quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A ESPIRITUALIDADE DO GRUPO DE CATEQUISTAS

                                        Uma história para se fazer pensar.

          Dona Matilde era uma mulher muito devota, mas tinha pouco tempo para os outros.

          Um dia, ela se encontrava trancada no quarto, rezando o rosário, ouviu tocar a campainha. Irritada, foi atender. Era um andarilho pedindo um prato de comida. Rispidamente, ela lhe disse:
          _ Agora não posso, estou rezando!
          Após voltar para o quarto e retomar a sua reza, ouviu novamente a campainha. Dessa vez era a vizinha, que perdera o marido havia poucos dias e queria conversar com Matilde, para desabafar um pouco. Entretanto, a acolhida de Matilde não foi lá essas coisas:
          _ Volte mais tarde, querida, que agora não posso escutar você. Estou rezando o rosário.
          Enquanto rezava, dona Matilde cochilou e sonhou que estava se encontrando com Jesus. Imaginou-se dizendo a ele:
          _ Senhor, como eu gostaria de receber sua visita em minha casa!
          Ao que Jesus respondeu:
         _ Pois é, Matilde, hoje eu estive com você duas vezes e você não me recebeu...

                            Espiritualidade: amizade com Deus, amizade com o irmão.

          É comum ouvimos dizer que uma pessoa espiritual é aquela que reza bastante, que dedica grande parte do seu tempo pessoal à oração. Entretanto, há grande risco em pensar assim, de forma tão estreita.
          Espiritualidade é uma atitude de docilidade e de atenção constante às orientações que o Espírito Santo nos dá. E o vento do Espírito Santo nos dá. E o vento do Espírito sempre nos impulsiona na direção dos outros. Produz em nós um movimento para fora de nós mesmos, fazendo-nos solidários com i caminho dos irmãos e irmãs. Disso podemos ter toda a certeza: nunca o Espírito Santo produz nas pessoas orantes atitudes de egoísmo e de fechamento. O Espírito de Deus é o Espírito da missão: como aos primeiros discípulos, leva-nos para fora do cenáculo e nos enche de entusiasmo, para nos relacionarmos com nosso próximo por meio da linguagem universal do amor (cf. At 2).
          Assim a experiência do martírio de Deus passa necessariamente pela experiência do mistério do outro. No fundo do olhar de nossos irmãos e irmãs – sobretudo daqueles que mais necessitam de nossa palavra de conforto, de nossa mão amiga – podemos reverenciar a presença do Deus altíssimo. Quem nos garante é o próprio Jesus Cristo (cf. Mt 11,40-42; 18,1-4; 25,31-45; Jo 13,12-20): cada um de nós irmãos e irmãs é, para nós, sacrário vivo de Deus.

                                         O castelo interior e o castelo exterior

          A grande Santa Teresa D’Ávila falava da vida íntima de amizade com Deus comparando-a a um “castelo interior”. Estreitar os laços de amizade com Deus significaria, segundo uma bela imagem empregada por Santa Teresa, deixar que o Senhor fosse ocupando mais e mais moradas de nossa alma, até que pudesse chegar e se hospedar nos cômodos mais íntimos de nosso coração, tornando-se Senhor absoluto de nossa vida. Para Deus, segundo a mística carmelita, não pode haver portas trancadas em nosso interior.
          Entretanto, hoje é muito importante falar também na necessidade de construir um “castelo interior” para Deus. Ele habita não só no íntimo de cada pessoa, mas também arma a sua tenda onde há comunhão entre os irmãos. Diz Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos, em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). Desse modo, a presença de Deus se faz mais viva em nossa vida quando estamos unidos em seu nome, vivendo como “um só coração e uma só alma” (At 4,32). Devemos deixar Deus morar não só em nós, mas também no meio de nós. Somos mais amigos de Deus quando somos mais amigos dos outros. E vice-versa: quanto mais diferentes ao nosso próximo, mais nos ocultamos da face do Senhor.

                     O grupo de catequistas: casa em que Deus quer fazer sua morada

          Um modo excelente de construirmos para Deus esse “castelo exterior” é por meio do cultivo de uma espiritualidade do grupo de catequistas. Momentos fortes de oração comunitária e de partilha da vida e da Palavra são fundamentais para os catequistas permaneçam juntos e perseverantes na vocação. Tais oportunidades devem ser bastante valorizadas e preparadas com muito zelo e carinho.
          Todavia, a espiritualidade é atitude de docilidade ao Espírito que atravessa todos os momentos da vida; no grupo de catequistas, ela se alimentará a todo tempo de pequenos gestos de amor e atenção entre os colegas: uma conversa amiga, uma troca de experiências, uma dica legal para dinamizar os encontros, uma oferta de ajuda, um abraço de feliz aniversário... São esses gestos que costuram a tenda de Deus no meio de nós.
          Pode-se ir mais além: o grupo de catequistas de uma comunidade precisa rezar junto e viver unido, para que possa ser para o mundo espelho daquela comunhão que há na própria Trindade Divina: “Que todos sejam um só; como tu, ó Pai, estás em mim e eu em ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que tu me deste, para que sejam um como nós somos um. Eu neles e tu em mim, para que eles sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que tu me enviaste e os amaste, como me amaste a mim” (Jo 17,20-23).
          Que o Espírito nos uma num só corpo, a fim de que sejamos um, para que o mundo creia!

Revista ECOANDO – Formação Interativa com Catequistas – Ano IV – nº 14.