Certamente você já pôde observar um grupo de pedreiros trabalhando na construção de uma casa. Primeiro eles cavam um buraco no chão. Depois, constroem uma estrutura bem resistente: é o alicerce, sobre o qual se erguerá a casa. Toda a firmeza e estabilidade da casa dependem da qualidade do alicerce.
Também a nossa vida espiritual é como uma casa: deve estar apoiada num alicerce bem firme. E esse alicerce não é outro senão a pessoa de Jesus Cristo. Em outras palavras, em toda verdadeira espiritualidade cristã, Jesus Cristo deve sempre estar em primeiro lugar. Deixar que Jesus – e somente Ele – ocupe o centro de nossa vida, o lugar mais importante em nosso coração: isso é o que se pode chamar de espiritualidade cristocêntrica.
Conhecendo Deus por meio de Jesus
É Jesus quem nos mostra quem é Deus: como o Pai é misericordioso, rico em amor e perdão (cf. Lc 15); como é abundante e fecunda a “água viva” Espírito que Ele faz jorrar dentro de nós (cf. Jo 4). Cristo é a única Porta para o acesso ao mistério do Deus Vivo, do Deus Trindade. Por isso, para quem é cristão, é sempre nocivo querer encontrar Deus buscando atalhos e deixando Jesus de lado: corre o risco de se construir toda uma religiosidade embasada numa imagem distorcida e falsa de Deus, moldada segundo a “moda” ou os interesses pessoais. Só olha nos olhos de Deus quem primeiro olha nos olhos de Jesus.
Não dá, portanto, para cortar caminho, pois Jesus é o Caminho (cf. Jo 14,6). É estreitando nossos laços de intimidade com Ele, experimentando de perto seu jeito de ser e de amar é que podemos conhecer quem é esse Deus. O amor de Deus vivo e verdadeiro manifestou-se com perfeição no amor concreto de Jesus por todas as pessoas, especialmente pelos pobres, pelos doentes, pelos marginalizados. Conhecemos o rosto amoroso de Deus contemplamos o rosto amoroso de Jesus.
Vivenciar a Espiritualidade de Jesus
A espiritualidade é um jeito novo de viver a vida, de ver o mundo e de agir sobre ele, sob o impulso do Espírito Santo. Na espiritualidade cristã, esse jeito novo de viver não é outro senão o jeito que Jesus viveu. Ele não teve em sua vida outro vento que impulsionasse senão o sopro do Espírito Santo (cf. Lc 4, 1.14.18). Não há, pois, uma outra forma de viver a espiritualidade cristã a não ser procurar se exercitar cotidianamente na vivência da própria espiritualidade de Jesus que:
· Retirava-se em oração para conversar longamente com o Pai (cf. Mc 1,35);
· Deixava-se mover corajosamente pelo Espírito de Deus(cf. Lc 4, 1.14.18);
· Catequizava e formava a sua comunidade de discípulos, enviando-a em missão (cf. Mc. 3, 13ss);
· Fazia-se irmão dos mais fracos, aliviando-os de suas dores (cf. Mt 8, 1-4);
· Posicionava-se contra as injustiças de seu tempo (cf. Mt, 23);
· Aproximava-se dos pecadores, atraindo-se para uma vida nova (cf. Mt 9,9-13; Jo 4,1-30);
· Ensinava as pessoas a construírem um mundo novo de partilha, serviço e paz (cf. Lc 6,30-44);
· Encontrou perseguições e permaneceu firme na missão até a Cruz (cf. Jo 4,34; 18-19).
Seguimento de Jesus: rocha firme de nossa vida espiritual
Procurar manter os “olhos fixos em Jesus” (cf. Hb 12,2) e desenvolver os traços da espiritualidade do Mestre na nossa própria vida é o que se pode chamar de seguimento de Jesus. Seguir Jesus é estar profundamente ligado a Ele e comprometido em atualizar seu jeito no contexto em que vivemos. Seguir Jesus significa, em outros termos, deixar-se apaixonar por Ele e prosseguir sua missão, seu jeito de viver, dentro da realidade do mundo.
Jesus é, pois, a Rocha sobre a qual devemos construir a casa de nossa vida espiritual. Qualquer outra base que lhe queiramos dar não passará de simples areia (cf. Mt 7,24-27). Uma espiritualidade que não está bem alicerçada no seguimento de Jesus tende a ruir com o tempo e as dificuldades.
Assim, a devoção a Maria e aos outros santos, as penitências, as procissões, as atividades pastorais e tudo o mais só tem sentido quando nos levam para Jesus, quando nos fazem mais unidos a Ele, e só. O único centro da vida do cristão – e da Igreja! – ser Jesus Cristo, e mais ninguém. Nossa Senhora, por exemplo, sempre nos pede que voltemos nosso olhar para o seu Filho: “Façam tudo o que Ele lhes disser!” (Jo 2,5). O mesmo se pode dizer dos santos: são nossos amigos, companheiros e modelos na escola do seguimento de Jesus. O apóstolo São Paulo entendeu isso muito bem: Sejam mais imitadores, como eu sou de Cristo” (1Cor 11,1). Também nas nossas atividades de apostolado Jesus deve ser sempre a fonte e a meta: é Ele quem nos chama e nos envia: é o nome d’Ele que deve ser anunciado e é por Ele que as pessoas devem se sentir entusiasmadas.
Contemplando a vida de Jesus
A contemplação dos mistérios da vida de Jesus é uma maneira excelente de rezar e que nos ajuda a desenvolver essa espiritualidade cristocêntrica. Sobre esse jeito de orar, temos muito a aprender com Santo Inácio de Loyola, nos seus Exercícios Espirituais.
O que é contemplar? Contemplar é escancarar as portas e as janelas do nosso coração para admirar a beleza da vida, a beleza do outro, a beleza de Deus. É sentir e saborear interiormente o mistério que se contempla. Mistério não é algo secreto, impossível de ser conhecido, mas é algo – ou alguém – que sempre se revela novo para nós...
O amor contemplativo nos dá acesso ao “mistério” de uma pessoa. A oração de contemplação nos põe em profunda sintonia com Jesus, nos permite perceber quais são os seus sentimentos, ações e reações, que devem também ser os nossos (cf. Fl 2,5). Para isso, a contemplação coloca a imaginação a serviço da oração.
Revista ECOANDO, Formação Interativa com Catequistas, Ano III - nº 9.
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