1
1-2
A "história" é ambientada no tempo da dominação assíria. E o autor deixa claro que o tema central se desenvolve em situações que o exilado enfrenta em terra estrangeira.
1,3.3,17
Tobit e Sara representam todos os justos que temem e servem a Deus, e acabam na desgraça e no sofrimento, a ponto de desejarem a morte. Por que as pessoas fiéis a Deus chegam a tal situação?
3-9
Tobit é representado como discípulo fiel do judaísmo. Embora vida em ambiente religioso adverso, ele continua a frequentar Jerusalém, reconhecida como único centro legítimo da religião javista. Sua fidelidade à Lei é muito prática e se realiza na observância dos dízimos, que se destinam a fins religiosos e sociais.
10-22
O autor mistura dados cronológicos. Seu interesse é retratar a situação dos exilados. De um lado, muitos chegaram a ocupar cargos importantes, como Tobit e Daniel. De outro lado, porém, a fidelidade à fé e aos costumes israelitas provocou dificuldades. Aicar, apresentado como sobrinho de Tobit, é na verdade um sábio de origem assíria, autor de famoso escrito: "Sabedoria de Aicar".
2
1-8
Apesar de já ter corrido sério risco de vida, Tobit continua fiel do costumes do seu povo. O não-sepultamento acarretava maldição para o falecido. O v. 8 mostra que muitos exilados, por medo, já haviam abandonado tal costume do seu povo. O não-sepultamento acarretava maldição para o falecido. O v. 8 mostra que muitos exilados, por medo, já haviam abandonado tal costume.
2,9-3,6
Atingido pela cegueira, Tobit nõa pode trabalhar e a mulher tem que sustentar a casa. Apesar da necessidade, Tobit mantém sua retidão e, como Jó (cf. Jó 2,9), torna-se alvo das críticas da própria esposa. Que mais lhe resta? a súplica de 3,2-6 reflete o desespero de quem chega a esta conclusão: é melhor que viver desse modo. Na pessoa de Tobit, reflete-se a história de um povo que perde os bens, a liberdade e, por fim, se vê ameaçado na reputação, ao ser desacreditado até pelos mais próximos. Só lhe resta suplicar a Deus.
3
7-15
Paralela ao caso de Tobit, temos a situação de Sara. Entre os orientais, a honra da mulher era ser esposa e mãe. Não se casar, não gerar filhos ou ser estéril era a maior desgraça: tal mulher não servia para nada. Compreendemos então o desespero de Sara: não querendo magoar o pai com o suicídio, pede ma morte. No Oriente antigo, doenças e morte eram causadas por algum demônio, aqui Asmodeu, cujo nome significa "aquele que faz morrer".
16-17
Será que Deus atende à súplica dos justos? O autor quebra todo o suspense do livro, opara adiantar aqueles que o invocam. Deus, porém, não age de modo mágico; a libertação se realiza através dos acontecimentos da história e da vida. O anjo Rafael, cujo nome significa "Deus cura", é personificação do próprio Deus agindo.
4-12
Chegando à situação limite, os justos suplicam e Deus responde. Sua resposta, porém, não é mágica. Ela se realiza através da vida e nos meandros da história. Cabe aos justos discernir no cotidiano a presença de Rafael, o "Deus que cura", levando os homens a encontrar o caminho, superar as dificuldades e realizar a vida.
4
1-21
O testamento do Tobit reflete, na verdade, a preocupação que um pai justo tem pela educação de seus filhos. São normas que visam, em primeiro lugar, a uma vida com sentido plenamente humano. O centro da educação é o amor e temor de Deus, que se manifestam concretamente na solidariedade e partilha com o próximo. O ensino sobre a esmola (vv. 7-11.16), mais do que simples conselho de filantropia para apaziguar a consciência, envolve distribuição justa e equitativa dos bens: tudo o que é supérfluo para mim, pertence por justiça aos que nada têm. O supérfluo é, de fato, a grande questão: ou se acumula, formando riqueza injusta, ou é distribuído em clima de partilha justa e fraterna.
5
1-23
A graça da cena está no fato de que as personagens ignoram completamente que o rapaz é o anjo Rafael, enviado por Deus. Desse modo, salienta-se a fé, que é a confiança na certeza de que Deus vai agir. No plano da narrativa e da nossa vida, tal ação de Deus se processa de maneira comum, sem nada de aparentemente maravilhoso. Note-se a tensão dramática na família. O filho deve aventurar-se numa viagem a lugar desconhecido. O pai o incentiva, e sua única preocupação é que o filho encontre um guia de confiança. A mãe, pelo contrário, prefere que o filho não se arrisque, mas fique sempre em casa.
6
1-9
O episódio faz entrever o término das desgraças que afligem Tobit e Sara. A receita dada por Rafael mistura elementos de magia e medicina antiga, próprios da época.
10-19
Rafael e Tobias conversam a respeito do matrimônio, um dos temas centrais do livro. No contexto do exílio e dispersão judaica, é importante que os casamentos se processem dentro do clã. Desse modo se evitam a descaracterização do povo e o empobrecimento oi até a total perda das propriedades da família (cf. 4, 12-13 e notas em Nm 27, 1-11; 36, 1-12 e Rt 4, 1-12). Por outro lado, para os antigos, os impulsos instintivos, no caso sexual, eram causados pelos demônios. A derrota de Asmodeu liberta o matrimônio que, deixando de ser fato puramente instintivo, se transforma em relação plenamente humana. No projeto de Deus, o matrimônio não é tragédia que produz morte, mas relação de amor que, abençoada pelo mesmo Deus, liberta e gera a vida.
7
1-17
O texto mostra como era celebrado o matrimônio no tempo da dispersão judaica: o pai entregava a filha ao pretendente, invocava a bênção de Deus e redigia o contrato de casamento. Mais importante é a semelhança de toda a cena com o mundo patriarcal de Gn 24. Salientando o matrimônio dentro do respeito para com as tradições dos antepassados, o autor frisa que os judeus da dispersão, "filhos de profetas", devem testemunhar diante dos pagãos um modo de viver que continue fiel ao Deus de Abraão, Isaac e Jacó (cf 4,12).
8
1-21
Tobias segue cuidadosamente as instruções de Rafael. Elas, na verdade, revelam a vontade do Deus que só quer a vida. A oração de Tobias mostra que o matrimônio não é relação egoísta que diminui as pessoas e gera a morte, mas relação de partilha, onde os parceiros crescem juntos e geram a vida futura. Além disso, o matrimônio é para sempre. Isso não deve ser entendido como prisão perpétua, mas como abertura para a eternidade, pois todo amor verdadeiro tem vocação de eternidade.
9
1-6
O amor traz novo objetivo à vida de Tobias, colocando o dinheiro em segundo plano. O elogio e bênção de Gabael mostram que os filhos são um retrato dos pais, em outras palavras, "pelo fruto se conhece a árvore".
10
1-7
Em contraste com a festa em Ecbátana, temos em Nínive a espera, a preocupação e o desespero. Os pais estão sempre à espera que os filhos voltem!
8-14
O modo como Tobias, Sara, Ragüel e Edna se tratam (filho, pai, mãe, irmão, irmã) mostra que o matrimônio amplia a relação familiar e, ao mesmo tempo, abre a família para a sociedade.
11
1-19
Como o livro de Jó (Jó 42,5), a fidelidade do justo leva à visão de Deus, que transborda em alegria de viver. A alegria da mãe é a presença viva dos filhos. A alegria do pai é ver os filhos bem-sucedidos na aventura da vida.
12
1-22
Quando se pensa em pagar alguma coisa a Deus, ele revela que tudo foi dom gratuito. A grande mensagem do livro de Tobias está no nome de Rafael, que significa "Deus cura". Os conselhos finais do anjo (oração, jejum e esmola) resumem os deveres da pessoa para com Deus, para consigo mesma e para com o próximo. Tais conselhos serão retomados pelo Evangelho (cf. notas em Mt 6, 1-18).
13-14
Da fidelidade e resistência do justo nascem a esperança de liberdade e vida para todos. Os justos são sacramento da presença e ação de Deus da história, que caminha, através deles, para a realização plena da humanidade. O que será preciso para que os justos continuem fiéis e resistam até o fim?
13
1-10
De uma história familiar, o livro se abre para a história do povo e da humanidade. Os judeus espalhados entre as nações são convidados a se converterem, para se tornarem testemunhas da justiça de Deus. É através desse testemunho que também as outras nações recebam o convite para a conversão.
11-18
Retomando o mesmo tema dos profetas, o autor põe na boca de Tobit a esperança de uma Jerusalém reconstruída, onde todos os povos se reunirão como irmãos, ao redor do único Deus. Trata-se da grande esperança: a humanidade toda vai superar a idolatria e realizar historicamente o projeto do Deus vivo. O tema reaparece em Ap 21, 1-22,5.
14
1-15
No momento em que o autor escrevia o livro, a Assíria tinha deixado de ser império fazia séculos. O autor, situa a narrativa no apogeu da assíria e a conclui com uma "profecia" sobre o fim do império. Nessa queda dos opressores, o autor vê uma garantia do poder de Deus que restaura o seu povo. A partir disso, temos o tempo novo, em que todas as nações se reunirão com o povo de Deus, para viver na Terra Prometida. Sobre Aicar, cf. nota 1, 10-22. Nas palavras finais de Tobit, volta uma exortação à prática da justiça, que implica diretamente a partilha dos bens. É assim que se deve entender a prática de esmola.
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