissem por escrito, como verdadeiros autores, tudo e somente aquilo que o próprio Deus queria" (Constituição Dogmática Dei Verbum, nº 11). Como foram escritas por homens, por uma comunidade, as Escrituras podem trazer incorreções próprias da cultura da época em que foram escritas; como foram por Deus, as verdades que dizem respeito a nossa salvação são incontáveis.
              As Sagradas Escrituras devem ser proclamadas e interpretadas no mesmo Espírito em que foram escritas. É importante perceber que cada texto tem um gênero literário próprio; há poesias, profecias, narrações históricas, cartas... Da mesma forma, saber o contexto histórico em que surgiu o texto e por que foi escrito será de grande utilidade para a correta atualização dele diante da situação em que vive a comunidade ou mesmo o mundo todo. Evidentimente, nem todos os que participam das celebrações poderão compreender de imediato os objetivos do escritor sagrado, mas, quando se abre o coração para aquilo que se ouve, ainda que não se compreenda, a Palavra surtirá efeito. é como nos ensina o profeta Isaías: a palavra de Deus é como a chuva que cai no solo _ ela não volta para o céu sem produzir o seu efeito (cf. Is 55, 12)!
              Portanto, como é Deus quem fala conosco na liturgia da Palavra, devemos preparar com muito zelo e carinho para esse momento. Não somente as pessoas que vão proclamar as leituras, o salmo ou o evangelho, mas também como ouvintes devem se preparar, guardar silêncio e demonstrar respeito pela Palavra.
                  A PALAVRA FRUTIFICA O CORAÇÃO


                  Mas qual é o efeito que produz a Palavra proclamada na assembleia?
                  * O primeiro deles é a conversão pessoal. Quem escuta a Escritura é chamado a ser autêntico discípulo de Jesus, procurando moldar-se ao seu exemplo; é chamado a ser verdadeiro cristão, novo Cristo para o mundo, capaz de amar como ele amou ou, pelo menos, tentar fazê-lo!
                  * O segundo efeito da Palavra em nossa vida é vivê-la em comunidade. Como discípulo de Jesus, o cristão sabe que não deve viver para si, mas para os outros.
                  O ardor que sentimos no coração nos impulsiona a proclamar aquela mesma palavra de vida. Vale lembrar que, ao reconhecerem Jesus na palavra e no pão, os discípulos de Emaús voltaram imediatamente para a comunidade de Jerusalém, onde deram testemunho do Ressuscitado. O nosso testemunho, hoje, dá-se na vivência pastoral; dá-se ao irmos ao encontro das necessidades do outro, sermos o próximo, seja na liturgia, na catequese ou na caridade (amor genuíno que se transforma em ação social).
                  * O terceiro efeito da palavra de Deus, partilhada junto à mesa, manifesta-se no âmbito da sociedade. A história contida na Bíblia é a história é a história de um povo, um povo que sofreu com a opressão dos poderosos, denunciou as injustiças, lutou, caiu e se reconheceu necessitado da misericórdia e da graça de Deus. É o povo de Deus, aquele que primeiro percebeu que Deus se revela à humanidade. Hoje somos esse povo e a história continua, porque Deus continua caminhando conosco e, da mesma forma, nos desafia a ser fermento na massa, a fazer a diferença no mundo.

                                DEUS REVELA-SE NA SUA PALAVRA
                A palavra de Deus está presente nas Escrituras, mas vai além delas. a Constituição Dogmática Dei Verbum indica que Deus se revela " em gestos e palavras intimamente ligados entre si. Os acontecimentos realizados por Deus na história da salvação manifestam e confirmam os ensinamentos e as realidades significadas pelas palavras. as palavras, por sua vez, proclamam os acontecimentos e iluminam o mistério neles contido" (n.2). Cristo é a plenitude da revelação, e nós temos acesso a ele pelas Escrituras, pela Tradição da Igreja e pelo mundo, pois Deus se revela nele. Daí ser necessário lermos também o mundo com suas diversas realidades, pois elas são reflexo do Cristo e podem nos ajudar a entender melhor a Palavra.
               Transformados pela força da Palavra, também devemos estar conscientes de que, muitas vezes, somos um evangelho vivo, o único ao qual muitos de nossos irmãos têm acesso; o único que eles podem ler.