quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Evangelho segundo Lucas

1
1-4
O evangelho de Lucas nasce de uma pesquisa, destinada a escrever ordenadamente o que a Igreja primitiva transmitia através da catequese.
5-25
A esterilidade e velhice mascam a vida desse casal justo, e o tornam objeto de humilhação pública. Zacarias e Izabel representam a comunidade dos pobres e oprimidos, que dependem de Deus. Deus se volta para esses pobres: deles nascerá João, o último profeta da antiga Aliança. João abrirá o caminho para a chegada do Messias, que iniciará a história da libertação dos pobres (cf. nota em Ml 3,22-24).
26-38
Maria é outra representante da comunidade dos pobres que espera pela libertação. Dela nasce Jesus Messias, o Filho de Deus. O fato de Maria conceber sem ainda está morando com José indica que o nascimento do Messias é obra da intervenção de Deus. Aquele que vai iniciar nova história surge dentro da história de maneira totalmente nova.
39-45
Ainda no seio de sua mãe, João Batista recebe o Espírito prometido (1,15). Reconhece o Messias e o aponta através da exclamação de sua mãe Isabel.
46-56:
O cântico de Maria é o cântico dos pobres que reconhecem a vinda de Deus para libertá-los através de Jesus. Cumprindo a promessa, Deus assume o partido dos pobres, e realiza uma transformação na história, invertendo a ordem social: os ricos e poderosos são depostos e despojados, e os pobres e oprimidos são libertos e assumem a direção dessa nova história.
57-66
O nome de João (= Deus tem piedade) é o sinal que evidencia o projeto de Deus sobre a criação e sua missão.
67-80
O cântico de Zacarias é um louvor ao Deus misericordioso que realiza, através de Jesus, a "visita" aos pobres. Em Jesus se manifesta a força que liberta dos inimigos e do medo, formando um povo santo diante de Deus e justo diante dos homens. Desse modo, manifesta-se a luz que ilumina a condição do povo, abrindo uma história nova, que se encaminha para a Paz, isto é, a plenitude da vida.
2
1-7
O recenseamento ordenado pelo imperador era instrumento de dominação, já que possibilitava saber quantas pessoas deviam pagar o tributo. Dentro dessa situação de dominação nasce Jesus, o Messias, que desde o primeiro instante de sua vida se identifica com os pobres.
8-20
Os primeiros a receber a Boa Notícia (Evangelho) são os pobres e marginalizados, aqui representados pelos pastores. Com efeito, na sociedade da época, os pastores eram desprezados, porque não tinham possibilidade de cumprir todas as exigências da Lei. É para eles que nasceu o Salvador, o Messias e o Senhor. E são os primeiros a anunciar a sua chegada. Jesus é o Salvador, porque traz a libertação definitiva. É o Messias, porque traz o Espírito de Deus, que convoca os homens para uma relação de justiça e amor fraterno (cf. Is 11,1-9). É o Senhor, porque vence todos os obstáculos, conduzindo os homens dentro de uma história nova.
21-24
Todo primogênito pertencia a Deus, e devia ser resgatado por meio de um sacrifício. Nessa ocasião também se fazia a purificação da mãe, e se oferecia um cordeiro. Quem era pobre podia oferecer duas rolas ou dois pombinhos, em lugar do cordeiro (cf. Lv. 5,1-8). O Messias nasce como dominado, em lugar pobre e vem pobre, para os pobres.
25-40
Simeão e Ana também representam os pobres que esperam a libertação. E Deus responde a esperança deles. O cântico de Simeão relembra a vida e Missão do Messias: Jesus será sinal de contradição, isto é, julgamento para os ricos e poderosos, e libertação para os pobres e oprimidos (cf. Lc 6,20-26).
41-52
Neste Evangelho, as primeiras palavras de Jesus mostram que toda a sua missão decorre da sua relação filial com o Pai. Isto significa que essa missão de Deus e da realização de sua vontade entre os homens. Contudo, ela se processa dentro do mistério da Encarnação, onde Jesus vai aprendendo a viver a vida humana como qualquer outro homem.
3
1-20
A datação histórica (VV. 1-2) mostra que Lucas coloca os reis terrestres e as autoridades religiosas em contraste com a soberania e a autoridade de Jesus: o movimento profundo da história não se desenvolve no plano das aparências da história oficial. É Jesus quem realiza o destino do mundo, dando à história o verdadeiro sentido.
João Batista convida todos à mudança radical de vida, porque a nova história vai transformar pela raiz as relações entre os homens. É o tempo do julgamento, e nada vale ter fé teórica, pois o julgamento se baseia sobre as opções e atitudes concretas que cada um assume.
21-22
Para Lucas, o batismo de Jesus é um episódio em meio ao batismo de todo o povo. Solidarizando-se com o povo, Jesus começa o tempo do batismo no Espírito, isto é, a formação do povo de Deus que vai construir a nova história. Cf. também nota em Mc 1,9-11.
23-38
Salientando que Jesus é descendente de Adão, Lucas o apresenta como princípio de vida para todos os homens. Isso é frisado também pelo número de gerações (setenta e sete), que é número simbólico,indicando a universalidade: a ação de Jesus vai atingir toda a humanidade. 
4
1-13
Cf. nota em Mc 1,12-13 e em Mt 4,1-11. Lucas inverte a ordem das duas últimas tentações, porque em Jerusalém (Templo) é que acontecerá a suprema tentação e a vitória final sobre ela.
14-21
Colocada no início da vida pública de Jesus, esta passagem constitui, conforme Lucas, o programa de toda a atividade de Jesus. Is 61,1-2 anunciará o que o Messias iria realizar a missão libertadora dos pobres e oprimidos. Jesus aplica a passagem a si mesmo, assumindo-a no hoje concreto em que se encontra. No ano da graça eram perdoadas todas as dívidas e se redistribuíam  fraternalmente todas as terras e propriedades: Jesus encaminha a humanidade para uma situação de reconciliação e partilha, que tornam possíveis a igualdade, a fraternidade e a comunhão.
22-30
A dúvida e a rejeição de Jesus por parte de seus compatriotas fazem prever a hostilidade e a rejeição de toda a atividade de Jesus por parte de todo o seu povo. No entanto, Jesus prossegue o seu caminho, para construir a nova história que engloba toda a humanidade.
31-37: Cf. nota em Mc 1,21-38.
38-41: Cf. nota em Mc 1,29-34.
42-44:
A boa Notícia do Reino é o amor de Deus que provoca a transformação radical das estruturas que escravizam os homens. Para anunciá-la, Jesus vai ao encontro daqueles que ainda não a conhecem.
5
1-11
A cena é simbólica. Jesus chama seus discípulos, mostrando-lhes qual a missão reservada a eles: fazer que os homens participem da libertação trazida por Jesus e que só pode realizar-se no seguimento dele, mediante a união com ele e a sua missão. O convite ao seguimento é exigente: é preciso “deixar tudo”, para que nada impeça o discípulo de anunciar a Boa Notícia do Reino.
12-16:
Cf. nota em a Mt 8,1-4. Enquanto o leproso curado testemunha a ação de Jesus, este se retira para refontizar a sua missão em Deus Pai, e assim continuar a sua obra.
17-26: Cf. nota em Mc 2,1-12.
27-32: Cf. nota em Mc 2, 13-17.
33-39: Cf. nota em Mc 2, 18-22. Lucas salienta que quem está habituado às estruturas do velho sistema, e não se predispõe à mudança, jamais aceita a novidade trazida por Jesus. (v. 39).

6
1-5:
Sendo senhor do sábado, Jesus está acima das leis, mesmo religiosas, que os homens elaboram. Ele relativiza essas leis, mostrando que elas não têm sentido quando impedem o homem de ter acesso aos bens necessários para a própria sobrevivência.
6-11:
Jesus mostra que a lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida para o homem. Por isso, os que preferem ficar com o velho sistema se reúnem para planejar a morte de Jesus: ele está destruindo as idéias de religião e sociedade que eles tinham.
12-16:
Jesus escolhe os doze apóstolos, que formarão o núcleo da comunidade nova que ele veio criar. A palavra apóstolo significa aquele que Jesus envia para continuar a sua obra.
17-26:
O povo vem de todas as partes ao encontro de Jesus, porque a ação dele faz nascer a esperança de uma sociedade nova, libertada da alienação e dos males que afligem os homens.
27-36:
A vida em sociedade é feita de relacionamentos de interesses e reciprocidade, que geram lucro, poder e prestígio. O Evangelho revoluciona o campo das relações humanas, mostrando que, numa sociedade justa e fraterna, as relações devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso do Pai.
37-42:
Cf. nota em Mt 7,1-5. Lucas salienta que as relações numa sociedade nova não devem ser de julgamento e condenação, mas de perdão e dom. Só Deus pode julgar.
43-45:
Assim como as árvores são conhecidas pelos frutos, do mesmo modo os homens são conhecidos pelos seus atos.
46-49:
Quem põe em prática a mensagem de Jesus, constrói a vida pessoal e comunitária sobre alicerce firme, que resiste a alienação, aos conflitos e até mesmo à perseguição. Quem fica somente no ouvir e no falar, jamais colabora com a construção da nova sociedade.
7
1-10:
O oficial era "temente a Deus", isto é, simpatizante aos aos seus quadros religiosos. Muitas vezes pode-se encontrar mais fé em pessoas que não pertencem a uma instituição religiosa do que entre aquelas que dela fazem parte.
11-17:
A atividade libertadora de Jesus é a grande "visita" de Deus que vem salvar o seu povo. Essa visita é a manifestação do amor compassivo, que atende aos mais pobres e necessitados.
18-23: Cf. nota em Mt 11,1-6.
24-30:
Nenhum homem do Antigo Testamento é maior do que João Batista. Entretanto, João pertence ao Antigo Testamento, onde as profecias são anunciadas, e não ao Novo Testamento, onde as profecias são anunciadas, e não ao Novo Testamento, onde as profecias já se realizaram.O povo e os cobradores de impostos acolheram. O povo e os cobradores de impostos acolheram a pregação de João Batista (3,10-14), acreditando que, com Jesus, iria surgir uma nova sociedade. As autoridades, convencidas de que não precisavam mudar de vida, foram postas fora do plano de Deus.
9
18-27
Não basta declarar e aceitar que Jesus é o Messias; é preciso rever a idéia a respeito do Messias, o qual, para construir a anova história, enfrenta os que não querem transformações.  Poe isso, ele vai sofrer, ser rejeitado e morto. Sua ressurreição será a sua vitória. E quem quiser acompanhar Jesus na sua ação messiânica e participar da sua vitória, terá que percorrer caminho semelhante: renunciar a se mesmo e às glórias do poder e da riqueza.
28-36
Lucas apresenta Jesus rezando continuamente (5,16; 6,12; 9,18). Com isso o evangelista mostra que Jesus, através de sua palavra e ação, está realizando a vontade do Pai. Na transfiguração aparece claramente esse sentido da oração (v. 35). E a vontade do Pai é que Jesus realize o êxodo (v. 31), isto é, que ele realize, mediante sua morte, ressurreição e ascensão ,  o ato supremo de libertação do povo, acabando com a opressão exercida pelo sistema implantado em Jerusalém.
51-56
Jesus inicia o seu caminho para Jerusalém (cf Introdução). Nessa viagem , Lucas mostra a pedagogia de Jesus, que vai indicando o caminho para aqueles que querem unir-se a ele. Tal processo por ele iniciado vai provocar sérios conflitos com aqueles que não querem mudar o rumo da história. Por enquanto, nem os samaritanos entendem que Jesus vai a Jerusalém para salvá-los. E os discípulos não imaginam que a Samaria será um dos primeiros lugares que eles evangelizarão ao saírem de Jerusalém (At 1,8).
10
1-16
Os discípulos são organizados por Jesus para anunciarem a Boa Notícia no caminho e começarem a realizar os atos que concretizam o Reino. Aqueles que não quiserem  aderir à  Boa Notícia ficarão fora da nova história.
17-20
Os milagres realizados são motivo de alegria para os discípulos que retornam. No entanto, Jesus mostra que são apenas sinais de uma libertação muito mais ampla, que ameaça o domínio de Satanás. A verdadeira alegria dos discípulos é saber que a novidade do Reino está surgindo, e que eles estão participando dela.
25-37
O primeiro a colocar obstáculos  no caminho de Jesus é um teólogo. Este sabe que o amor total de Deus e ao próximo é que leva à vida. Mas, não basta saber. É preciso amar concretamente. A parábola do samaritano mostra que o próximo é quem se aproxima do outro para lhe dar uma resposta às necessidades. Nessa tarefa prática, o amor não leva em conta barreiras de raça, religião, nação ou classe social. O próximo é aquele que eu encontro no meu caminho. O legista estabelecia limites para o amor: “Quem é o meu próximo?  Jesus muda a pergunta: “O que você faz para se tornar próximo do outro?”
38-42
Mais importante do que fazer as coisas, é fazê-las de modo novo. Para isso, é preciso ouvir a palavra de Jesus, que mostra o que fazer e como fazer.
11
29-32
Não é um sinal maravilhoso que leva os homens à conversão, e sim a adesão ao projeto da nova história, manifestado na palavra de Jesus.
12
13-21
No caminho da vida, o homem depara com o problema das riquezas. Jesus mostra que é idiotice acumular bens para assegurar a própria vida. Só Deus pode dar ao homem a riqueza que é a própria vida.
22-34
A aquisição de bens necessários para viver se torna ansiedade contínua e pesada, se não é procedida pela busca do Reino, isto é, a promoção de relações de partilha e fraternidade.
35-48
Esperando continuamente a chegada imprevisível do Senhor que serve, a comunidade cristã permanece atenta, concretizando a busca do Reino através da prontidão para o serviço fraterno. Os VV. 41-46 mostram que isso vale ainda mais para os dirigentes da comunidade, que receberam de Jesus o encargo de servir, provendo às necessidades da comunidade. A responsabilidade é ainda maior, quando se sabe o que deve ser feito (VV. 47-48).
49-53
A missão de Jesus, desde o batismo até a cruz, é anunciar e tornar presente o Reino, entrando em choque com as concepções dominantes na sociedade. Por isso, é preciso tomar uma decisão diante de Jesus, e isso provoca divisões até mesmo no relacionamento familiar.

13
1-9
No caminho da vida há acontecimentos trágicos. Estes não significam que as vítimas são mais pecadoras do que os outros. Ao contrário, são convites abertos para que se pense no imprevisível dos fatos e na urgência da conversão, para se construir a nova história. A parábola (VV. 6-9) salienta que, em Jesus, Deus sempre dá uma última chance.
10-17
O dia de sábado é expressão máxima daquilo que Jesus realiza ao curar a mulher: a comemoração da pessoa libertada. O povo se enche de alegria ao ver como o dia santificado é sinal da vida que Deus dá aos homens, e não um dia de simples rituais obrigatórios pré-estabelecidos.
18-21
Cf. nota em Mc 4, 30-34.
22-30
Jesus não responde diretamente à pergunta. A salvação é universal, está aberta para todos, e não só para aqueles que conhecem a Jesus. A condição é entrar pela porta estreita, isto é, escolher o caminho de vida que cria a nova história.
31-33
A atividade de Jesus provoca temor e reação das autoridades. Jesus não as teme, e continua a realizar a missão que liberta as pessoas e ao mesmo tempo vai levá-lo à morte.
14
1-6
A lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida para o homem.
7-14
Nos VV. 8-11, Jesus critica o conceito de honra baseado no orgulho e ambição, que geram aparências de justiça, mas escondem os maiores contrastes sociais. A honra do homem depende de Deus, o único que conhece a  situação real e global do homem; essa honra supera a crença que o homem pode ter nos seus próprios méritos. Nos VV. 12-14, Jesus mostra que o amor verdadeiro não é comércio, mas serviço gratuito, pois o, pobre não pode pagar e o inimigo não pode merecer. Só Deus pode retribuir ao amor gratuito.
25-35
Seguir Jesus e continuar  o seu projeto (= ser discípulo) é viver um clima novo na relação com as pessoas, com as coisas materiais e consigo mesmo. Trata-se de assumir com liberdade e fidelidade a condição humana, sem superficialismo, conveniência ou  romantismo. O discípulo de Jesus deve ser realista, a fim de evitar ilusões e covardias vergonhosas.

15
1-2
O capítulo 15 de Lucas é o coração de todo Evangelho (= Boa Notícia). Aí vemos que o amor do Pai é fundamento da atitude de Jesus diante dos homens. Respondendo à crítica daqueles que se consideram justos, cheios de méritos, e se escandalizam da solidariedade para com os pecadores, Jesus narra três parábolas. A primeira e a segunda mostram a atitude de Deus em Jesus, questionando a hipocrisia dos homens. A terceira tem dois aspectos: o processo de conversão do pecador e o problema do “justo” que resiste ao amor do Pai.
3-7
A parábola não quer dizer que Deus prefere o pecador ao justo, ou que os justos sejam hipócritas. Ela ressalta o mistério do amor do Pai que se alegra em acolher o pecador arrependido ao lado do justo que persevera.
8-10
A mulher é pobre e precisa da moeda para sobreviver. O amor de Deus torna-o vitalmente necessitado de encontrar a pessoa perdida, para levá-la à alegria da comunhão no amor.
11-32
O processo de conversão começa com a tomada de consciência: o filho mais novo sente-se perdido econômica e moralmente. A acolhida do pai e as medidas tomadas mostram não só o perdão, mas também o restabelecimento da dignidade de filho. O filho mais velho é justo e perseverante, mas é incapaz de aceitar a volta do irmão e o amor do pai que o acolheu. Recusa-se a participar da alegria. Com esta parábola Jesus faz apelo supremo para que os doutores da Lei e os fariseus aceitem partilhar da alegria de Deus pela volta dos pecadores à dignidade da vida.
16
1-8
Jesus elogia o administrador, que soube tomar atitude prudente. O Reino de Deus já chegou: é preciso tomar uma atitude antes que seja tarde demais; converter-se e viver conforme a mensagem de Jesus.
9-13
Os VV. 9-13 fazem diversas aplicações da parábola. O v. 9 recomenda o uso da riqueza em favor dos pobres. Os VV. 10-12 mostram que é impossível ser fiel nas grandes coisas, quando somos negligentes nas pequenas. E o v. 13 urge uma decisão: escolher entre o serviço a Deus e o serviço as riquezas (cf. nota em Mt 6,19-24).
19-31
A parábola é uma crítica a sociedade classista, onde o rico vive na abundância e no luxo, enquanto o pobre morre na miséria. O problema é o isolamento e o afastamento em que o rico vive, mantendo um abismo de separação que o pobre não consegue transpor. Para quebrar esse isolamento, o rico precisa se converter. Nada o levará a essa conversão, se ele não for capaz de abrir o coração para a Palavra de Deus, o que o leva a voltar-se para o pobre. Assim mais do que explicação da vida no além, a parábola é exigência de profunda transformação social, para criar uma sociedade onde haja partilha de bens entre todos.
17
1-10
Lucas reúne aqui sentenças de Jesus sobre o escândalo, a correção fraterna, o perdão, o poder da fé e a necessidade de estar desinteressadamente a serviço de Deus. São atitudes fundamentais para a vida do discípulo de Jesus.
11-19
O ponto alto da narrativa é a fé do samaritano. É fé madura: nasce da esperança (VV. 12-13), cresce na obediência na palavra de Jesus (v. 14) e se manifesta na gratidão (v. 16). Com isso, ele não só recebe a cura, mas é salvo. Sua vida chega à plenitude, ao reconhecer que em Jesus o amor de Deus leva os homens a viver na alegria da gratidão.  A vida que Deus dá em Jesus  é gratuita, é graça.
18
1-8
Insistência e perseverança só existem naqueles que estão insatisfeitos com a situação presente e, por isso, não desanimam; do contrário, jamais conseguiriam alguma coisa. Deus atende  àqueles que, através da oração, testemunham o desejo e a esperança de que se faça justiça.
9-14
Não basta ser perseverante e insistente. É preciso reconhecer e confessar a própria pequenez recorrendo à misericórdia de Deus. De nada adianta o homem justificar a se mesmo, pois a justificação  é dom de Deus.
19
1-10
Zaqueu é o exemplo para qualquer rico que deseja alcançar a salvação. Sua conversão começa com o desejo de conhecer Jesus de perto. Continua, quando de une ao povo para se encontrar com Jesus e acolhê-lo em sua própria casa. A conversão se completa quando Zaqueu se dispõe a partilhar seus bens e devolver com juros o que roubou.
21
12-19
A relação entre Deus e os homens continua através dos discípulos, que devem prosseguir a missão de Jesus pelo testemunho. Contudo, assim como Jesus encontrou resistência, também eles: serão perseguidos, presos, torturados, julgados e até mesmo mortos por continuarem a ação de Jesus. Mas não devem ficar preocupados com a própria defesa. O importante ér a coragem de permanecer firmes até o fim.
23
1-5
As autoridades querem a morte de Jesus, e o apresentam ao governador romano com três acusações que caracterizam toda a atividade de Jesus como uma grande subversão ("subversão entre o povo"): em nível econômico (proíbe pagar o tributo), em nível político (afirma ser rei), ideológico (ensinamento que provoca revolta). Pilatos, porém, declara a inocência de Jesus.
24
13-35
Lucas salienta os “lugares” da presença de Jesus ressuscitado. Primeiro, ele continua a caminhar entre os homens, solidarizando-se com seus problemas e participando de suas lutas. Segundo, Jesus está presente no anúncio da Palavra das Escrituras, que mostra o sentido da sua vida e ação. Terceiro, na celebração eucarística, onde o pão repartido relembra o dom da sua vida e refontiza a partilha e a fraternidade, que estão no cerne de seu projeto.
36-43:
A ressurreição não é fruto da imaginação dos discípulos, nem reduz a fenômeno puramente espiritual. A ressurreição é fato que atinge o próprio corpo; daí a identidade do ressuscitado com o Jesus terrestre. Qualquer ação humana que traz mais vida para os corpos oprimidos, doentes torturados, famintos e sedentos, não é apenas obra de misericórdia, mas é sinal concreto do fato central da fé cristã: a ressurreição do próprio Senhor Jesus.
44-53:
A missão cristã nasce da leitura das Escrituras, onde se percebe o testemunho de Jesus (vida-morte-ressurreição) como seu centro e significado. Essa missão continua no anúncio de Jesus a todos os povos, e provoca a transformação da história a partir da atividade de Jesus voltada para os pobres e oprimidos. A conversão e o perdão supõem percorrer o caminho de Jesus na própria vida e nos caminhos da história. A missão é iluminada pelo Espírito do Pai e de Jesus (a “força que vem do alto”).

O Evangelho de Lucas termina em Jerusalém  e no Templo, como havia começado. Daí os apóstolos partirão para a missão “até os confins da terra” (At 1,8).

Salmos

1
Breve introdução-convite de estilo sapiencial para ler o livro dos Salmos na perspectiva do Deus que toma posição no conflito social, aliando-se aos justos, fiéis ao seu projeto, e condenando os injustos.
1-2
Os justos não aderem de maneira alguma à ordem social perversa, promovida pelos injustos. Ao contrário, eles vivem continuamente meditando no projeto de Javé, a fim de colocá-lo em prática. Esse é o caminho da felicidade.
3-4
A adesão ao projeto de Deus faz com que os justos tenham plena vitalidade e eficácia para organizar uma nova organizar uma nova ordem social. Enquanto isso, os injustos e a injustiça não têm consistência.
5-6
Sentença final: os injustos serão sempre declarados culpados diante de Deus, jamais poderão fazer parte da comunidade dos justos, e desaparecerão, porque Deus está comprometido com aqueles que realizam o seu projeto.
2
Entronização de um rei da dinastias de Davi. A cena mostra o ideal da autoridade política, cuja função é tornar presente a ação do próprio Deus: defender o povo contra os inimigos e construir uma sociedade fundada na justiça e no direito.
1-3
Durante a cerimônia, os reis dependentes já estão planejando um motim. Para aqueles que sustentam um regime de injustiça e opressão, o governo justo é como grilhão e jugo.
4-6
Comprometido com a justiça, Javé defende a autoridade política justa, colocando-se contra os adversários dela.
7-9
Deus adota o líder político justo como seu próprio filho. A função desse líder é tornar visível a presença e ação do Deus invisível. Implantando a justiça e o direito, a autoridade política justa é amada pelo povo, e os justos gostariam que ela governasse o mundo inteiro.
10-12
Advertência às outras autoridades: Saibam temer a Deus e seguir o exemplo daqueles que governam com justiça. Caso contrário, o destino delas é a ruína.
3
Oração individual de confiança: o justo se vê cercado e oprimido pelos mantenedores de uma ordem social injusta.
2-3
A suprema petulância dos injustos é desafiar o justo, colocando dúvidas na fé e na confiança, que o levam a residir e a agir, buscando justiça: "Você pensa que Deus vai ajudar você? De jeito nenhum!"
4-7
O justo, porém, renova a confiança e não desanima: sua vida é sustentada por Deus, que lhe dá coragem de todos os inimigos.
8-9
Confiando que Deus salva e abençoa os que lhe são fiéis, o salmista pede que Deus entre em ação, tapando a boca dos injustos.
4
Oração individual de confiança, na qual o pobre adquire forças para enfrentar os inimigos, e encorajar assim seus próprios companheiros.
2:
As dificuldades já enfrentadas fazem experimentar  que Deus é o defensor do pobre.
3-4:
A idolatria e os projetos ilusórios de uma sociedade injusta ferem a honra do pobre. Cuidado, porém: se o pobre clamar, Deus  o libertará.
5-6:
Aos companheiros desanimados, o salmista aconselha a refletir pessoal e comunitariamente, para reencontrar a confiança em Javé.
7-9:
Em vez de invejar e cobiçar abundância dos ricos, o pobre sabe que somente o projeto de Deus poderá trazer-lhe felicidade e dar-lhe segurança.
8
Hino de louvor à grandeza de Deus, que colocou o homem como senhor da criação.
2-3
O poder de Deus sobre a terra e o céu se comprova em suas ações históricas contra os adversários e inimigos do seu povo. O v. 3, provavelmente, faz alusão aos hinos de louvor cantados por crianças.
4-10
Quem é o homem diante do Deus poderoso? Chamado a ser imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26-27), o homem é rei de toda criação, espelhando a presença e ação do Criador.
15(14)
Diálogo litúrgico realizado na porta do Templo. O peregrino pergunta e um sacerdote responde sobre as condições necessárias para participar das celebrações.
2-5
As condições para celebrar a relação com Deus dependem todas da justiça no relacionamento social: integridade e verdade no uso tanto da palavra quanto do dinheiro.
16(15)
Oração de Confiança, onde se renova a entrega total a Deus, tanto do indivíduo como da comunidade.
1-4
A comunidade sabe, com muito realismo, que está vivendo num meio social cheio de deuses falsos senhores, que produzem escravidão e morte. É capaz, porém, de discernir e escolher o Deus verdadeiro, cujo projeto é liberdade e vida.
5-8
Deus concede a herança da vida para aqueles que se comprometem com o projeto dele. O centro da vida é a própria presença misteriosa de Deus, que acompanha a comunidade e a instruir diretamente sobre o caminho a seguir e ação a realizar.
9-11
Em aliança com Deus, a comunidade pode estar sempre alegre, porque Deus é fonte inesgotável de vida. Comprometida com o projeto dele, a comunidade pode ficar certa de que nunca será abandonada na morte.
17(16)
Súplica de alguém acusado injustamente.
1-2
Esta apelação é feita durante a noite no Templo, que funciona como tribunal superior. A sentença será dada ao amanhecer. (v. 15).
3-5
Juramento de inocência.
6-9
Momento de súplica angustiante. A situação é crítica e os acusadores já estão cantando vitória (v. 9). O acusado não tem a quem recorrer para sua defesa; só poderá ser salvo pela maravilha do amor de Deus, isto é, por um milagre.
10-12
Descrição dos acusadores: são insensíveis e parecem fera em busca de presa
13-14
Pedido para Deus que faça justiça, devolvendo a sentença de morte contra os acusadores. Com ironia, o acusado pede que Deus sacie os acusadores e descendentes com aquilo que eles merecem.
15
Não sabemos o resultado do julgamento, mas o salmista termina confiando que a sentença lhe será favorável.
18(17)
Com poucas diferenças, este salmo é reproduzido em 2Sm 22. Trata-se de uma celebração para agradecer a proteção de Javé, através da qual o rei Davi pôde realizar sua função política.
2-25
A função da autoridade política não é usurpar o lugar de Deus, usando o poder para seus próprios interesses e privilégios. É tornar historicamente presente e visível a ação de Deus, que liberta dos inimigos o seu povo, para fazê-lo viver segundo a justiça e o direito. Quando a autoridade política de fato procura ser mediadora na realização do projeto divino, ela pode invocar a Deus e estar certa de que ele responderá, dando eficácia a ela em seus empreendimentos.
26-30
A autoridade é íntegra quando reflete a própria integridade de Deus; esta consiste em fazer justiça, salvando o povo pobre rebaixando o opressor.
31-35
Outra função da autoridade é eliminar a idolatria, para que o povo possa, de fato, reconhecer o Deus vivo e o projeto dele.
36-43
Se a autoridade serve realmente a Deus e ao povo, ela se torna invencível: pode, ao mesmo tempo, contar o apoio de Deus e com a credibilidade e apoio popular.
44-51
Quando a autoridade realiza a justiça em nome de Deus, o povo vive na fraternidade e o rei justo se torna modelo de liderança para outros povos.
19(18)
Hino de louvor, em estilo sapiencial, enaltecendo a glória de Deus, que criou a ordem da natureza  do mundo humano.
2-7
A ordem e beleza do universo são como silencioso e contínuo louvor ao Criador. O homem humaniza a natureza, articulando esse louvor com suas próprias palavras.
8-11
A harmonia do mundo humano é criada pela palavra de Deus. Esta, como lei ou instrução, ensina a humanidade a viver na fraternidade e na justiça.
12-15
A harmonia criada por Deus pode ser perturbada ou destruída pelo orgulho, que gera todo tipo de erros e crimes. Essa harmonia da criação é convite para que o homem se converta e se torne íntegro.
21(20)
Oração de agradecimento pela vitória do rei e pedido de novas vitórias.
2-8
A força vem de Deus e, por isso, a vitória conquistada através da autoridade pertence em primeiro lugar a Deus. De um lado, isso impede que a autoridade se embriague com o poder e passe a usá-lo para seus interesses e caprichos. De outro, o povo tem certeza de que a autoridade que o governa não irá oprimi-lo.
9-14
A vitória conquistada se transforma em desejo e pedido para que toda opressão seja extirpada da terra.
22(21)
Súplica de um inocente perseguido.
2-6:
A experiência mais profunda do sofrimento é sentir-se abandonado pelo próprio Deus.  A lembrança dos benefícios  concedidos aos  antepassados fundamenta a súplica e procura mover Deus e agir. Segundo Mateus, Jesus recitou o v. 2  na cruz (cf. Mt 27,46).
7-12:
Ao sofrimento e abandono soma-se a marginalização. E Javé , não vai socorrer o marginalizado? Será que ele vai abandonar aqueles que lhe pertencem?
13-22:
Os inimigos são descritos como animais ferozes. As imagens dos versículos 15 e 16 mostram o enfraquecimento e a conseqüente proximidade da morte, já esperada como certa pelos perseguidores. Em meio a esse estado deplorável, temos a súplica urgente dos VV. 20-22.
23-32:
Do extremo sofrimento, o perseguido passa a confiança total. Ele já foi salvo ou confia que será. Por isso, convida a comunidade a participar do seu louvor e agradecimento reconhecendo que Deus jamais abandona o pobre que clama. Desse testemunho nasce a esperança de todos os pobres, construtores de uma nova história, alicerçada na justiça.
23(22)
Oração de confiança de uma pessoa perseguida que se refugiou no templo. O temas do Pastor e do anfritião recordam a marcha pelo deserto e pelo dom da terra. A segurança junto a Deus se expressa com da ovelha cuidada pelo pastor. Junto a Deus a pessoa adquire forças para enfrentar as situações mais adversas.
Asilado no Templo, o peregrino experimenta a hospitalidade de Deus, que o acolhe, ampara e defende dos inimigos. Essa atitude de Deus é modelo para todas as comunidades que se comprometem com o projeto dele.
24(23)
Procissão que termina com diálogo litúrgico na porta de Jerusalém, para celebrar a conquista da cidade (cf. 2Sm 5,6-10). A presença de Javé é simbolizada pela Arca da Aliança.
1-2
Talvez um cântico durante a procissão.
3-6
Pergunta e resposta sobre as condições para entrar na cidade de Javé. Cf. Sl 15 e nota.
7-10
Diálogo diante da porta da cidade, entre a procissão que chega e um grupo que fica no alto das muralhas, representação dos jebuseus, antigos moradores da cidade.
25(24)
Súplica em estilo de reflexão sapiencial.
1-3
A menção de “inimigos” mostra que a situação tem causas ou conseqüências sociais.
4-5
A situação é obscura. O salmista pede que Deus lhe abra perspectivas.
6-7
Pede que seus erros involuntários não sejam empecilho para que Deus o trate com amor na situação angustiante em que se encontra.
8-11
Não está claro qual seja a falta ou pecado. Em todo caso, é ocasião para uma tomada de consciência e conversão.
12-15
O temor de Deus é a atitude própria de quem reconhece que Deus é Deus, e o homem não é Deus. Quando o homem reconhece que só Deus é o absoluto, passa a relativizar os projetos humanos e permanece aberto à contínua novidade do projeto de Deus.
16-22
Descreve sua própria situação deplorável e clama por libertação.
27(26)
Oração de Confiança. Injustamente acusado, o salmista recorre ao tribunal do Templo, em busca de justiça.
1-3
A confiança em Deus e no seu projeto faz o pobre e o oprimido criarem força e coragem para enfrentar as mais difíceis situações.
4-6
O Templo é ao mesmo tempo a casa de Deus e a casa do seu povo. É o espaço sagrado que assegura justiça e paz. Espaço que hoje se encontra nas comunidades comprometidas com o projeto de Deus.
7-14
Antes do julgamento pela manhã, o salmista experimenta a noite do terror. Sua sorte depende unicamente de Deus, pois todos o abandonaram. Apesar de tudo, ele mantém firme sua esperança, confirmada pela palavra do sacerdote (v. 14).
29(28)
Hino de louvor, cantado a glória e o poder do Criador, que se expressam na tempestade.
1-2
Convite para a comunidade reunida louvar a glória e o poder de Deus.
3-9
A impressão da tempestade produz uma experiência do mistério. Descreve-se uma chuva torrencial, que começa no norte da Palestina e vai até o deserto de Cades, no sul. As sete repetições de “voz” servem para imitar o estrondo do trovão, que simboliza a voz de Javé. A essa voz de Deus na natureza corresponde a voz do povo no Templo, aclamando a glória de Deus.
10-11
A tempestade ou dilúvio é também símbolo da história turbulenta e conflitiva das nações que não conhecem a Javé. O povo de Deus tem plena confiança, pois sabe que o Senhor da natureza e da história é seu aliado, que lhe dá força e paz.
30(29)
Oração de agradecimento pela libertação de um perigo de morte.
2-4
Gravemente enferma, a pessoa experimenta o auxílio de Deus como verdadeira libertação da morte.
5-6
O agradecimento é feito em público, e a comunidade é convidada a participar. A alegria da cura relativiza a doença e faz experimentar o amor de Deus. A "memória sagrada" (v. 5) relembra a libertação do êxodo.
7-13
O salmista conta para a comunidade a sua experiência. Certamente era uma pessoa de posição que, diante da doença, ficou completamente abalada e acabou descobrindo que o sentido da vida é louvar a Deus, proclamando e vivendo o seu projeto, que é liberdade e vida.
32(31)
Agradecimento pelo perdão recebido.
1-2:
Quando Deus cobre o pecado com  o perdão, o homem se sente liberto.
3-5
Quando, porém, o homem encobre seu próprio pecado, passa a experimentar como peso o sofrimento da culpa e até o próprio Deus.
6-7
Perdoado o salmista volta para a comunidade, que unida canta o perdão. A primeira instrução é que, após o pecado, se suplique a Deus sem perda de tempo.
8-9
Instrução sapiencial, talvez feita por um sacerdote. Na experiência do perdão, o pecador descobre o caminho de Deus, que é o amor que liberta e faz viver. O importante é não ser teimoso como animal selvagem, que precisa ser domado.
10-11
Lição e convite finais: ser injusto é ser insensato, porque a injustiça acarreta sofrimento, enquanto a conversão é fonte de alegria.
33(32)
Hino de louvor ao Deus que cria o universo e intervém na história, conduzindo o seu povo para a vida.
1-5:
O motivo fundamental do louvor é a palavra e a ação de Deus, que realizam a verdade, a justiça e o amor.
6-9:
A  palavra de Deus é eficaz, criando e organizando o universo. O exército de Deus são as estrelas do céu.
10-12:
O projeto de Deus é liberdade e vida para todos. Projeto que se realizará, derrotando os projetos de escravidão e morte, feitos pelas nações.
13-15:
É tolice querer enganar ou manipular Deus. Ele discerne profundamente cada um e sabe através de quem vai realizar o seu projeto.
16-19:
A realização do projeto de Deus não depende do poderio militar, mas da presença do próprio Deus que age dentro da luta pela liberdade e vida.
20-22:
Quando o povo coloca sua esperança em Deus, este lhe responde com  todo o seu amor.
34(33)
Oração de Agradecimento
2-4
O agradecimento é feito no meio da comunidade dos pobres.
5-8
O salmista é um pobre que, em meio a uma situação difícil, fez a experiência da solidariedade de Deus e foi liberto.
9-11
Convite para a comunidade dos pobres se comprometer com o projeto de Deus, de onde brotou a justiça. Este inverte a forma de sociedade e o rumo da história.
12-23
Grande catequese centrada no temor de Javé. Trata-se de reconhecer que Deus é Deus e que o homem não é Deus. Em seguida, é preciso empenhar a própria vida na luta pela verdade e justiça, para que todos possam viver dignamente. Essa é a luta que constrói a paz. Nessa luta Javé toma o partido dos justos, ouvindo o seu clamor libertando-os e protegendo-os. Por outro lado, Javé se posiciona contra os injustos, que são destruídos pelo próprio mal que produzem.
37(36)
Reflexão sapiencial sobre o destino dos justos e injustos: aqueles possuirão a terra e estes serão excluídos dela.
1-2
A prosperidade do injusto pode causar inveja e irritação no justo, que será tentado a ser como aquele.
3-11
O sustentáculo do justo é a persistência no compromisso com Javé e com o seu projeto, que excluirá os injustos e fará que os pobres possuam a terra. (cf. Mt 5,5).
12-20
O injusto persegue e oprime o justo. Deus toma partido deste e faz que o mal se volte contra o próprio injusto.
21-26
O injusto é governado pela ambição de possuir, explorando todo mundo. O justo, ao invés, é guiado pela solidariedade, repartindo tudo o que tem.
27-29
O maior desafio é persistir na prática da justiça.
30-38
O justo é capaz de viver a sabedoria e a justiça, porque sua consciência (coração) é formada segundo o projeto de Deus. Desse modo, os justos se tornam agentes de um processo social que se contrapões à ideologia e política do injusto.
39-40
Enquanto os injustos dominam, os justos vivem no aperto. A esperança de uma nova história, porém, nasce da perseverança dos justos, porque Deus é seu aliado.
40(39)
Oração de agradecimento, incluindo a súplica numa situação que acarreta perigo de vida.
2-4
Libertando um salmista de um perigo de morte, a ação de Deus torna-se motivo de confiança para a comunidade que participa do agradecimento.
5-6
Pequeno hino de louvor lembrando as intervenções libertadoras de Deus. Feliz o justo que na dificuldade não confia em seu projeto pessoal, mas busca libertação no projeto de Deus.
7-9
Por ocasião do agradecimento, costumava-se oferecer um sacrifício. Deus, porém, não  quer sacrifício, e sim que o homem realize a vontade dele. Para isso, é preciso assimilar o projeto de Deus (“lei”).
10-11
Não basta assimilar. É preciso também anunciar a justiça de Deus, através da palavra e ação.
12-13
A vivência e testemunho se transformam em súplica de Deus para que continue agindo em outras situações.
14-16
Talvez seja o conteúdo da súplica que gerou a libertação e o agradecimento.  A situação é claramente de conflito social.
17-18
O salmista pertence à comunidade dos pobres, cuja única defesa consiste em se organizar ao redor de Deus e de seu projeto.
44(43)
Súplica coletiva em tempo de dificuldade nacional.
2-9
Em tempos difíceis, o povo olha para trás e retoma a consciência de sua própria história de lutas e conquistas, chefiada pelo próprio Javé, que por amor libertava o povo diante dos opressores.
10-17
Agora, porém, as coisas mudaram: Deus parece ter abandonado o seu povo, ao torná-lo presa fácil do opressor ganancioso.
18-23
Apesar de tudo isso, o povo não se esqueceu de Deus, nem lhe traiu o projeto, para servir ao projeto dos deuses falsos. Resta então a pergunta: Por que tudo isso está acontecendo? Por que o povo de Deus é perseguido dentro da história?
24-27
A espera na dificuldade parece não ter fim. Será que Deus está dormindo? A súplica conscientiza o povo e procura despertar Deus para agir outra vez, "por teu amor".
45(44)
Elogio dedicado ao rei, por ocasião do casamento.
2
Dedicatória.
3-10ª
A função do rei é lutar pela verdade e justiça, defendendo o povo, principalmente em conflitos internacionais.
10b-18
Após explicar o novo estilo de vida da noiva, o salmo descreve sua entrada até o rei, para a cerimônia do casamento.
45(44)
Elogio dedicado ao rei, por ocasião do casamento.
2
Dedicatéoria.
3-10ª
A função do rei é lutar pela verdade e justiça, defendendo o povo, principalmente em conflito internacionais.
10b-18
Após explicar o novo estilo  de vida da noiva, o salmo descreve sua entrada até o rei, para a cerimônia  do casamento.
46(45)
Hino a Jerusalém, provavelmente depois que o exército de Sequerib se retirou no ano 701 a. C. (cf. 2Rs 18,13-19,37).
2-4
Javé, o Deus Criador e Senhor da história, está em aliança com seu povo, protegendo-o contra as forças do caos, que são as nações inimigas. O refrão (cf. VV. 8 e 12) exalta Javé como guerreiro que chefia as lutas do seu povo.
5-7
O cerco da cidade compreendia o corte do fornecimento de água. Ao romper da manhã, o exército de Senaquerib bate em retirada, provavelmente atingido por uma peste. Sua derrota é vista como vitória de Javé (2Rs 19, 35-37).
9-11
Pela manhã o povo destrói o acampamento assírio e incendeia  todos os despojos. O v. 11 talvez seja uma comemoração festiva do acontecimento: Deus vence, não apenas o inimigo, mas também a guerra toda.
47(46)
Hino de louvor à realeza de Javé.
2-5
Javé, Rei do universo e das nações, exerce o seu reinado através daqueles que realizam na terra o projeto dele.
6-10
Inicialmente reconhecido por um povo, Deus se tornará o soberano de todas as nações, realizando a justiça que todos esperam.
50(49)
Oração em estilo profético, apresentando a primeira parte de uma liturgia penitencial. A continuação está no Salmo 51.
1-6
Deus convoca o seu povo para um debate judicial.Ele não se apresenta como juiz, mas como prceiro na Aliança. Não quer cúmplice das injustiças cometidas por seu povo. Testemunhas do debate são o céu e a terra, isto é, a realidade toda, que também comprova a Aliança de Deus com o povo.
7-15
Acusação negativa: Deus não tem nada a criticar sobre o culto realizado por seu povo. Contudo, não pense este que poderá controlar Deus através do culto. Na verdade, o culto não é para Deus, mas para o homem se lembrar de Deus. Os vv. 14-15 são pequeno acréscimo para esclarecer o que Deus espera: que o povo confesse o próprio erro, a fim de absolver Deus como parceiro inocente. A partir daí, o povo poderá clamar a Deus para que o liberte. Essa é a glória de Deus.
16-21
Acusação positiva, tomando como norma o Decálogo. De que adianta conhecer a vontade de Deus, se ela não é posta em prática? Pior que tudo é alguém julgar-se capaz de calar a Deus, tornando-o cúmplice dos erros humanos. Isso, na realidade, seria reduzir Deus ao tamanho da hipocrisia humana. Ele, porém, não se cala. O v. 16a interrompe a fala de Deus; é portanto um acréscimo.
22-23
Com Deus não se brinca! Quem se esquece dele, corre o risco de ser por ele destruído. ) v. 23 repete o v. 14, acrescentando o seguinte: mesmo quando acusa, Deus está concedendo uma graça. Na conversão, o pecador redescobre a si mesmo, a vida, e a Deus.
51(50)
Súplica penitencial, com reconhecimento do pecado e com pedido de perdão. É a segunda parte da cerimônia iniciada com o salmo 50: frente à acusação feita por Deus, só resta ao homem confessar o próprio pecado.
3-11- Retrato do pecador. Obsecado pesa culpa o pecador descobre que o pecado é sempre, e em primeiro lugar, uma ofensa contra Deus, o parceiro da Aliança. Assim, confessar o pecado, significa, ao mesmo tempo, absorver Deus como inocente, libertando-o de qualquer cumplicidade. Reconhecendo a solidariedade dele, o pecador começa a ressuscitar,pedindo perdão:  “purifica-me”, “lava-me”, “devolve-me a alegria”.
12-15- No arrependimento começa o reino da graça. O perdão é nova criação, que dá ao homem um espírito firme, santo e generoso. Resultado disso é a missão: o pecador perdoado trona-se missionário que ensina aos outros o caminho da volta para Deus.
16-19- Castigo do pecado é a morte (sangue). Alusão talvez a um crime que merecia a pena capital. Perdoado, o homem pode louvar a Deus, reconhecendo-lhe a misericórdia (cf. salmo 32 e 103). Os VV. 18-19 retomam o tema do salmo 50,14.23: Deus quer o sacrifício da confissão, para que o homem se liberte do pecado,  e o próprio Deus fique isento de qualquer cumplicidade.
20-21: Claro acréscimo feito depois do exílio. No espírito do salmo, os exilados primeiro deverão converter-se, confessando a própria infidelidade ao projeto de Deus. Depois, Deus aceitará novamente as cerimônias cultuais.
54(53)
Súplica do justo em meio à opressão causada pelos injustos.
3-5
Apela para o Deus libertador, cujo nome foi revelado no Egito por ocasião da libertação (Ex 3,14). O motivo é a pressão social causada pelos injustos soberbos e violentos, que usurpam o lugar de Deus para oprimir  e explorar o povo.
6-7
Deus se alia ao pobre e ao oprimido, para libertá-los dos poderosos que os exploram e oprimem. O pobre confia nessa fidelidade de Deus e suplica por justiça: que Deus volte contra o injusto o mal que este fabrica para os outros.
8-9
A maior alegria dos justos é experimentar a bondade de Deus e contemplar a derrota dos opressores.
55(54)
Súplica do justo, acusado e perseguido pelos mantenedores de uma sociedade corrupta.
2-10
O apelo a Deus nasce das dificuldades externas que têm repercussões internas: por fora, perseguição, calúnia e acusação; por dentro, medo, angústia e ansiedade. O salmista pensa até em fugir: é preferível viver no deserto. 
11-15
Descreve com vigor a corrupção da cidade, dominada pela violência e discórdia, crime e injustiça, opressão e fraude. Em lugar de verdade, comunhão e partilha, reina a mentira, divisão e exploração. E o pior é que até as relações mais íntimas se deterioram: o amigo se transforma em adversário traidor.
16-24
Em vez de fugir, o salmista parte para a súplica: que Deus faça justiça, castigando os injustos, para resgatar a honra e a vida do inocente. Característica fundamental do injusto é não temer a Deus, ou seja, ele tenta usurpar o lugar de Deus, falsificando a si mesmo e tornando-se um falso deus, promotor da escravidão e da morte. O v. 23 interrompe a sequência. Talvez sejamuma palavra de encorajamento do sacerdote: o justo confia sua causa ao Deus que fas justiça, pois "ele jamais permitirá que o justo tropece".
56(55)
Súplica durante a perseguição.
2-4
Descrição rápida da situação.
5
A solidariedade de Deus com o oprimido faz que o opressor esteja em primeiro lugar contra o próprio Deus. Este refrão se repete nos vv. 11-12.
6-7
Nova descrição dos inimigos: suas tramas escondidas são piores que o ataque aberto.
8-10
A vida do oprimido e marginalizado parece triste e sem sentido. Deus, porém, está com ele, dando sentido ao sofrimento de sua vida errante. A própria lágrima é o clamor do oprimido, que move Deus a fazer justiça, derrubando o opressor.
13-14
Ao suplicar, a pessoa fazia também uma promessa de agradecimento. A libertação ensina o homem a viver comprometido com o projeto de Deus.
57(56)
Súplica e agradecimento de um refugiado no Templo.
2-5
Acusado injustamente, o salmista se refugia no Templo, que é a casa de Deus e de todos aqueles que se encontram em dificuldades. A esperança é que Deus manifeste seu amor e fidelidade, fazendo justiça.
6
O refrão, repetido no v. 12, pede que Deus manifeste sua glória, iluminando a terra com sua justiça.
7-11
A ruína dos inimigos, pegos em suas próprias armadilhas, é prova de que eram eles os culpados. Os vv. 9-11 trazem uma oração de agradecimento, a ser cantada pela manhã. Tema: o amor e a fidelidade de Javé, que serão proclamados para o mundo inteiro. Assim o Deus verdadeiro, pouco a pouco, vai sendo reconhecido por todos.
63(62)
Súplica de um levita exilado.
2-3
Longe do Templo, onde se manifesta a presença do  Deus da Aliança, o levita se sente privado do seu elemento vital.
4-6
Na esperança de voltar um dia a participar do louvor e banquetes rituais, o salmista reconhece que o amor de Deus vale mais do que a vida. Esta só tem sentido quando movida por esse amor.
7-9
Lembrança de Deus, no silêncio da noite. Mesmo longe do Templo e da terra prometida, o exilado sente a presença de Deus que lhe sustenta o ânimo. Tratas-se de uma presença muito especial: a ausência sentida.
10-12
Os inimigos são os de portadores. A mensão do rei, talvez Sedecias, faz pensar que o salmista teria sido deportado em 597 a.C.
65(64)
Oração coletiva de agradecimento, na qual se reconhece o que Deus  significa para o povo. A ocasião desse agradecimento é a festa da Colheita, logo após o dia do Perdão.
2-3a.
Deus ouve a súplica e responde às necessidades.
3b-4
Deus perdoa os pecados, libertando novamente para a vida.
5
Deus reúne seu povo em sua casa e lhe ensina a repartir os dons que ele próprio concedeu.
6
Deus é esperança de todos, porque realiza a justiça, assumindo a causa dos pobres e oprimidos.
7
Deus é criador do mundo, que ele sustenta e dirige para a vida.
8-9
Deus é o Senhor da história, impedindo que os poderosos abafem a luta dos fracos pela vida.
10-14
Deus é o Senhor da natureza: ele providencia para que o ciclo da natureza se realize e o homem possa viver do fruto de seu trabalho.
66(65)
Oração coletiva de agradecimento.
1-7
Ao convite para agradecer, seguem-se os motivos: a travessia do mar Vermelho, marcando a libertação do Egito, e a travessia do Rio Jordão, marcando a conquista da terra. Dois fatos testemunhando que o Deus vivo é quem governa a história, dirigindo-a no sentido da libertação e da partilha.
8-12
Novo convite para agradecer, agora dirigindo a todos os povos. O motivo é o seguinte: Deus se aliou a um povo, tornando-o testemunha da sua justiça. Foi um longo e difícil tempo de aprendizado, com muitas provações, até que o povo entendesse que sem justiça não existe liberdade e nem vida.
13-15
Alguém aproveita para fazer seu agradecimento particular.
16-20
Outra pessoa segue o exemplo e conta o seu caso. E assim a comunidade aprende a partilhar e a reconhecer que Deus é a fonte da libertação e da vida.
67(66)
Oração de agradecimento por ocasião da festa da Colheita.
2-8
Colheita abundante é sinal de bênção de Deus. Senhor da vida, para o seu povo aliado. O fato se torna anúncio para todas as nações reconhecerem que o Deus verdadeiro é também o Senhor da história. Ele governa as nações para que a justiça aconteça não só dentro de um povo, mas também nas relações entre os povos. É através da justiça que todos poderão usufruir da colheita e, portanto, da bênção de Deus.
68(67)
Oração de agradecimento por ocasião da festa da  Colheita.
2-8
Colheita abundante é sinal de bênção de Deus, Senhor da vida, para o seu povo aliado. O fato se torna anúncio para todas as nações reconhecerem que o Deus verdadeiro é também o Senhor da história. Ele governa as nações para que a justiça aconteça não só dentro de um povo,  mas também nas relações entre os povos. É através da justiça que todos poderão usufruir da colheita e, da bênção de Deus.
69(68)
Súplica de um inocente injustamente acusado.
2-4
Não tendo mais a quem recorrer, a pessoa suplica a Deus, que é o refúgio dos necessitados.
5
O salmista provavelmente foi acusado de roubo.
6-7
A pessoa acusada resiste até o fim, esperando que Deus a declare inocente, talvez no tribunal do Templo. Se Deus não fizer justiça, outros poderão desanimar e perder a confiança em Deus.
8-13
É por causa de sua fidelidade a Javé e ao projeto dele que a pessoa acaba se tornando alvo de ataques de intrigas. Quem quer sempre encontra motivos para criticar. O v. 10 é citado em Jo 2,17.
14-22
Nada podemos fazer, e não tendo ninguém que o defenda, o salmista recorre a Deus numa espécie de desafio: que ele dê provas de seu amor e fidelidade. Do v. 22 há alusão em Mt 27,34.48.
23-29
Este pedido de justiça implica em condenar os verdadeiros culpados, que muitas vezes se disfarçam atas de acusações e condenações contra os justos.
30-35
Promessa de ação de graças. Quando o pobre e o fraco são libertados, também os outros se alegram e se encorajam, descobrindo que Deus está aliado com eles. Essa é a maior glória para Deus.
36-37
Acréscimo posterior, que adapta o salmo à situação do exílio.
71(70)
Súplica de uma pessoa idosa e doente.
1-3
Depois de uma vida inteira dedicada à fidelidade a Deus, a doença na velhice podia ser interpretada como castigo.
4-8
Olhar para o passado: uma vida inteira foi vivida na esperança e confiança. Deus protegeu continuamente o salmista, que reconhece o fato e proclama esse louvor.
9-11
Mesmo na velhice, o justo tem inimigos à espera de um momento próprio para o atacar.
12-13
Apelo à justiça de Deus.
14-16
Enquanto espera a libertação, o justo confia tanto, que já promete proclamá-la através do louvor.
17-19
O ancião justo é uma testemunha da ação de Deus na história.  Através dele se perpetua a memória do Projeto de Deus dentro da consciência do povo.
20-24
A total confiança na ação de Deus  leva a proteger ação de graças.
72(71)
Oração pelo rei, lembrando a função da autoridade e desejando que o rei realize.
1-4
É função da autoridade realizar justiça e implantar o direito, para que haja paz. Mas, o que é a justiça? É defender a causa dos pobres contra os opressores. Segundo a Bíblia, portanto, o exercício da autoridade deve espelhar a ação do próprio Deus, que liberta o pobre e o fraco, derrotando seus opressores.
5-8
Quando a autoridade é justa, o povo deseja que ela permaneça para sempre e estenda sempre mais a sua ação.
9-14
O desejo se amplia para a esfera internacional: que também as autoridades de outras nações obedeçam a Deus, trazendo-lhe tributos e presentes. Para ela ficar mais rica e poderosa?  Não! Simplesmente porque ela, sendo justa, vai partilhar o poder e a riqueza, criando um reino de fraternidade, onde todos podem ter vida.
15-17
O povo abençoa a autoridade justa, porque esta coloca ao alcance de todos a abundância e a prosperidade. O v. 17 é um desejo: que a fama dessa autoridade perdure e seja bênção para todos os povos.
18-20
Pequeno hino de louvor , encerrando o segundo livro do saltério, formado pelos salmos 42 a 72. O que antes era desejado para o rei, agora é proclamado a respeito de Deus.
73(72)
Meditação em estilo sapiencial sobre a tentação sofrida pelo justo diante da prosperidade dos injustos.
1-3
A prosperidade dos injustos é um grande escândalo, que põe em dúvida a doutrina tradicional (v. 1 ) e provoca a tentação para os justos.
4-12
Retrato do injusto visto pelo justo. O injusto é um privilegiado: goza de boa saúde, não sofre, trata todo mundo com soberba e violência, e vive a tramar injustiças. A sua ambição não tem limites: suga a liberdade e a vida de todo mundo, acumulando poder e riqueza. E tudo impunemente, inclusive blasfemando: "Deus não sabe nada!"
13-17
O justo olha para se mesmo e acha que não vale a pena ser justo. O que fazer? Concordar com o que dizem os injustos? Seria traição! A solução está em perceber o mistério de Deus, que é o seu modo de agir na história.
18-22
Deus faz justiça, arruinando aqueles que arruinavam os outros. Se o homem não compreende isso, é porque ainda não entendeu o projeto de Deus.
23-26
A parte positiva do projeto de Deus consiste na aliança dele com os pobres, para construírem juntos uma nova história. Agora já não importam nem o céu, nem a terra. O que importa é realizar o projeto de Deus. Aí a justiça constrói uma história nova, onde todos podem usufruir igualitariamente a liberdade e a vida.
27-28
A história é testemunha do julgamento de Deus, e a tarefa dos justos consiste em proclamar a obra de Deus que destrói a injustiça.
74(73)
Súplica do povo numa desgraça nacional, provavelmente durante o exílio.
1-9
A invasão babilônica desarticulou  comunidade do povo de Deus, destruindo as bases da identidade: posse da terra, cidade, Templo e instituições. Perdendo tudo, Israel perde também a relação com o seu Deus, que se manifesta através dos profetas e através de sinais na sua história. Será que Deus rejeitou o seu povo?
10-17
Sendo Deus o aliado do povo, a derrota deste é também derrota de Deus. Por isso, a súplica se dirije ao Nome, com o qual Deus se revelou no momento da libertação (cf. Ex 3,14). A seguir, recorda-se a passagem do mar Vermelho (da escravidão a liberdade) e a passagem do rio Jordão (da liberdade para a herança da terra). Os vv. 16-17 recordam que Deus é o Criador e mantenedor do universo. É a este Senhor da história e do universo que o povo suplica, pedindo que ele o liberte e de novo o leve à terra.
18-23
A libertação, porém, é obra da justiça: não é ´possível libertar os exilados sem julgar os opressores. Estes, reduzindo o povo à pobreza e escravidão, ultrajaram o Nome do próprio Deus.
78(77)
Meditação sapiencial sobre a história de Israel. A história testemunha os benefícios de Deus e, ao mesmo tempo, o esquecimento e infidelidade do povo. A memória é a raiz da fidelidade, enquanto o esquecimento leva a infidelidade.
1-2
A história é instrução que ensina o povo a viver. Não é, porém, instrução direta. De fato, os acontecimentos são parábolas, que exigem participação para se captar o sentido delas. Tal sentido faz a história um enigma: é preciso ter a chave da fé para perceber que a história é o processo através do qual Deus age, levando o povo para a liberdade e a vida.
3-6
A história é uma sucessão de gerações que transmitem  uma à outra consciência histórica ou memória ativa, cujo centro é a percepção da presença de Deus e as ações maravilhosas que ele realizou em favor de seu povo.
7-8
Para que contar a história? Para que a nossa geração confie em Deus e, mantendo a lembrança, viva segundo o projeto dele. E também para que a nova geração não repita os erros e infidelidades passados.
9-31
Começa com um fato recente de difícil identificação. Desertar da guerra é castigo vergonhoso e não tanto um pecado. Por que o povo desiste de lutar? Porque se esquece de toda a história passada, em que Deus liderou a conquista da liberdade, guiando o povo para um projeto social novo. No deserto, o pecado do povo foi duvidar que Deus e o seu projeto pudessem satisfazer a todas as necessidades.
32-39
A descrença em Deus e no seu projeto empobrece e encurta a vida do povo. Na dificuldade, todos se lembram e suplicam por salvação. Resolvido o problema, passam a enganar a Deus, porém, supera tudo com sua compaixão, porque sabe, melhor do que os homens, que a condição humana é frágil.
40-55
As infidelidades se repetem pela ausência dessa memória. O salmista relembra a libertação do Egito, recordando sete pragas: uma verdadeira luta entre Deus e o Faraó. Tudo para libertar o povo, guiá-lo com segurança e fazê-lo conquistar a terra. Essa lembrança das lutas passadas encoraja e sustenta a luta no presente.
56-64
Novas infidelidades e afrontas, agora na terra prometida. Tendo abandonado o projeto de Deus, o povo mesmo se ver abandonado e agora sofre as conseqüências de projetos estrangeiros.
65-72
O Salmista termina mostrando a monarquia de Davi como o tempo ideal. Este, de fato, foi fiel ao contrato político com o povo: em troca dos tributos, ele defendeu o povo diante da ganância dos estrangeiros e fez o povo viver na justiça e no direito (cf. Sl 72 e notas).
80(79)
Oração coletiva de súplica, por ocasião de uma invasão inimiga.
2-3
Israel e Javé representam o reino do Norte, do qual se mencionam três tribos.  Trata-se de uma súplica, talvez motivada pela invasão assíria, que destruiu o reino de Israel em 722 a. C.
4
Refrão que se repete nos VV. 8 e 20, ampliando a cada vez o nome de Deus. Ele está sempre no meio de seu povo. No entanto os momentos de perigo e dificuldades são ocasiões de suas grandes  manifestações.
5-7
Javé dos Exércitos é o título do Deus guerreiro, que luta junto com seu povo. A derrota frente ao inimigo é interpretada como castigo divino.
9-12
A situação presente contrasta com a história que Deus já realizou com o seu povo: libertação do Egito, ocupação da terra, expansão no tempo do rei Davi. A imagem da videira ou vinha é comum para representar o povo de Deus.
13-19
Súplicas repetidas, apresentando o motivo para Deus agir: trata-se da tua videira, da tua vinha. A situação difícil é também momento para tomada de consciência e conversão (v. 19).
81(80)
Acusação em estilo profético, convidando o povo a conversão.
2-6a.
Introdução em forma de hino. A ocasião é a festa das Tendas, que relembra a libertação do Egito e a caminhada pelo deserto. A celebração reafirma a fidelidade de Deus do êxodo.
6b.-11
Um profeta toma a palavra para recordar os fatos fundamentais da fé e da história. Fatos que levaram Israel ao compromisso com Deus; libertação da escravidão, tentação no deserto e teofania no Sinai. Tudo isso da direito a Deus para questionar a vida do seu povo, que violou o primeiro mandamento, abandonando o Deus libertador para servir os ídolos opressores.
12-17
A infidelidade acarreta o pior dos castigos: Deus abandona o povo à sua própria consciência pervertida, que passa a trilhar caminhos que não levam para a liberdade nem para a vida. O tom nostálgico, porém, mostra que essa acusação procura fazer o povo voltar a si e converter-se.
84(83)
Hino a Jerusalém, centro das romarias.
2-4
A importância de Jerusalém está no fato de que o Templo, casa de deus da Aliança, é também é a cada de todo o povo. Ao entrar nela, o peregrino se sente livre e à vontade, como os pássaros que aí revoam e fazem seus ninhos.
5-8
O encontro com Deus da Aliança torna feliz quem exerce alguma função no Templo e também aqueles que se dirigem a Jerusalém, fazendo longas romarias. Esse buscar a Deus fertiliza a terra para produzir vida nova.
9-10
Súplica pelo rei (ungido). Este como governante do povo, deve tornar presente a ação do próprio Deus, ou seja, libertar o povo e fazê-lo viver a justiça.
11-13
Em Jerusalém o povo redescobre o sentido da própria vida, refaz seu compromisso com o projeto de Deus e reconhece que este abençoa quem vive aquilo que celebrou em Jerusalém.
85(84)
Oração coletiva de súplica, logo após a volta do exílio.
2-4
Refere-se à recente libertação. O exílio deve valor de purificação, pois encobriu o pecado do povo, isto é, sua infidelidade a Deus.
5-8
Ao chegar do exílio, o povo se defronta com graves dificuldades: organizar a comunidade, estabelecer o culto, reconstruir o Templo, sanar sérios problemas sociais. O plano de restauração, portanto, é ainda uma grande aspiração.
9-14
A essa súplica responde um oráculo do sacerdote: Deus anuncia a paz, plenitude de condições de vida, se o povo se converter ao projeto dele. A glória ou presença de Deus volta à terra, acompanhada pelo amor, fidelidade, justiça e paz, que produzem prosperidade para todo o povo.
86(85)
Oração de súplica, em tempo de perigo e perseguição, talvez na época dos Macabeus.
1-5
Série de súplicas, apresentando os motivos para Deus agir. Desses, o fundamental é que Javé atende sempre a quem o invoca.
6-10
A certeza de ser atendido dá lugar ao louvor, no qual se reconhece que Deus é único e universal.
11-13
Deus exige a integridade, isto é, que o homem sirva apenas a ele e ao seu projeto.  Os VV. 12-13 já adiantam a ação de graças.
14-17
Retoma a súplica, agora descrevendo a perseguição. A libertação fará os inimigos reconhecerem que Deus é aliado dos pobres e oprimidos.
89(88)
Oração de súplica numa catástrofe nacional, com especial menção da promessa de Deus feita a dinastia de Davi.
2-3
O amor e a fidelidade são termos básicos da Aliança e dão a tônica a todo este Salmo.
4-5
A Aliança com Davi fundou uma dinastia perpétua.
6-15
Hino de louvor, proclamando a soberania de Javé sobre o universo e a história. Acima de homens e autoridades está Deus. Ele firma o governo delas com amor e fidelidade, a fim de produzir justiça e direito.
16-19
O povo de Israel se orgulha de ser o escolhido de Javé, com sua função principal de proclamar, através do louvor, o Deus que é sua alegria, honra, força, orgulho, proteção e Rei.
20-30
Em meio ao seu povo, Deus escolheu Davi e sua dinastia, chamados a serem instrumentos para libertar o povo e fazê-lo viver na justiça.
31-38
Essa aliança com Davi foi feita com juramento e, por isso, é perpétua. Mas há uma condição: que os descendentes sejam fiéis. Caso contrário, Deus os castigará.
39-46
A situação presente do povo e do seu rei fazem pensar que Deus está sendo infiel às próprias promessas. Como entender isso?
47-52
Súplicas para comover a Deus, e fazê-lo voltar ao amor e fidelidade, restabelecendo a dignidade do rei.
53
Brevíssimo hino para encerrar o terceiro livro do Saltério, formado pelos salmos 73 a 89.
90(89)
Oração coletiva de súplica, diante da fragilidade e brevidade da vida humana.
1-6
O que é a humana diante da eternidade de Deus? Ele ultrapassa as gerações humanas e toda a criação. Enquanto isso, o homem vive brevemente e acaba morrendo.
7-12
A vida humana torna-se ainda mais curta por causa do pecado e suas consequências: além de breve, ela se transforma em fadiga inútil. O homem é tão frágil que não pode sequer suportar as força e o peso da ira de Deus, que é castigo pelo pecado. O que fazer? O v. 12 mostra que, diante dessa realidade, só resta pedir que Deus nos dê um coração sábio, para vivermos bem o tempo de que dispomos.
13-17
Súplica para que Deus preencha esta vida breve com alegria e júbilo, compensando os anos maus e tristes. É contemplando a obra de Deus na história que se aprende a viver,  suplicando sempre que Deus abençoe e confirma aquilo que o homem realiza com tanto esforço.
91(90)
Meditação em estilo sapiencial sobre a proteção que Deus concede ao justo refugiado no Templo.
1-2
Um sacerdote convida o fiel a confiar em Deus. A oração é feita no Templo, que goza do direito inviolável de asilo para todos os que se encontram em situações difíceis.
3-7
Descrição viva de diversos perigos, entre os quais se destaca a perseguição social.
8-13
Certo da proteção divina, o justo pode confiar, em meio a qualquer perigo. Junto a Deus, ele poderá ver a derrota dos injustos, abandonados à própria sorte. Os VV. 11-12 serão citados por Mt 4,6 e Lc 4,10-11.
14-16
Oráculo do sacerdote, que apresenta a significação da aliança de Deus com o homem que com ele se compromete. A expressão “eu estarei com ele” é desdobrada em sete afirmações: Deus liberta, protege, responde, restabelece a honra(glorifica), dá vida longa e consciência da salvação de Deus vai realizando.
92(91)
Oração de Agradecimento celebrando os atos de Deus.
2-7
O grande sentido e alegria da vida humana em reconhecer e anunciar o amor e fidelidade de Deus, revelados em suas obras, que testemunham o compromisso dele com os pobres e fracos. Quem não compreende isso, desconhece o sentido da vida e da história.
8-12
Os injustos parecem triunfar, mas o Senhor da história é javé. Ele se alia aos justos no grande conflito que estes devem continuamente enfrentar.
13-16
Aliados a Javé, os justos são persistentes e cheios de vida, para anunciarem, na história, que Deus é honesto e não compactua com a injustiça.
93(92)
Hino a realeza de Deus, soberano universal.
1-2
Acima de todos os poderes do mundo, o próprio mundo é trono de Deus, que reina desde sempre.
3-4
As águas são símbolo do caos primitivo, que Deus derrotou para realizar a obra da criação. Na história, esse caos são os projetos das nações que ameaçam o projeto de Deus. Deus, porem, derrota esse caos.
5
Os testemunhos são os mandamentos, que manifestam a santidade de Deus, criando a história da liberdade e da vida.
95(94)
Oração de louvor, com advertência em estilo profético.
1-5
O motivo do louvor é o próprio Deus vivo que criou o mundo e está acima de todos os deuses das nações e seus projetos.
6-7ª
O soberano do universo criou o povo e se aliou a ele, dirigindo-o na história como pastor.
7b-11
Advertência profética: Deus deu a terra ao povo. Seu usufruto, porém, depende da fidelidade dos  antepassados impediu que eles entrassem na terra da liberdade e da vida, a infidelidade da geração atual poderá perdê-la
96(95)
Hino à realeza de Deus, que vem para estabelecer o seu Reino de justiça.
1-6
Louvor a Javé, proclamando a sua vitória sobre os ídolos das nações. A função do povo de Deus é testemunha na história, através do louvor e da ação, o Deus vivo que derrota os ídolos.
7-10
A proclamação central deste louvor é a realeza de Deus, soberano do universo e da história.
11-13
Toda a realidade é convidada a participar do louvor com que o povo aclama seu Deus. Sua realeza se estabelece na história à medida que a justiça triunfa sobre a injustiça. Em cada luta pela justiça, é o próprio Deus que está vindo para reinar.
98(97)
Hino a realeza de Deus, celebrando sua vitória.
1-3:
A vitória de Deus se revela no seu projeto, feito para todas as nações. Trata-se de uma vitória justa, porque salva os pobres e oprimidos.
4-6:
O louvor é uma forma de revelar a realeza de Deus para o mundo inteiro.
7-9:
Essa revelação é fonte de alegria e esperança, porque em cada intervenção histórica Deus funda a justiça e o direito, implantando o seu Reino.
100(99)
Hino de louvor, cantado durante a procissão rumo ao Templo. O v. 5 talvez seja o refrão repetido pelo povo.
1-3
O motivo do louvor é o reconhecimento de que Javé é o único Deus vivo. Ele criou o povo e dele cuida como pastor.
4-5
A bondade de ?Deus se confirma no fato de que ele se alia ao povo, mantendo para sempre o seu amor fiel.
103(102)
Hino de louvor, celebrando o amor de Deus.
1-5
A experiência fundamental do amor de Deus vem do perdão, que liberta do Mac e refaz a vida.
6-14
O amor de Deus, porém, se expressa através da justiça que defende os que não têm defesa, realizando uma história nova, a partir deles. Os VV. 8-14 mostram a dimensão infinita desse amor que se compara ao de um pai para com seus filhos. Voltado para o homem, esse amor de Deus se realiza na compaixão, que é sofrer junto com os que participam da condição humana.
15-18
A essa fragilidade da condição humana contrapõe-se o amor e a justiça de Deus para com seus aliados, que se comprometem com o projeto dele.
19-22
Convocação geral dos seres celestes, para que louvem a Deus por causa do seu amor pelos homens.
104(103)
Hino de louvor cantando a grandeza de Deus, testemunhada no ciclo da natureza. É uma cópia adaptada do hino egípcio ao deus Sol.
1-4
Celebra a grandeza de Deus, envolvido pela imensidão do universo.
5-9
Descreve alguns traços da criação primordial. Trata-se de uma observação simples dos principais fenômenos da natureza.
10-18
Celebra o rítmo harmônico da natureza, em que coexistem pacificamente plantas, animais e seres humanos.
19-26
Dia e noite delimitam o espaço do homem e das feras. Os VV. 24-26 complementam a multiplicidade, beleza e imensidão das criaturas.
27-28
Enquanto os animais se alimentam diretamente da natureza, o homem precisa transformá-la através do trabalho.
29-30
O mistério da vida é visto como mistério da respiração: sopro de Deus que cria, vivifica e renova.
31-34
Neste louvor o homem reconhece o mistério da natureza, descobrindo nele o próprio mistério de Deus.
35
A harmonia da natureza deixa aberta uma questão: por que existem os injustos que produzem desigualdades entre os homens?
107(106)
Oração de agradecimento, celebrando quatro situações típicas. A estrutura é bem marcada: situação difícil, clamor, libertação, agradecimento, conclusão.
1-3
Introduz genericamente o agradecimento, talvez convidando as pessoas para testemunharem a libertação recebida.
4-9
A situação de deserto pode referir-se tanto ao êxodo quanto a volta do exílio.
10-16
A situação de prisão pode significar tanto a escravidão no Egito, como o exílio na Babilônia.
17-22
Libertação da doença, entendida como conseqüência do pecado, mas que pode levar à conversão.
23-32
Perigo em alto-mar, com descrição em detalhes.
33-41
As quatros situações mencionadas proclamam a ação de Deus na história: ele inverte as situações, derrotando os poderosos para libertar os pobres.
42-43
Quem é capaz de ler a história a partir da ação que Deus nela realiza, torna-se sábio. Em outras  palavras tem a percepção da fé.
111(110)
Hino de louvor, resumindo temas de outros hinos.
1-5
No louvor o povo perpetua a memória dos atos de Deus na história, que leva para a liberdade e a vida. Esta é a grande tradição que o povo de Deus conserva.
6-10
Toda a ação de Deus se encaminha para a posse da terra e da Aliança. O grande discernimento da vida (sabedoria) consiste em temer a Javé, ou seja, reconhecer que ele é Deus e que o homem não é Deus.
112(111)
Meditação sapiencial, caracterizando o ser e o comportamento do justo.
1-5
Toda a existência do justo tem como ponto de partida o temor de Deus. Esse temor se manifesta  nas relações sociais fraternas e justas.
6-10
O v. 6 apresenta a idéia mais antiga a respeito da ressurreição: a lembrança permanente da vida do justo, cujo testemunho permanece sempre vivo na memória do povo. O justo está permanentemente voltada para a partilha da vida com os outros.
113(112)
Hino de louvor à misteriosa grandeza de Deus.
1-3
O louvor se dirige ao Nome de Javé, revelado no momento da libertação da escravidão do Egito. Esse Deus será reconhecido para sempre como o Libertador.
4-6
Deus é o grande soberano da história e do universo. Ninguém e nada se compara a ele. O mistério central é que este Deus se eleva e se abaixa: O absoluto transcendente torna-se misteriosamente presente, para se relacionar com as criaturas.
7-9
Deus se torna presente para fazer justiça: libertar os pobres e os fracos, dando-lhes a maior dignidade. Na sua justiça ele recupera os que são marginalizados pelo egoísmo de outros. Aqui, o exemplo de recuperação e libertação da dignidade da mulher. No mundo semita, a mulher devia estar sempre em pé para servi aos homens, e a esterilidade era considerada maldição.
116(114 e 115)
Oração de agradecimento, talvez após cura de uma doença grave.
1-4
O agradecimento se dirige ao Deus que ouve o clamor, libertando para a vida aqueles que o invocam.
5-6
A experiência da libertação faz reconhecer a justiça e o amor que se voltam para os pobres necessitados.
7-9
O reconhecimento da libertação introduz a confiança, que é o clima da fé.
10-11
Parece mudar o tem, agora mencionando uma situação social, talvez de calúnia.
12-14
O agradeciemento é um ato público, onde a pessoa invoca a Deus, cumpre as promessas e ergue o "cálic da salvação", cujo rito desconhecemos.
15-19
A mensão da morte indica que o agradecimento foi feito após a cura de uma doença grave. Note-se o v. 15: a vida de cada pessoa é valiosa para Deus.
117(116)
Hino de louvor ao Deus da Aliança.
1-2
Motivo do louvor: Deus se aliou para sempre com o seu povo. O convite é dirigido aos outros povos, para que todos participem dessa aliança.
118(117)
Oração coletiva de agradecimento estruturando uma celebração litúrgica.
1-4:
Dividida em grupos a comunidade recebe a pessoa que vai agradecer e entoa o refrão, exaltando o amor de Deus.
5-9:
A pessoa começa a contar a experiência de ter sido atendida por Deus, e tira para todos a lição de confiança, que desmascara as falsas seguranças.
10-14:
O tema das nações inimigas faz pensar que o salmista seja o próprio rei.
15-16:
A comunidade responde, celebrando a vitória conseguida com o auxílio de Javé.
17-18:
A pessoa termina o seu testemunho, aludindo a um perigo de morte.
19-21:
A pessoa chega à porta do santuário, pede para entrar, e é recebida pelos sacerdotes pelos sacerdotes.
22-29:
O coro canta a vitória realizada por Deus. A seguir forma-se a procissão até o altar, e cantam-se refrãos, num diálogo alternado entre a pessoa que agradece e a comunidade. Os VV. 22-23 são citados em Mc 12,10-11 e paralelos.
119(118)
Grande meditação sapiencial sobre a Lei de Deus, que aponta o caminho para a justiça e a vida. A composição literária segue o artifício do acróstico, levando essa técnica a sua máxima expressão: são 22 estrofes com 8 versos cada uma e cada verso começa por uma letra do alfabeto hebraico. Além disso, cada estrofe contem em geral, sete a oito sinônimos de lei (palavras, promessa, normas, vontade, estudos, preceitos, testemunhos, mandamentos, verdade). A pretensão do autor é fazer um grande elogio da palavra que revela e faz compreender o projeto de  Deus.
105:
Centro de todo o salmo. A Palavra é a revelação de Deus, que leva o povo a descobrir o sentido da vida e a discernir o seu caminho na história, em meio a diversas situações. Essa Palavra é praticamente a Bíblia toda, principalmente o Novo Testamento. Neste como diz João, “a Palavra se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1,14). Dessa forma, Jesus é não só o maior interprete da Palavra, mas também sua concretização definitiva.
121(120)
Oração de confiança dos peregrinos que caminham para Jerusalém.
1-2
As montanhas eram lugares de refúgio em situações difíceis. Mas o verdadeiro refúgio do povo é o Deus da vida com o seu projeto.
3-8
Deus é o guarda do povo: sempre desperto, ele oferece proteção, tanto para o repouso  como para a atividade do seu povo.
122(121)
Hino a Jerusalém, cantado pelos peregrinos que se dirigem à cidade para ás festas. 
1-2
A alegria de caminhar para Jerusalém se fundamenta na própria vocação da humanidade: reunir-se para partilhar a liberdade e a vida.
3-5
Cidade consistente é a que abriga o povo todo, reunido em torno do projeto de Deus, que assegura a justiça para todos.
6-9
A paz para a cidade é para todo o povo. Ela só é possível a partir do exercício da justiça.
123(122)
Oração coletiva de súplica, cheia de esperança na intervenção de Deus.
1-2
Javé é o soberano do seu povo, que lhe dirige o olhar suplicante.
3-4
A situação é de cansaço, por causa da arrogância e humilhação que o povo sofre por parte dos poderosos.
126(125)
Oração coletiva de súplica (v. 4) fundamentada no agradecimento  pela libertação do exílio.
1-4
Numa situação difícil,  o povo relembra a grande libertação, que se tornou anúncio até para os pagãos.
5-6
Da semeadura e da colheita, o povo aprende que uma  situação nova de prosperidade e alegria se atinge através da tristeza e sofrimentos na luta.
128(127)
Oração em estilo sapiencial sobre a felicidade do justo.
1-4
Temer a Deus consiste em reconhecer que só ele é Deus, e o homem não é Deus. Daí nasce a obediência à vontade de Deus, que abençoa e ensina o caminho da vida: trabalho honesto, amor matrimonial, paternidade e maternidade que partilham a vida.
5-6
Do ciclo familiar para todo o povo: da cidade da aliança Deus abençoa a todos, criando uma história de paz.
130(129)
Oração de súplica durante a doença grave.
1-4
Uma das coisas inexplicáveis da condição humana é a doença.Os israelitas pensavam que era conseqüência do pecado. Somente o perdão podia trazer a cura.
5-8
A noite é hora de súplica; a resposta de Deus vem pela manhã. Da condição particular de um indivíduo, passa-se para a condição do povo: é Deus quem vai resgatar o povo de todo o seu pecado.
132(131)
Oração celebrando a escolha que Deus fez a família de Davi e da cidade de Jerusalém. As dua têm a função de mediar a aliança entre Deus e o povo.
1-5
Pedido em favor de Davi, visto como modelo de autoridade política: saído do povo, ele lutou pelo povo, e o maior desejo em concretizar a aliança entre Deus e o povo.
6-10
Após suas conquistas, Davi localiza a arca da Aliança e a introduz na cidade.
11-12
O exemplo de Davi se reflete na instituição de uma dinastia real: seus descendentes estarão sempre governando Israel (cf. 2Sm 7).
13-18
Em meio à celebração litúrgica, certamente durante uma festa da cidade. Deus abençoa Jerusalém, relembrando que ele age através do contrato que Davi fizera com o povo: organizar o povo para a partilha e defendê-lo dos inimigos.
137(136)
Súplica dos exilados na Babilônia.
1-2
Em meio à beleza de Babilônia, os exilados estão tristes e nem usam instrumentos para acompanhar suas lamentações.
3-6
Por curiosidade oi ironia, os opressores querem conhecer o folclore dos israelitas. Todavia, como cantar no exílio os cantos que celebram a libertação e a conquista da vida? Tudo isso não passa agora de triste recordação.
7
O dia de Jerusalém foi da catástrofe sob as tropas de Nabucodonosor (586 a.C). Os edomitas, parentes e vizinhos dos israelitas, se uniram aos opressores e se aproveitaram da situação (cf. Abdias).
8-9
Em vez de cantar o seu folclore, os exilados entoam  esta maldição: Feliz quem fizer justiça, destruindo até à raiz a ambição que gera escravidão e morte.
138(137)
Oração de agradecimento, celebrando a experiência do atendimento.
1-3
Não é clara a situação da qual a pessoa foi libertada. O fato de gritar, porém, parece indicar uma situação social.
4-6
A pessoa convida outras a participar da ação de graças. O convite aos reis tem algo de aviso: também eles devem reconhecer que Deus é transcedente, mas está sempre presente, para distinguir entre justos e injustos.
7-8
A experiência passada é agora aplicada a novas situações, onde Deus sempre se manifesta como libertador.
130(129)
Oração de súplica durante doença grave.
1-4
Uma das coisas inexplicáveis na condição humana é a doença. Os israelitas pensavam que ela era conseqüência do pecado. Somente o perdão podia trazer a cura.
5-8
A noite é a hora de súplica; a resposta de Deus vem pela manhã. Da condição particular de um indivíduo, passa-se para a condição de povo: é Deus quem vai resgatar o povo de todo o seu pecado.
144(143)
Súplica do rei para que Deus o ajude na luta contra os inimigos do povo.
1-2
Agradecimento ao Deus que lidera as lutas do povo.
3-8
Para desempenhar sua função de defensor do povo, o rei reconhece as próprias limitações e recorre ao supremo Senhor.
9-11
Confiante no auxílio de Deus, o rei promete a ação de graças.
12-14
O maior pedido da autoridade não é para si mesma, mas para o povo a quem ela serve: prosperidade e partilha, força e coragem.
15
Feliz o povo cuja autoridade política não tenta usurpar o lugar de Deus.
145(144)
Hino de louvor ao Nome e ao amor de Deus, testemunhados na história.
1-2
O louvor ao Nome, revelado no momento da grande libertação, recorda que o Deus vivo é o libertador.
3-7
O louvor é um reconhecimento das obras de Deus realiza na história. Transmitido de geração em geração, esse louvor mantém a fé que constrói a história segundo o projeto de Deus.
8-13a
O centro desse projeto é o amor de Deus criando liberdade e vida. O reino de Deus é o amor partilhado entre todos os homens, para eliminar as divisões e desigualdades.
13b-20
O amor de Deus, porém, age de forma partidária, assumindo a causa dos oprimidos que o invocam e colocando-se contra os opressores.
21
Termina com o convite para que todos reconheçam a santidade do Deus libertador.
146(145)
Hino de louvor, proclamando a fidelidade de Deus, que fundamenta a confiança do povo.
1-2
Uma pessoa convida a comunidade a louvar, confessando sua fé.
3-4
Exortação a não absolutizar a pessoa humana. Também os poderosos têm vida frágil e passageira.
5-6ª
O único a merecer confiança é o Deus vivo, que se aliou com o povo.
6b-10
O motivo central do louvor é a fidelidade ao Deus vivo que age na história, fazendo justiça aos oprimidos e libertando os necessitados. Sua ação, porem, implica também a destruição da justiça. É assim que se constitui o reino de Deus. Jesus fez disso o seu projeto (cf. Lc 4,16-21).
147(146-147)
Hino de louvor ao Deus que liberta e restaura a vida do seu povo.
1: Convite ao louvor
2-3
Motivos fundamentais: a volta do exílio e a reconstrução de Jerusalém.
4-11
Deus é o Senhor do universo, conduzindo o ritmo da natureza . É também o Senhor da história, onde realiza o julgamento para libertar os pobres. Sua exigência é que o povo reconheça como único Deus e confie no seu amor.
12-14
O novo convite é feito aos repatriados, que podem agora habitar tranquilos na cidade.
15-20
Síntese: Deus é o Senhor absoluto do universos e da história, que ele dirige com sua palavra.
149
Hino de louvor celebrando a vitória de Deus e do seu povo.
1-2
O cântico novo é a proclamação da libertação definitiva, que se vai construindo pouco a pouco na história.
3-4
O motivo central é amor de Deus por seu povo, dando a vitória aos pobres.
5-9
Acompanhando o canto, uma encenação com dança e espadas celebra o grande julgamento. A suprema função do povo é proclamar a vitória do seu Deus sobre todos os poderosos deste mundo.