quinta-feira, 29 de março de 2012

PROFETISMO

Definição de profetismo


O dicionário assim define profetismo: “Doutrina que tem por base as profecias”.

Profeta é palavra originária do grego que significa “aquele que proclama”. Proclamar tem sempre uma conotação religiosa, e profeta é entendido como porta-voz da divindade diante do povo. Contudo, o prefixo “pro”, em grego um advérbio de tempo, tem o significado de “antes”, “de antemão”. Sendo assim, compreende-se que profeta é aquele que prediz. Porém, se analisarmos os escritos mais antigos, o verbo profetizar nunca aparece no futuro. O significado desse verbo é “proclamar abertamente”, “declarar publicamente”, “proclamar em alta voz”.

O profetismo e sua evolução

Inicialmente, o profetismo não surge ligado ao poder, a uma instituição, ou a serviço de um sistema político. Surge independente, mais ao lado da poesia, da inspiração, do transe, da música, do sonho, da visão, da beleza, do popular, da arte, da intuição, da religião, da divindade, da oração e da mística. Estas palavras nos levam a perceber e captar a realidade e a forma de reagir diante do profetismo. Certo estudioso afirma que profetas ou profetisas são pessoas que têm os pés fincados na realidade, mas os olhos, os ouvidos e o coração em sintonia com seu povo e com Deus.

Em quase todos os povos antigos e também no povo da Bíblia havia esses grupos de artistas, cantores ou poetas, grupo populares misturados com a religião, chamados profetas ou videntes, que eram consultados para resolver problemas da vida do povo mediante consulta à divindade (cf ISm 10,10; 19,20-24). Hoje, sabemos que nosso povo também recorre a pessoas consideradas carismáticas, como as benzedeiras, beatos, mães e pais de santo, para resolver alguma situação ligada à vida.

Os governantes e reis do povo de Israel sempre recorriam a um profeta, pois acreditavam que ele daria legitimidade ao exercício do poder. O apoio de um profeta significava o apoio da divindade e a garantia de obediência por parte dos súditos.

Sabemos que houve profetas que deixaram escritos e outros que também falaram em nome de Deus, mas não deixaram seus oráculos registrados.

O movimento profético

Considerando o que a Bíblia chama de “profetas”, podemos afirmar que são pessoas que se articularam em várias épocas da história, num movimento único chamado movimento profético.

Olhando para a história de Israel, percebemos que, em época de crescimento urbano e de crise social, surgiram grupos que se denominavam “irmãos profetas” ou “filhos de profetas” (cf. ISm 19,20; 2Rs 2,3). Profetas e cidades nunca se deram bem, uma vez que o povo de Israel vivia em comunidades rurais. Devido ao crescimento das, surgiam problemas sociais e econômicos resultante do intenso comércio das terras e da ampliação de latifúndios. Os camponeses deixavam suas terras e iam para as terras dos santuários ou formavam grupos de assaltantes (cf. ISm 22,1-5). Os camponeses que ocupavam as terras dos santuários formavam as confrarias chamadas de “irmãos profetas” ou “filhos de profetas/discípulos de profetas”. Samuel (séc. XI a.C.) liderava essas confrarias (cf. ISm 9,11; 19,18-24). Muitas comunidades de profetas se formaram em torno de Samuel, de Elias (cf. 2Rs 2,1-7) e Elizeu (cf. 2Rs 4). Buscavam o contato com a divindade por meio o êxtase, de cantos e danças (cf. ISm 10,5; 19,18; 2Rs 3,15) e atuavam como curandeiros, transmitiam oráculos de Deus, eram conselheiros populares, milagreiros, mas também causadores de instabilidade política (cf. 2Rs 9,1-3). Viviam como agricultores e pastores, porém se reuniam para “sessões”, proféticas com seu mestre na escola dos profetas (cf. 2Rs 4, 38-41; 6, 1-7).

Marlene Maria Silva
 
Revista ECOANDO - Formação Interativa com Catequistas - Ano X - nº 37.

quinta-feira, 15 de março de 2012

JUÍZO FINAL

Luis Fernando teve a oportunidade de viajar para a Itália. Em Roma, visitou os museus do Vaticano e pôde contemplar as belíssimas pinturas da Capela Sistina, entre as quais se encontra o maravilhoso afresco do juízo universal, feito por Michelangelo. Impressionado por tanta beleza, Luís Fernando não se esqueceu da verdade de fé ali esboçada com tanto talento: um dia, Jesus voltará para julgar os vivos e os mortos!


Quando contemplamos atentamente a cena do juízo final pintada na Capela Sistina, vemos retratado o trecho de Evangelho de Mateus 25,31-46, em que se anuncia o retorno de Jesus Cristo para julgar a humanidade e separar os que viveram no amor cristão daqueles que o desprezaram. Os primeiros receberão em prêmio a vida eterna junto de Cristo e os outros serão condenados à morte eterna.

Nessa pintura de Michelangelo, um detalhe importante salta aos nossos olhos: Jesus Cristo, ressuscitado e glorioso, encontra-se no centro de todo o afresco. O autor quis evidenciar esta realidade: Jesus Cristo é o centro de toda criação e de toda a história humana. Em sua pessoa, todo o universo e a humanidade adquirem seu sentido pleno. Nele, Deus Pai reconciliou consigo todos os homens de todos os tempos. E, por isso mesmo, Jesus Cristo será o juiz que julgará a todos no final dos tempos.

Na Profissão de Fé afirmamos crer que Jesus, após sua vida, paixão, morte e ressurreição, “subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos”. Esta convicção, cultivada pela Igreja desde seus inícios, indica antes de tudo que este Jesus que se encontra na glória, junto do Pai, retomará, no final do mundo, e será o juiz.

Ao julgar tudo e todos, Jesus vai estabelecer plenamente o reino de Deus que ele mesmo anunciou. O seu evangelho é, portanto, o parâmetro que vai usar para julgar. Ao mesmo tempo, o evangelho é o parâmetro para a vida do cristão; ou seja, uma vida de santidade quer dizer uma vida de acordo com a palavra de Cristo.

A fé nesse evento final de toda a existência do mundo e das pessoas convida o cristão a fazer, a cada dia, séria opção por Jesus Cristo e por seus ensinamentos, pois somente uma vida por ele, com ele e nele terá êxito no momento do juízo final. A liberdade que cada um possui deve ser bem empregada, visto que as conseqüências das escolhas que cada um faz comprometerão o que seremos quando formos chamados a comparecer diante do tribunal de Jesus Cristo.

Além disso, a segunda vinda de Cristo para o juízo mostra que a nossa vida e o nosso mundo são passageiros. Aqui, nós somos peregrinos, pois somos cidadãos dos céus. Por isso, a vida neste mundo deve ser vivida em clima de expectativa e vigilância. Às vezes, nas situações de bem-estar e de prazer, somos tentados a esquecer que um final no espera e vivemos sem um rumo certo. Sobretudo, somos tentados a nos esquecer de viver o amor, cujo modelo é o próprio Jesus, ou seja, o amor capaz de se doar para a salvação das outras pessoas; o amor que se despoja de si mesmo e é capaz até mesmo de enfrentar sofrimento e a cruz para que os outros sejam salvos.

Por fim, acreditar na segunda vinda de Jesus para o juízo motiva o fiel a cultivar no coração a esperança de um mundo melhor, a confiança plena no poder onipotente de Deus e a perseverança que se renova a cada dia, mesmo em situações adversas.

Embora existam tantos problemas em nossa vida e neste mundo, Deus tudo pode e ele mesmo realizará o juízo de todos e de cada um. Embora muitos sejam os desafios para uma vida verdadeiramente cristã, ela é possível, pois Cristo caminha ao nosso lado. Embora tudo possa parecer sombrio e cheio de dificuldades, com perseverança podemos fazer a vontade de Deus e ter uma experiência cheia de sentido. O juízo final nos assegura que Deus vencerá totalmente o Maligno e as suas armas, que são o mal e a morte!

Ao olhar mais uma vez para a obra de Michelangelo, vemos ao lado de Cristo a virgem Maria. Ela acompanha o seu Filho, Jesus, e acompanha cada um de nós enquanto peregrinamos por este “vale de lágrimas”. Podemos contar com ela em todos os momentos, nos bons e nos difíceis! Ela, a “Mãe de misericórdia” e “esperança nossa”, será o auxílio para que vivamos bem neste mundo e nos preparemos a cada dia para o encontro final com o seu Filho.

Ela será nosso consolo e nos ajudará a compreender que o juízo final não será simplesmente momento para acertar as contas, mas será a plenitude da salvação, pois o Cristo juiz é o mesmo que estavam oprimidos pelo diabo” (At 10,38).

Pe. Leandro C. Raimundo

Revista ECOANDO – Formação Interativa com Catequistas – Ano IX – nº 36.